Ora leiam este excelente resumo do jcd no Basfémias:
Um rumor deixou ontem em histeria os apaniguados do antigo primeiro-ministro nas redes sociais: vem aí o TGV.
Tudo nasceu de uma notícia da TVI:
«TGV»: Governo acertou com Bruxelas novo projeto – Obra para linha de alta velocidade que ligará Lisboa a Madrid deverá avançar entre 2014 e 2020.
A notícia era acompanhada de uma entrevista por escrito ao ministro Vitor Gaspar (que aparentemente já não está online) e em que este explicava que o financiamento para o TGV Lisboa-Madrid tinha sido renegociado e que os fundos iriam ser utilizados num novo projeto reformulado e focado nas mercadorias. A leitura era óbvia: o dinheiro que estava reservado para o TGV ia para outras coisas. Além do mais, o Ministro Álvaro esclareceu rapidamente qual era esse projeto: a linha ferroviária de mercadorias Sines-Madrid, em bitola europeia.Não há lugar a grandes interpretações nem confusões, mas mesmo assim, a RTP acompanha a notícia com a luz verde da discórdia: “…horas depois de o ministro das Finanças ter declarado à TVI que negociara com Bruxelas o financiamento da ligação entre Lisboa e Madrid, obtendo nesse processo uma comparticipação europeia superior à que estava prometida ao Governo Sócrates.”
O DN, por sua vez, fez uma maravilha de jornalismo inventivo. Perante a frase de Álvaro Santos Pereira: “não está previsto para o período da atual legislatura qualquer iniciativa por parte do Governo para que o projeto de alta velocidade seja retomado”, ou seja, até 2015.”, escolhem este título: Álvaro Santos Pereira diz que TGV faz-se após 2015.
E o Público, escreve esta notícia absolutamente divertida: Título: vem aí o TGV. Conteúdo: não percebemos bem se é bem um TGV. Último parágrafo: vai-se poupar dinheiro não fazendo o TGV.
Logo na altura, publiquei estes dois tweets.
Metam na cabeça de uma vez por todas: não vai haver TGV nenhum.
Agora vão levar uns dias a falar no TGV até se aperceberem que é de linha de mercadorias que se está a falar.Todos lemos as mesmas fontes, mas como se vê, cada um escreve o que quer ler. Por essa altura já ia alta a festa pá, pelos lados das redes sociais e não parou, apesar de ser claro que não ia haver nenhum TGV. O que mais divertia algumas pessoas era a contradição entre Gaspar e Álvaro. Escreveram-se coisas destas:
João Pinto e Castro: O Passos vai explicar que decidiu construir o TGV para poder exportar comboios carregados de Magalhães.
João Quadros: está visto que o ministro da economia ficou fora do comboio
João Ribeiro (Porta-voz e Secretário Internacional do PS) – Prova que austeridade é escolha ideológica.
Ana Gomes (RT de G_L): A estocada final no cachaço do povaréu tolo que votou Passos será a retoma do TGV. E em breve, do aeroporto. Toma que é para aprender.
José Junqueiro: “O TGV existe para o ministro das Finanças, mas não existe para o ministro da Economia…” e “O governo “apanhou” o TGV … e eu … prenhe de tanto ouvir … já convencido de q era coisa faraónica e socialista … -:))-:))-:))” (já hoje de manhã)
Inês Pedrosa: Começou a refundação do Estado: vem aí o TGV. Ainda bem que não foi uma ideia do Sócrates…E por aí fora. E já esta manhã, vem uma das mais divertidas: “Ana Paula Vitorino aplaude “recuo” do governo sobre o TGV”
E aquele que se engana sempre: “Nicolau Santos estranha regresso do TGV e não se admira que ideia do aeroporto volte.”.Conhecendo a imprensa portuguesa como conheço, podemos esperar nos próximos dias títulos do género:
- Governo volta a recuar: já não vai haver TGV outra vez.
- Trapalhada: Álvaro e Gaspar não se entendem
- Álvaro ganha a Gaspar
- CDS incomodado com regresso de TGV faz governo recuar.
Vale uma aposta?
Diz-se geralmente que muito jornalismo de Portugal é de esquerda.
É uma visão simpática.
Eu diria que não: simplesmente partilham com a esquerda certas características indesejáveis.
E não é hoje o dia em que vou aprofundar quais, se bem que apreciarei eventuais hipóteses dos comentadores.
Jornalismo militante: a formatar a mentalidade do cidadão “tuga” desde 1974.
http://jornalismoassim.blogspot.pt/2013/02/enquanto-o-jornalismo-dormia.html
Não sei o que mais me espanta: se o nosso mau jornalismo travestido de ideologia para encobrir ignorância, quando não má-fé, se as exclamações alarves de uns tantos “políticos” para os quais, pelos vistos, continuam em aberto todos os projetos megalómenos tais como o TGV sem utentes só porque o financiamento estava assegurado, confundindo investimento com despesa. Será que não lhes bastam as auto-estradas sem automóveis, os aeroportos sem aviões, as escolas (Politécnico de Beja) sem alunos e tantos outros e o buraco em que nos meteram?
“Diz-se geralmente que muito jornalismo de Portugal é de esquerda.”
Mais parece tender para o fraudulento do que para a esquerda.
É demasiado mau.
Mais ainda: se o tal comboio custará menos 80% do que o projecto inicial e é mesmo TGV, então a situação é bem mais grave, e de outro foro.
É de esquerda por isso é mau.
Já agora onde é que nos jornais portugueses apareceram as notícias pelas mortes no SNS inglês?
O que interessa é que o Zé entre em panico, fique revoltado, se sinta enganado. Isso é que vende noticias e aumenta audiências!
Certamente não conseguem distinguir um TGV de um Marklin.