Parece que as cimeiras europeias são mais uma questão de spin do que de substância. Quanto mais horas passam sobre os eventos menos se percebe o que efectivamente aconteceu.
O spin dos italianos e espanhóis (com Hollande em background vocal) é de que alcançaram tudo o que queriam:
A banca (em geral, e a espanhola em particular, agora) será recapitalizada directamente pelo Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE). Embora o MEE ainda não exista, com quase absoluta probabilidade (a menos que o parlamento alemão decida surpreender) passará a existir dentro de dias. Mas há aqui um pequeno problema: a decisão da cimeira é de que o MEE possa recapitalizar directamente a banca, mas só quando o BCE assumir funções de “supervisão bancária” à escala da zona euro, coisa que só acontecerá (se acontecer) lá para Dezembro. Até lá, a banca espanhola será salva através da famosa “linha de crédito” europeia, que terá de ser reflectida nas contas públicas do Estado central espanhol. Durante pelo menos seis meses será o que existe. Daqui a seis meses não sabemos: ou existirá ou não existirá o mecanismo permitindo retirar o resgate da banca das contas públicas espanholas.
O MEE passará também a ir directamente ao mercado secundário adquirir dívida pública. Qual o pequeno problema aqui? O MEE dispõe de 500 mil milhões de euros para isto, ao qual se tem de descontar aquilo que tiver de usar na banca. Segundo algumas estimativas, o total das necessidades da Espanha e da Itália ascenderá a 2.5 biliões… E ainda é preciso contar com a Grécia, a Irlanda, Portugal, Chipre, a Eslovénia e o mais que aparecer. Não é propriamente um mandato ilimitado.
Já o spin alemão é de que nada mudou: tudo isto será condicionado. Não haverá ajudas sem condições. Que condições? Ninguém sabe. Mas algumas questões parecem óbvias: viu-se ao longo deste tempo que a Espanha queria a Europa a salvar os seus bancos sem lhe impor condições. Provavelmente terá querido o mesmo para o MEE. Não parece que a Alemanha gostasse muito da ideia. Outra questão: a compra de dívida pelo MEE será feita em permanência? Será feita em emergências? Neste último caso, estará associada a condições? E cabe duvidar se alguma vez a Alemanha vai querer o BCE (em vez do Bundesbank) a supervisionar o mercado bancário alemão… Veremos em Dezembro.
Ainda teremos de esgravatar muito no meio deste spin para perceber o que realmente se passou. E provavelmente não passou nada (pelo menos na substância): se o spin alemão é o correcto então está tudo mais ou menos na mesma ou dependente de decisões ulteriores.
Uma coisa é certa: cada cimeira, cada solução improvisada vai transformando cada vez mais a UE numa verdadeira aberração institucional. Um dia destes será tão incompreensível que não queremos ter nada que ver com ela…
É isso mesmo .
Pelo sim pelo nao é melhor comecar a tirar mais valias ao longo dos próximos 15 dias .
Em desespero de causa tentam encostar a Alemanha à parede.
O sr. Hollande diz que só cumpre os compromissos com que concordar.
Italianos e Espanhóis exigem dinheiro sem condições.
A Irlanda faz saber que se os bancos espanhóis forem salvos directamente pela UE, quer o mesmo tratamento retroactivamente.
A Grécia diz que está à espera para renegociar o que já foi negociado várias vezes.
Ninguém sabe de onde virão todos os biliões com que se intoxicam os média e os eleitores.
Agora vai tudo de férias e em Setembro logo se vê.
Esta balbúrdia só vai terminar quando Alemanha virar a mesa e ameaçar sair do jogo.
De facto. Ou a Alemanha sai, ou anuncia que sai, ou preparam as coisas para colocar a rotativa a funcionar, ao estilo americano e, depois, quem vier a seguir que feche a porta. Nenhuma opção é boa.
No entanto, aqui estamos.
E agora? Não vejo soluções, nem aqui nem em lado nenhum, que não sejam arreigadas em crenças ideológicas mais ou menos impraticáveis ou destituídas de senso (a não ser que, numa aproximação a coisas do princípio do século passado, se aceite uma política de terra queimada de cujas cinzas alguma coisa, não se sabe exactamente o quê, se ergueria), viáveis apenas na cabeça de académicos.
“Uma coisa é certa: cada cimeira, cada solução improvisada vai transformando cada vez mais a UE numa verdadeira aberração institucional. Um dia destes será tão incompreensível que não queremos ter nada que ver com ela…”
E falta muito?…