O meu artigo publicado hoje no Diário Económico.
“Quem vive de esperanças morre em jejum”. A frase é mais um produto do profícuo talento de Benjamim Franklin para legar ao mundo citações marcantes, mas é também uma forma de descrever a verdadeira força das palavras do Presidente da República quando diz que Portugal deve ser um motivo de esperança.
Portugal, nos discursos das figuras que o representam, vai sempre vivendo de esperanças. E é à custa dos mesmos que vai definhando rumo a uma morte angustiante.
Acontece que Portugal vive sob o marasmo destrutivo de um enorme consenso sobre onde se pode mexer e sobre aquilo que deve ficar intacto. Que faz emagrecer as posses e oportunidades de cada um para permitir que o Estado continue sem fazer uma dieta que o torne mais saudável. Um ‘status quo’ que pouca esperança dá à maioria dos portugueses, mas que os donos do regime querem manter à força.
É por isso que soa a hipocrisia ouvir a Cavaco Silva, um dos maiores responsáveis pela degradação do país, falar de esperança. E se o seu contributo passado nos pesa muito pelo quotidiano estatizante que o mesmo ajudou a construir, a rotina que o mesmo faz questão de seguir directamente de Belém é a mesma, não fosse Cavaco um dos mais proeminentes artistas num País condenado a actores políticos que só sabem interpretar guiões socialistas.
Basta que nos lembremos dele como uma das vozes principais no coro que bradava por equidade nas medidas do governo, quando já era claro que a equidade era uma miragem para quem faz a sua vida no sector privado. Ou contar as vezes em que foi à missa dos crentes mais ferozes do crescimento económico por decreto. Ou no episódio mais recente do envio do Orçamento para o Tribunal Constitucional, não para questionar qualquer aumento fiscal nele contido, mas para por em causa medidas de corte na despesa.
“Esperança” não fica bem na boca de Cavaco Silva. Nem nos discursos que quem nos governa há quase 40 anos. Não há esperança para um país que, arruinado pelo socialismo, propõe que se erradique tudo menos o espirito socialista. Esperança não rima com socialismo.
É complicado explicar isso a um povo que adora Raínhas trajadas de seda, cobertas de jóias a assenar platitudes.