O voto do PSD contra o chamado PEC 4 – que se saberia ir provocar eleições legislativas – só podia ser fundamentado por uma de duas razões, uma boa e outra má. A boa: no governo o PSD pretendia realizar uma reforma do estado que permitisse reduzir despesa e alcançar uma consolidação orçamental e uma acalmia dos leilões de títulos de dívida pública sem aumento de impostos. A má: Pedro Passos Coelho queria ser primeiro-ministro e sabia que se submetesse a mais umas directas enquanto líder da oposição se sujeitava a ser arrasado por um Rui Rio. Como a política orçamental deste governo não tem sido substancialmente diferente da do governo anterior, e as medidas sanitárias que tomou (e as meias medidas, como a ‘reforma’ laboral) foram impostas pelo exterior e seriam feitas de qualquer forma, resta-nos a todos a consolação – de muita utilidade aos empresários cujas empresas vão em catadupa à falência e aos que diariamente perdem o emprego sem grandes perspectivas de outro num curto prazo – de que realizámos o sonho de juventude de Pedro Passos Coelho.
Enfim, era mais ou menos evidente que alguém que teve o seu percurso alicerçado na política e nos conhecimentos que a política lhe havia trazido (recordemos as memórias de Helena Roseta da proposta que diz lhe ter feito Miguel Relvas para beneficiar a empresa onde trabalhava Passos Coelho) não iria destruir o que possibilitou a sua história de vida. No entanto, até eu pensei que PPC iria mudar alguma coisa para tudo ficar na mesma. Nem isso.
A questão que se coloca, agora: o que vai fazer o CDS? Vai manter-se firme e não aceitar novo aumento de impostos? (E, de caminho, honrar os votos que lhe entregou o eleitorado – e um eleitorado urbano e dinâmico.) Ou vai revelar que é um partido que acima de tudo pretende satisfazer também as suas clientelas nas breves alturas em que o PSD vencer eleições ao PS sem maioria absoluta? Este é o momento da verdade para o CDS. E, provavelmente, o momento em que pode criar algo de verdadeiramente novo na política portuguesa – recusar a inevitabilidade do aumento do estatismo e do saque crescente aos contribuintes – ou o momento em que pode tornar-se oficialmente Os Verdes do PSD.
http://economico.sapo.pt/noticias/freitas-do-amaral-defende-imposto-especial-para-ricos_151204.html
Bom post, boa análise. No entanto, não deposito nenhuma confiança CDS. Basta ver que, desde que entrou para o governo com o PSD, o CDS tem sido uma força mais em prol do status quo do que a favor de reformas a sério. Nas pastas que controla (segurança social, ambiente, agricultura e ordenamento do território), isso tem sido por demais evidente. Até é possível que o CDS faça oposição ao aumento de impostos. Mas estará preparado para sugerir cortes a sério que compensem do lado da despesa? Cortes a sério e reformas significa desagradar às clientelas. Pelo contrário, aumentos de impostos significa diluir o sacrifício por todos (ou melhor, pela classe de gebte que produz alguma coisa no país). Veremos o que acontece…
Os cortes que o CDS deve propor são cortes no Estado Não Social e não no Estado Social.
Existem muitos cortes a fazer no Estado Não Social, como a eliminação de dezenas de entidades públicas e milhares de chefias.
««A questão que se coloca, agora: o que vai fazer o CDS?»»
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Essa é fácil: o CDS tentará passar a ideia que é contra o aumento de impostos, contra despedimentos, contra cortes de salários, a favor do aumento de subsídios, contra os despedimentos, a favor da descida do défice, pela redução da dívida, por menos sacrifícios etc etc
O CDS pode também explicar ao Passos e ao Gaspar um bocadinho de macroeconomia , mostrando que é impossivel ter um deficit abaixo dos 5,5% ou 6% , e que os mercados preferem crescimento para reduzir o racio da divida do que recessão permanente.
Era um grande serviço ao país que o CDS faria ensinando o PSD os porquês da vida do capitalismo.
Paulo Pereira, porque é que é impossível ter um défice abaixo dos 5,5%? E já agora, como é que se decreta o crescimento? Consagrando o crescimento económico na Constituição? Eu (que não sou ninguém), digo: é possível e é reduzir o défice até níveis de sustentabilidade, e caminhar aos poucos para uma situação de superavit. Basta que o estado gaste abaixo da receita, tal como todos nós fazemos (ou procuramos fazer) na nossas casas.
“O CDS pode também explicar ao Passos e ao Gaspar um bocadinho de macroeconomia , mostrando que é impossivel ter um deficit abaixo dos 5,5% ou 6% , e que os mercados preferem crescimento para reduzir o racio da divida do que recessão permanente.”
É vigarice ou loucura cega FelipeBS, Paulo Pereira é só mais um Keynesiano obcecado pelo papel moeda, para pessoas assim basta haver dinheiro para haver crescimento apesar de a história não só da Europa como do mundo estar cheia de exemplos que o dinheiro não trás por si só crescimento, até basta olhar a última década recessiva portuguesa ou muitos países com riquezas naturais..
Sócrates injectou 90 mil milhões de euros na economia portuguesa com nova dívida, isto só em 4 anos. Onde está o crescimento que permita pagar esses 90 mil milhões?
Não existe porque o problema não é dinheiro, mas a gente obcecada pela finança: dos bancos centrais ao mero comunista cheio de teorias da conspiração sobre os bancos pensam que o dinheiro que cria crescimento apesar de inúmeras provas em contrário.
Caramba!! será tão difícil perceber o conceito de “ir ao pote”?
E já agora,também alguém alguma vez pensou que com esta crise não seria necessário aumentar impostos?
Cada vez percebo menos esta rapaziada que acredita nos “amanhãs que cantam”…
Filipe BS,
É impossivel porque as receitas fiscais baixam com a descida do PIB, como se vê !
Como a economia privada tem crédito bruto na ordem dos 200% do PIB , o sector privado é fortemente pro-ciclico nas recessões.
Basta ler um livro de um famoso economista publicado em 1936 que ele explica.
Outras hipotese é pegar no livro de Schumpeter de 1911 e deduzir o que se passa numa recessão em vez de numa expansão.
Umas licões de macroeconomia são essenciais para quem tentar dirigir um país , não acha ?
O economista
Em 1936 o peso do estado britânico na economia britânica não era bem os mais de 50% como é em Portugal actualmente… Isto sem levantar outras questões sobre as teorias de Keynes.
Maria João Marques,
Por maioria de razão , se o peso do estado na economia é maior, então mais necessidade existe de promover o crescimento do PIB quando se corta na despesa.
É ao contrário do que afirma.
O corte na despesa é por si só um incentivo ao aumento da produção, visto que se libertam recursos afectos ao estado (e, invitavelmente, mal geridos e mal alocados) para as actividades privadas.
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