A mais recente ficção europeia é: “temos de separar o risco bancário do risco soberano”, i.e. os resgates bancários não devem aparecer nas contas públicas. Em Espanha, o resgate da banca não deve aparecer no Orçamento do Estado ou na dívida pública. Em vez disso, o agente do resgate deverá ser o Mecanismo Europeu de Estabilidade.
Ponto de ordem à mesa: o Mecanismo Europeu de Estabilidade é um fundo construído com contribuições dos estados que nele participam; logo, a conclusão é simples: não há separação de risco bancário e risco soberano; há passagem de risco bancário para risco soberano de outros países. Nós, por exemplo, enquanto contribuintes portugueses, temos uma proporção de interesse (segundo julgo) de 2%; os contribuintes alemães têm uma proporção de interesse de quase 30%. Não admira que não gostem muito da ideia. E eu também não gosto de me ver envolvido (nem que seja marginalmente) na salvação da banca espanhola sem poder impor condições. Foi isto que foi-não-foi-será-não-será aprovado na última cimeira europeia. Não parece grande coisa.
Esta “união bancária” com resgates directos aos bancos não passa de um expediente para fazer a mutualização da dívida dos Estados.
Nada impede que um governo encha de dívida pública os bancos do seu país à custa dos depositantes, e depois obrigue os outros países a salvá-los.
Sócrates adiou desta forma o resgate de Portugal por um ano.