A certeza

O artigo insurgente de hoje no Diário Económico é escrito por mim.

O Governo acredita que a sexta avaliação da ‘troika’ ao programa de ajustamento, e que incide sobre a consolidação orçamental, o sistema financeiro e as reformas estruturais, corra bem. Não seria de esperar outra coisa. Não só porque vem do Governo, mas também porque em nada interessa a quem nos empresta o dinheiro com que pagamos as contas, que se diga agora e em voz alta que estamos a falhar.

Daí que o mais importante desta sexta avaliação seja o início da identificação dos cortes estruturais da despesa, na ordem dos 4 mil milhões de euros, e que o Governo considera indispensáveis para equilibrar o orçamento de Estado. Significa que, em Fevereiro próximo, quando os portugueses começarem a sentir no bolso o enorme aumento dos impostos, o País será informado dos serviços sociais com os quais deixará de contar.

Há dias, Victor Gaspar afirmou serem necessárias décadas para que a dívida pública atinja os 60% do PIB, como previsto no Tratado de Lisboa. Sabendo que esta ronda hoje os 120%, percebemos porquê. Compreendemos o desastre que a ideologia socialista nos impôs nas últimas décadas e o esforço hercúleo que cabe fazer a nível de finanças públicas para sairmos dele. Antevemos ainda como os cortes na despesa serão mais duros que a subida dos impostos. Na verdade, se assim não for, é porque nada se fez e continuaremos
ad aeternum a pagar a dívida.

Posto o assunto nestes termos, o que podemos esperar da sexta avaliação da ‘troika’ é a certeza de mais um duro acordar. Resta saber qual a reacção que vai prevalecer: se a realista que, encarando os factos como eles são, os trabalha, ou se uma postura de ilusão que, por medo de reconhecer onde foi o engano, perpetua o erro. Ou seja, perante a certeza do desafio, o País irá mesmo mudar? Na verdade, a história mostra-nos que o caminho mais fácil de enganar as contas e fazer de conta que tudo está como dantes, é o que tem prevalecido. Em cada certeza há uma dúvida a acompanhar.

Um pensamento sobre “A certeza

  1. Paulo Pereira

    A unica alternativa para a divida actual é o crescimento económico que só se fará com um aumento das exportações e com substituição de importações.

    manter o rumo “austeritário” actual é perder tempo, porque a divida está sempre a aumentar e o PIB a diminuir.

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