Portugueses que foram trabalhar para países sem impostos
Nos últimos 3 meses abriram mais dois restaurantes portugueses no Dubai. Este fim-de-semana, a Emirates Airlines teve a maior adesão de sempre nas sessões de recrutamento no Porto e Lisboa. A nível pessoal, também posso dizer que a frequência de e-mails que recebo a perguntar por oportunidades nos EAU nunca foi tão alta. A maioria são de desempregados de todas as idades, mas também uma boa parte de pessoas com salário bem acima da média a tentar fugir ao esbulho fiscal que se prepara.
Gosto da referência ao Atlas Shrugged mas CGP vamos lá manter as proporções. Se acha que o Dubai é o contrário das Repúblicas Populares de que Ayn Rand fala, talvez deva pensar duas vezes, ou duzentas. O estado ali é todo-poderoso, muito mais poderoso do que por cá. Impostos baixos, claro, porque não precisa…tanto o petróleo como a conjuntural clarividência do actual senhor feudal, tornam isso desnecessário.
Tudo pode mudar.
Mas claro, estou de acordo que é infinitamente melhor um estado mínimo do que um estado obeso. É por isso que sou um liberal. Mas não um anarquista….
O estado é todo poderoso onde deve ser: na segurança e na defesa. Se há tiques totalitários, claro que há, mas não mais do que em Portugal. No Dubai cada um pode escolher o hospital em que quer ser tratado, a escola em que os seus filhos serão educados e o plano de poupança para a reforma que desejar, se desejar. Quem desejar ser solidário, também pode escolher com quem e quando o quer ser. Não é por acaso que 80% dos residentes, pobres e ricos, o são por opção. Está certo, não pode fazer nudismo na praia, nem comprar cannabis na rua ou álcool no supermercado, mas quanto do seu bem estar depende desses aspectos? É um país seguro onde, apesar das desigualdades, se pode deixar a porta de casa e do carro abertas sem grande receio. Quanto vale em bem-estar essa garantia? Eu não trocaria a liberdade individual de alguns desses países pela democracia ocidental. Aliás, não troco.
Claro que troca. Quando o senhor feudal mudar, a lotaria pode trazer um completamente diferente. A sua liberdade individual sob a tutela de um indivíduo depende apenas da disposição desse indivíduo. A escravatura tb é assim….há bons donos e maus donos.
Aliás, foi sempre essa a contradição insanável da monarquia absoluta.
Eu, pelo meu lado, prefiro viver num sistema onde os direitos individuais são intrínsecos e não meras concessões do príncipe absoluto em funções.
Quantos exemplos quer de sistemas onde o príncipe não é/foi benévolo? Líbia? Iraque? Coreia do Norte? Claro que até aí há quem viva bem, os que estão nas boas graças do príncipe, mas mesmo com um príncipe iluminado e esclarecido, você tema a certeza que queria entregar os seus filhos e netos à lotaria do príncipe que se segue?
O Duvmet não percebeu o meu argumento. É evidente que a democracia cria, em média, melhores regimes. Não é isso que está em discussão. O que está em discussão é se prefere viver numa democracia que o escraviza ou uma ditadura em que é livre. Sabendo que, claro, terá a liberdade de abandonar a ditadura se o senhor feudal mudar.
Prefiro viver no regime que me der mais satisfação e que eu possa, ainda que teoricamente, mudar sem ter de me arriscar a levar um tiro. Não estou a falar de nenhuma democracia concreta ( democracia vista não como rule of the mob, mas sim o estado de direito, etc, etc, enfim, o menu que você sabe), mas do princípio da legitimidade do poder e dos direitos que são meus e não concessões.
A sua questão final é uma especulação. Quem lhe garante que o príncipe o deixa sair, se acordar para aí virado? Que direito você pode invocar contra o seu absoluto arbítrio?
Parece-me tb que o CGP chama democracia a um estado socialista, ou socializante, em que os seus direitos individuais são limitados pelos “direitos sociais”. Mas não é disso que estamos a falar, pois não.
Quanto ao facto de você viver contente numa conjuntura em que o príncipe lhe paga bem e é um tipo esclarecido, o mesmo poderiam dizer os meus dois cães, se falassem. Comem bem, não lhes bato, têm espaço para correrem, fazerem buracos, podem ladrar a quem está de fora, gostam de mim, dorme quentes, e até estão à vontade para responderem ao apelo do instinto de conservação da espécie.
Mas isso sou eu. E se eu acordar mal disposto ou mudarem de dono?
OK, duvmet, concordemos em discordar. Divirta-se nas suas democracias socialistas que eu cá por cá continuarei, como bom cachorrinho que aprentemente sou.
Sem esquecer os indianos e paquistaneses que por lá andam que esses não são cidadãos…
Esses Indianos e Paquistaneses estão lá voluntariamente porque são menos pobres lá do que no seu país de origem. A sua é a típica mentalidade ocidental: mais vale miseráveis longe do que pobres ao perto.
Tive varios familiares meus de origem indiana a viver e trabalhar durante varios anos nos EAU. So sairam quando chegou a altura da reforma. Nenhum se queixou.
Já agora, CGP, o que tem contra a mentalidade ocidental? Não é a sua? Você não é ocidental? Ou afinal é um adepto do Fannon e ainda não nos tinha dito?
“Nenhum se queixou.”
Os meus cães estão comigo há anos e nenhum se queixou. Vivem bem.
Mas são cães, em última análise estão dependentes do meu arbítrio….
Fanon, queria eu dizer…
O que diriamos nos dos emigrantes portugueses que nos anos 50 e 60 do sec passado fugiram (literalmente) de Portugal e foram morar nas bidonvilles e fazer os trabalhos que os franceses desprezavam?
“Os meus cães estão comigo há anos e nenhum se queixou”
Os meus familiares ja se encontrarm todos por ca. E mesmo fora daquele inferno totalitario continuam a falar bem daquilo.
Gente de horizontes reduzidos, certamente.
MN, do que estávamos a falar é da diferença entre um sistema onde os direitos individuais são intrínsecos e outro onde são concessões do senhor feudal em exercício.
Um déspota esclarecido até pode, durante um certo tempo, dirigir um país de forma perfeita. Mas, como disse ao CGP, a monarquia absoluta tem contradições insanáveis. O monarca pode acordar mal disposto ou o monarca seguinte pode ser menos esclarecido. A História está cheia de casos destes, como sabe.
O Dubai é, neste momento, governado por um sheik “esclarecido”. Ok, está tudo bem, andam todos felizes e o país é um sucesso. Mas a sucessão é sempre uma lotaria….e o próprio sheik tenderá, pela natural decadência humana, a abrandar o seu controlo sobre o que acontece no país. E depois, o que acontecerá?
“Está certo, não pode fazer nudismo na praia, nem comprar cannabis na rua ou álcool no supermercado”
Errado. A liberdade económica existente facilmente permite apanhar um avião e, em meia duzia de horas, fazer isso e muito mais!!
PS: Comparando com Portugal, aqui posso despir-me livremente na praia (algumas) mas, sou despido nos bolsos o que poderá impedir a aquisição de outras coisas mesmo que existam abundantemente.
O mesmo que esta a acontecer ao Portugal socialista.
A comparação entre uma monarquia esclarecida e um regime socializante pode ser interessante mas não é disso que estou a falar. Se calhar, se as escolhas fossem apenas essas, talvez preferisse a monarquia absoluta…ao menos é só o poder de um homem .
Mas do que se trata é de comparar democracia constitucional ( direitos individuais, respeito pelas minorias, estado de direito, separação de poderes, etc) com monarquia absoluta.
E enquanto eu vos posso elencar facilmente uma série de contradições na monarquia absoluta, são pouquíssimas as que alguém pode apresentar à democracia. Pode-se facilmente encontrar problemas graves na formalização do principio democrático, neste ou naquele país em particular mas não na ideia em si.
Felizes aqueles que da lei do imposto se vão libertando.
O Dubai não é a única terrinha em que não se paga impostos, há outras bem mais perto e mais de acordo com o modo de vida ocidental.
Mas claro que não se pode ter tudo, mas pode-se sempre ter tudo o que se pode. É uma máxima um bocado mixuruca, eu sei, mas se tem sido aplicada em devido tempo não haveria, ou haveria menos, suspiros por terras longínquas onde não limpam o cotão do bolso do contribuinte.
“Nos últimos 3 meses abriram mais dois restaurantes portugueses no Dubai.”
Se eu puder pedir umas entradas de presunto acompanhadas dum belo tintol, aí sim é português.
Agora coisas mais sérias, essa veia fascista não é fácil de esconder, há uns dias estavam todos excitados porque a polícia bateu e deteu inocentes em Portugal, agora estão aqui em defesa das ditaduras.
O que diria John Galt?
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