Excerto de “Dias Contados” de Alberto Gonçalves (Diário de Notícias)
Numa rua de Urgezes, perto de Guimarães, um sujeito agrediu duas pessoas à facada sem razão aparente. Felizmente, as vítimas escaparam com ferimentos ligeiros, mas fica o aviso: até quando continuaremos a permitir o acesso livre a instrumentos cortantes? Sob a legislação actual, qualquer um, incluindo indivíduos cadastrados, perturbados e, como no episódio em questão, esquizofrénicos, pode entrar num supermercado, no Ikea ou numa loja especializada e sair de lá com um arsenal de facas, x-actos, cutelos, machadinhas, adagas, floretes, gadanhas e navalhas de ponta e mola. E isto sem que lhe seja sequer pedida identificação ou muito menos respeitado um período de espera entre o pedido e a aquisição de facto.
É escusado lembrar que o assunto tem vindo a ser debatido com fervor. Porém, é igualmente escusado notar que o debate está inquinado à partida pela pressão dos lóbis da cutelaria, pela influência dos reaccionários que divulgam a respectiva propaganda nos media e pela tibieza dos políticos, incapazes de um gesto corajoso e decisivo.
Enquanto isso, aumenta a quan-tidade de transeuntes atacados, de donas de casa feridas durante a preparação do jantar, de crianças mutiladas por desleixo. As facas e similares constituem uma ameaça inequívoca ao bem-estar de inocentes. Nada, incluindo a necessidade de cortar a comida, justifica a facilidade com que se compram e se exibem nas cozinhas um utensílio ao serviço do mal. Na China, também neste aspecto um modelo de progresso, o recurso aos pauzinhos tornou quase obsoletos os ataques à punhalada. E por favor poupem-nos ao argumento segundo o qual o perigo reside nas pessoas, não nas armas. É tempo de dizer que, perante o sangue derramado, o argumento não faz sentido. Num mundo civilizado, o único sentido é o da proibição.
Fazer como no caso do cão… Partir as facas…
Os cães têm autonomia, vontade própria, decidem e atacam sózinhos, como foi o caso e ao contrário das facas. Não sabias ou não tens vergonha de fingir que que por ti não sabias, para com isso fazeres demagogia?
Qual será a diferença entre disparar uma ventosidade, uma faca, uma pistola, uma metralhadora ou uma bomba nuclear? A sociedade pode permitir-se tolerar todas estas formas de disparo em meio civil?
Qual a diferença entre “disparar” um corta unhas, um canivete, uma navalha, uma faca, um punhal, um sabre, uma cimitarra? A sociedade pode permitir-se tolerar todas estas formas de disparo em meio civil?
E eu corto bifes com uma 6.35, que comparação ridícula. Uma arma de fogo nunca na vida se pode comparar com um objecto cortante, até porque os objectivos da sua concepção são completamente diferentes ….
Já agora proibir as piscinas onde morrem mais crianças que por disparos de pistola e fundamentalmente acabar com os automóveis que matam centenas por ano. Falta de visão política …
Gostava de ter uma bomba nuclear, para poder utilizar “just in case”… posso? Pronto, estou a exagerar eu sei :)… Então um M1 Abrams, afinal de contas deve ter matado menos de 100 pessoas no mundo inteiro no que vai de ano, nada comparado com as agressivas piscinas!
Também há aquela historia do senhor que achava que a gillette G2 era para pobrezinhos e passou a fazer a barba com uma G3.
O autor do post colocou o «dedo na ferida» (talvez melhor: apunhalou o centro do alvo…), o que se comprova, aliás, por boa parte dos brilhantes comentários acima: se há anseio secreto que cada verdadeiro Tuga acalenta esse será certamente a pulsão de PROIBIR tudo o que pode ser imprevisível e permanece fora do controlo estatal! Proiba-se, pois! É fácil, é barato e, posto que não dê milhões, oferece uma sensação de resolução final, limpinha, de todos os problemas… Só o da ancestral ignorância que é uma forma especial de estupidez tuguesina fica por resolver. Só consigo lembrar-me dos filósofos sociais do tempo soviético-socialista se comparam a esta mentalidade maravilhosa.
Pode-se sempre proibir os cães de morder.
Assim é uma selvejaria.
O governo tem que legislar para acabar com isto.
De caminho podem proibir os gatos de arranhar, os bois de marrar, as abelhas de ferroar…
“… as abelhas de ferroar…” e ainda podemos proibir a esquerda de não usarem convenientemente a massa cinzenta.
> Pode-se sempre proibir os cães de morder.
Chama-se um açaime. No tempo do Salazar era obrigatório para cães em espaços públicos.
A situação actual é óbviamente mais um sucesso dos anti-salazarentos.
Um brilhante sarcasmo que põe a nu o absurdo da típica argumentação politicamente correcta sobre as armas.
Pode-se aplicar tb aos automóveis. O uso destes instrumentos de morte, é responsável pelo holocausto de milhares de pessoas , todos os anos, em todo o mundo.
Para quando a proibição deste tenebroso instrumento? Há que controlar o poderoso lobi dos automóveis.
Quanto ao assunto em si, o absurdo resume-se numa ideia simples:
Para impedir alguns loucos de abusarem de armas, proibem-se os cidadãos cumpridores de terem armas. O que é, mutatis mutandis, como pretender acabar com os roubos, impedido os roubados de guardarem as suas coisas.
A estupidez é um poço sem fundo….
Bom artigo. À que dizer, contudo, que as armas de fogo igualitarizam as pessoas e não é por acaso que surgem na altura em que o «todos os homens nascem iguais» se preparava para dominar a mentalidade europeia. Uma arma de fogo, por exemplo, facilita a tarefa do mau soldado em confronto com o bom soldado. Coisa que o outro tipo de armas tornava mais complicado. Podemos dizer que o nivelamento dos bons com os maus é bom? Porque motivo os Gregos, fortes opositores da igualdade moderna, desprezavam os engenhos técnicos e os achavam coisa de escravos?