Henrique Raposo no Expresso (negritos do autor):
Anda por aí um cartaz que chega a ser cómico na sua ignorância ou demagogia. É um cartaz do BE que diz assim: “cortem na dívida e não nos salários”. Contra esta cara de pau que é sempre protegida pela epiderme esquerdista do jornalismo pátrio, vale a pena reforçar a evidência: a dívida soberana paga os salários da função pública, ou melhor, paga parte desses salários . Os salários são a dívida; não existe um abismo entre dívida e salários, mas sim uma relação de causa-efeito, porque uma boa parte dos salários do funcionalismo dependia do crédito que o Estado obtinha junto dos mercados; em consequência, essa massa salarial depende agora da troika. Cortar na dívida (não emitir?; não pagar a que já foi emitida?) era o mesmo que cortar ainda mais nos salários. Das duas, uma: ou os líderes do BE vivem num daqueles mundos de fantasia infantil com elfs e fadinhas, ou BE está a mentir de propósito.
Para ter um mínimo de coerência, o BE tinha de assumir os efeitos das suas escolhas. E esse caminho de honestidade política até tem duas saídas. Em primeiro lugar, o BE podia assumir a luta contra a dependência do Estado em relação ao crédito/dívida. Ou seja, o “cortem na dívida” devia ter como consequência a defesa ativa de uma coisa simples: o Estado português devia emitir menos dívida nos mercados. Mas, como se sabe, o BE é contra a imposição de um tecto constitucional que limite o endividamento do Estado. A desonestidade é fantástica: de manhã, o BE xinga “a ditadura dos mercados”; à tarde, o mesmo BE reconhece, de forma indirecta, que a sua ideia de governação depende dos mercados da dívida . Em segundo lugar, o BE podia assumir que as suas escolhas conduziriam o país à saída do Euro e à reintrodução do Escudo. Porquê? A segunda saída coerente para o “cortem na dívida” seria o famoso “não pagamos”. Confesso que respeitaria esta escolha do BE. Sucede que, para começo de conversa, o BE não se dá ao respeito, pois vende a ideia de que podemos ter uma coisa e o seu contrário.
diria La Palisse , ou a Troika e o dinheiro que ela nos “dá” (não vejo forma de o poder pagar! ) … ou , sem a Troika e sem o dinheiro que ela nos empresta para podermos pagar os salarios e as pensões .
Talvez fosse esta a solução radical para resolver de vez os problemas deste País (é a terceira vez depois do 25A) . Um verdadeiro Apocalipse .Ou a Morte lenta ou a Morte súbita ???
Portanto, cerca de 22 por cento da despesa do estado é toda a divida. Eu sei que não é o que está no texto, mas parece…
E até parece que os salários são «oblatados» em troco de nada, que os funcionários públicos, na sua imensa maioria, não retribuem com trabalho (uma palavra very underrated, nowadays) os míseros euros que lhes chegam aos bolsos no final de cada mês. E depois, convenhamos, citar o ignorante do Raposito não é propriamente uma boa ideia quando queremos argumentar com algo de válido para a discussão seja do que for.
Se quisermos ser “mauzinhos” podíamos falar do facto de os F.P. não “pagarem efetivamente” impostos diretos. Simplesmente devolvem parte do que o Estado lhes paga…
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