Os meus 0.02€

Perdoem-me qualquer falta de bagagem para me estar a meter aqui nesta discussão mas não consigo deixar de partilhar a minha visão pragmática sobre o assunto (e até um pouco de advogado do diabo).

1)       A Europa é um continente com uma ampla e rica história. Serão inúmeros os episódios em que os povos europeus entraram em contacto com os outros, seja através desde o comércio mediterrânico, às incursões militares por todo o globo um pouco passando pelas descobertas desde o Novo Mundo à Asia e claro não deixando passar as recorrentes vagas migratórias com origem na Europa. Tem portanto a Europa uma longa tradição de contacto com outras culturas, esta tradição é tão longa que eu interrogo-me se não fará parte da própria cultura europeia a integração e assimilação que faz das restantes culturas com que entra em contacto.

2)      A forma como cumprimentamos alguém mostra de facto uma relação de poder e por isso trazer para aqui casos de como as coisas se passam na esfera privada terão se calhar uma relevância menor ao que é sugerido. Se um empresário português quer fazer um negócio com um chinês é natural que se desloque à China e que respeite os costumes de lá se quiser que o negócio chegue bom porto, é até provável que o chinês tenha 300 potenciais parceiros ocidentais que possa escolher e que se possa dar ao luxo de os escolher através de critérios como a forma que alguém segura na chávena de chá, já o ocidental não se pode dar a esse luxo e é portanto normal que se preocupe com os detalhes da chávena. Mas certamente se encontrarão casos em que será o ocidental que está em posição de superioridade negocial e que se vê outras culturas a tentarem agradar à nossa na perspectiva de conduzir os negócios de forma favorável.

3)      No caso concreto dos jogos olímpicos trata-se de uma festa internacional em que se está a fazer uma tempestade num copo de água e a fazer comparações desproporcionadas (e.g. referir apedrejamentos públicos). Que eu saiba não foi violada nem ameaçada a integridade física ou propriedade privada de ninguém neste episódio. E como não faço questão de ver homens a beijarem-se quando o Dubai organizar uns olímpicos até agradeço a forma como o episódio foi conduzido com bom senso de ambas as partes.

12 pensamentos sobre “Os meus 0.02€

  1. Aladin

    Nop.
    Tempestade num copo de água é a recusa do iraniano em ser cortês. Inverter os termos é paternalismo. É reconhecer que a sensatez e o sentido das proporções só é exigível a nós e não a povos que se portam como crianças mimadas.

    Esta situação faz-me lembrar um Cmdt de uma fragata portuguesa, ao largo da Somália que contou, orgulhoso, a seguinte história.
    Aproximando-se uma embarcação, a oficial na ponte pediu que se identificasse.
    Do outro lado rsponderam-lhe que só falariam com um homem ( o barco era de uns árabes) . E o cmdt da fragata, todo pressuroso, todo sensível à diferença, afastou a oficial e meteu lá um homem, para que o muçulmano se dignasse responder.
    Ou seja, estamos prontos a abdicar daquilo que somos em função de caprichos do “outro”.
    E ainda nos orgulhamos disso…

  2. CN

    E é uma falta de cortesia os iranianos aceitarem com mal-disposição estarem ladeados por 2 países invadidos e ocupados com dezenas de bases perto das suas fronteiras e verem diariamente políticos e analistas e pedirem para serem bombardeados e estarem sobre sanções económicas acentuadas, que foram sempre o prelúdio para intervenção militar, e apesar de não terem marinha nem aviação. E apesar de terem um sistema político mais aberto que muitos amigos da região.

    Uns sensíveis, é o que são por não serem corteses indo contra a sua tradição e costume para agradar os outros.

  3. Maria João Marques

    Nuno, já valeu a pena pôr toda a gente a opinar 🙂 Mas não posso deixar de te notar que o ‘bom senso’ não foi nenhum compromisso entre ambas as partes, foi a aceitação da imposição iraniana. E também é com base no bom senso (na mesma linha) que é feita toda a capitulação que eu enumerei num post anterior.

  4. Aladin

    “E apesar de terem um sistema político mais aberto”

    O CN, claramente, vive num universo paralelo e invertido. Aquele em que os bons são os maus e os maus são os bons. E, a propósito de um despropósito, trata de bolçar, descaradamente, o estendal da vitimização.
    Não sei como é lá no universo paralelo mas, do lado de cá do espelho, o Irão dos aiatolas é um estado dirigido por clérigos fanáticos, que financia, arma e determina a acção de movimentos terroristas, que promove atentados terroristas em vários países, que ameaça e destruição e aniquilação países vizinhos, etc.

    Um pit bull desde quilate, fazer-se de vítima devia fazer corar de vergonha.
    Haver por aqui CN que engolem esta paródia sem mastigar e fazem deles as dores de corno, já é do domínio da patologia.
    Volta Freud, estás perdoado.
    O Freud não, carago, era judeu e posso imaginar que no universo paralelo do CN, o judeu seja mais um dos nomes da Besta.

  5. CN

    PS: esqueci-me de referir que no universo paralelo os ingleses (em conjunto com os americanos) depuseram por golpe de estado organizado pelos serviços de inteligência, um presidente iraniano eleito apenas porque iria nacionalizar a industria petrolífera – que foi o que os próprios inglese fizeram a seguir á WWII – para colocar um déspota ocidentalizado que a seu tempo acabou a incentivar o surgimento de uma oposição mais radical e ortodoxa.

  6. Aladin

    Sim CN, e Hammurabi fez não sei o quê, e a Eva enganou o Adão, e os dinossauros fizeram não sei o quê aos mamíferos.

    E como relação de causa-efeito, se o galo canta e o sol nasce, a culpa é do galo.

    Não há pachorra!

  7. Aladin

    Ah, e se calhar, aquela coisa de Leónidas ter atrasado o Xerxes nas Termópilas, tb tem a ver com a coisa….
    Pronto, a culpa é dos espartanos…

  8. CN

    PS: Esqueci-me de referir que em 1988 um míssil americano deitou abaixo uma avião iraniano civil em território iraniano provocando 290 mortos?

  9. Aladin

    O seu problema, CN, é que a sua memória é do tipo cherry pick. Daquelas perfeitamente capazes de se lembrar apenas do que lhe convém, para tentar racionalizar a perversãozita.
    Sim, porque tem de concordar que vir para aqui defender a virtude de um estado teocrático que até o odeia a si e aos que são como você, isto para além daquilo que se sabe e é do domínio público, remete para aquele outro austríaco, von Masoch, ou lá como se chamava.
    Há um qualquer parafuso que funciona mal, aí na caixinha dos pirolitos. A culpa não é sua, obviamente, mas o 1º passo para o tratamento é reconhecer a doença…

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