Uma das coisas que mais me desespera quando tento debater a situação actual do país e o seu futuro – sim, ainda teimo nestas coisas – é a iliteracia económica dominante, e a facilidade como se ignoram pressupostos de facto básicos, como números e regras de aritmética simples. Em Portugal, e mesmo ao mais alto nível, todo o argumento é válido, não vivêssemos em democracia. Faltam-me as palavras para descrever como me sinto. Diria que é mais ou menos como o apresentador de rádio a tentar conversar com a Anabela de Malhadas. Não anda muito longe disto:
Por favor digam-me que é uma ficção…uma invenção para rir um bocadinho!
Paulo Roxo, infelizmente, se não for verdade neste caso, é verdade todos os dias no nosso debate político, na rua, na televisão, no parlamento, nos jornais. Portugal está cheio de Anabelas das Malhadas, que dizem os maiores disparates com ar cátedro… Estamos cheios disto.
Não é surpreendente, mesmo os menos maus fazem parte desse grupo de pessoas exclusivamente políticas.
No seu mundo nada existe além da política e do amiguismo. Só têm dimensão política.
A recusa de um mínimo de ciência como a aritmética é total.
Bem, isto é nada mais nada menos que o panorama português no que diz respeito a números. E não fica limitado às pessoas mais comuns, o panorama estende-se aos governantes. Quando os nºs dizem que é preciso reduzir custos e que o aumento da colecta por via legislativa já não funciona, não fazem a primeira e insistem na segunda.
Diálogo entre a aritmética e Victor Gaspar:
Aritmética: Então que vamos fazer para resolver estes situação?
Victor Gaspar: Aumentar impostos!
Aritmética: Não funciona, já não consegues receber mais. Que se vai fazer?
Victor Gaspar: Aumentar impostos!
Aritmética: Já te disse que não funciona! Então como vai ser?
Victor Gaspar: Aumentar impostos!
Aritmética: Bem, acho que a comunicação não está a funcionar. Vou-te dar uma dica: Para a soma dar zero e se não consegues colher mais impostos o que tens que fazer?
Victor Gaspar: Aumentar impostos!
Chama-se Victor Gaspar, mas podia ser Pedro Passos Coelho, Anabela de Malhadas, Paulo Portas, ou outro nome qualquer. O que mais há por esse país fora é gente que não percebe nada de números e das inevitabilidades aritméticas.
Concordo, JLeite, para não aumentar impostos teríamos de reduzir drasticamente os custos do Estado. Por exemplo, salários na administração pública, pensões sociais e juros. Sobretudo nestas 3 rubricas. Parece que é inconstitucional. Em Portugal, parece, porém, que a maioria das pessoas pretende sol na eira e chuva no nabal, tipo, poucos impostos e o Estado a garantir um mundo de felicidade e prosperidade.
@Rodrigo Adão da Fonseca :
É bem verdade o que diz, contudo permita-me que sugira que se comece por outros custos que não as pensões (as mais baixas, pelo menos), a saúde, a educação, o ensino, a segurança pública e a justica.
Podia-se começar pela presidência da república que fica mais cara que a monarquia inglesa ou espanhola (eu não sou monárquico), continuar pela assembleia da república, pelos subsídios às empresas, pelas fundações, institutos, observatórios, pelas acumulações de reformas, pelas acumulações de reformas com salários, etc. sendo a ordem quase arbitrária.
Depois de cortar essas coisas que em tempos se chamaram de gorduras do estado então depois, e só depois, cortar onde dói mesmo. Há coisas que têm que ser feitas em primeiro lugar para que outras possam ser mais bem toleradas.
Caro Jleite,
Não sou a favor que se cortem as pensões, sobretudo as mais baixas, mas que se faça um plafonamento, e uma diminuição das contribuições. Até sou a favor da subida das pensões mais baixas, acho uma vergonha que um país que se diz “solidário” e redistributivo tenha grande parte da população com pensões miseráveis. Sou também a favor da extinção radical de tudo o que na Adm. Pública seja acumulações, institutos, observatórios e quejandos. Tenha a noção que isso implica fechar – e mandar muita gente para o desemprego – leia-se, salários, que é para isso que servem esses observatórios e institutos. Por mim, também extinguia sem problema a presidência da república, não serve para nada. Mas não chega. 80% do orçamento serve para prestações sociais e salários, e juros. Não há poupanças sem mexer nestas áreas. Temos de devolver o poder aos cidadãos para decidirem – e pagarem do seu bolso – sobre saúde e educação: mas tal tem de ser acompanhado de uma significativa baixa de impostos.
@Rodrigo Adão da Fonseca:
Realmente não faz sentido que se cortem em reformas de €200 ou mesmo em reformas que sejam inferiores ao salário mínimo. Quando a mandar muita gente para o desemprego, bem, costuma-se dizer que o que arde cura e eu não estou disposto a pagar o acréscimo de impostos para sustentar emprego que é inútil para o bem comum. Constitui um mal comum e portanto há que lhe dar o devido tratamento.
Por outro lado, 20% do orçamento são cerca de €15.6E9 que merecem tratamento prioritário, muito mais que os €4E9 que o governo quer cortar e muito mais ainda do que aquilo que ele espera recolher com o aumento dos impostos, mais ainda que os dois somados. O caminho parece óbvio.
Você Rodrigo é de mais!! Esta de chamar ao Passos Coelho de Anabela disfarçando-lhe a voz não lembra nem à oposição.
Admito que fosse alguém a gozar…
Já agora a nível de pensões:
As baixas são tão baixas que não é possível cortar. Já nas dos senhores juízes…
“80% do orçamento serve para prestações sociais e salários, e juros”
Tem como confirmar estes valores? Será que podia mostrar como chegou a este valor astronómico?
Faço minhas as suas palavras, uma a uma!
O vídeo, embora hilariante, penso que é verídico.
Ela não é um ponto, é estúpida que nem um penedo!
No meio disto tudo, o voto da Sra. D. Anabela de Malhadas, em eleições, vale tanto como o meu….
Percebem-se as vantagens da centralização político/partidária.
@Joshua:
Se forem incluídos os juros, até deve rondar os 90%. Pois se os custos com pensões, subsídios, prestações sociais, salários e outros pagamentos da mesma natureza representam algo como 75% da colecta e os juros são €9E9 (mais de 10% da despesa que é de €78E9), a coisa cúbica. Só não cúbica para quem paga.
Como é que lá se chegou? Bem, vive em portugal (minúscula propositada) há quanto tempo?
Malhadas – Concelho de Miranda do Douro
Locutor: Sidónio Costa
Rádio: Rádio Brigantia – BRAGANÇA
Caro Rodrigo, apesar de achar que é um Egoísta Irremediável (essa iluminada linha do pensamento económico da segunda metade do sec.XX), o comuna que há em mim não podia de estar mais de acordo consigo neste aspecto. Irrita-me profundamente quando as pessoas se indignam e se inflamam por determinadas questões sem saber em concreto a grandeza dos números que as envolvem. Exemplo disso é a frota dos carros do grupo parlamentar do PS. É surpreendente a revolução que nasce de tanta ignorância há volta de uma coisa que é apenas um pintelho no rabo de uma pulga. É verdade que, enquanto comuna, sou contra qualquer tipo de despesismo e ostentação mas, acho sempre que nos devemos concentrar na observação analítica do todo e não apenas do pormenor.
Resta-me dizer-lhe que os números são importantes, mas não são tudo. Há toda uma dimensão humana da vida que o Egoísmo Irremediável se esquece. É verdade que são os números que compram o pão. Mas se comermos o pão sem amor, o pão sabe a merda.
Abraços comunas.
Rodrigo,o comuna que há em mim gostava de falar consigo por outro canal, mais privado. O Rodrigo sabe o que fazer. 🙂