João José Cardoso resolveu aqui escrever mais do que uma frase sobre o assunto.
Então e o que diz ele?
1. ““O problema da crise actual não é a redução da população empregada” tinha um zero, já que nesse nível não tenho por hábito pontuar a fantasia.”
Esta frase em si não é verdadeira ou falsa. Depende da noção de crise e do horizonte temporal englobado. Sei que para certas pessoas uma receita hoje tem de ter consequências amanhã, mas isso nem sempre assim acontece.
Ou seja, imaginemos que se impõem medidas de austeridade num ano e que, passados 3 anos se aplicam medidas de crescimento. O facto de haver crescimento só nesse momento nada prova, pois pode ser bem o caso de ter sido a austeridade a proporcionar aquele crescimento apesar das medidas de transferência do sector produtivo para o sector não-produtivo entretanto aplicadas.
Ora, se em questões económicas os resultados demoram por vezes anos, em questões demográficas então 2 ou e anos não são nada! E eu – obviamente pensava eu – referia-me à variação durante o período reproduzido no gráfico, durante o qual o valor variou mas manteve-se próximo dos 58%, com uma fase acima durante o período em análise.
Reitero que o problema nestes últimos 50 anos não é a variação (que é próxima de 0) da população empregada. Participação feminina, evolução da pirâmide demográfica e desencorajamento dos desempregados certamente desempenham um papel, mas creio que o problema deve estar noutro lado, como por exemplo em:
– Variações de produtividade (Paradoxo de Solow…)
– Variações de ciclo (Ciclos de Kondratiev, neste caso)
– Efeitos da não-neutralida de Moeda (Contributo de Mises)
Enfim, variáveis que deveria conhecer antes de escrever sobre este assunto e que afectam períodos de tempo como aquele em análise.
2. “É claro que a hipótese é absurda porque nunca colocaria um gráfico destes à frente de quem quer que fosse sem conhecer a sua fonte original e portanto lhe pudesse acrescentar os dados com que foi calculado.”
A hipótese de que o senhor alguma vez construiu séries em E-Views é uma hipótese engraçada. Mas sim, pelo menos espero que cite fontes nas suas aulas.
3. “Esses dados são relevantes precisamente porque aqui se mostra a percentagem de pessoas empregadas nos EUA e não o número absoluto de empregados (ou de desempregados).”
Duh
4. “É que em História (território onde me assiste alguma coisa que o meu negócio não é a Economia) e numa série longa os valores absolutos podem variar.”
Podem? Não sabe que a população dos EUA ainda hoje varia muito?
5. “Em História Económica e Social há que ter em conta a evolução da variável social. Explicando-me melhor: não posso saber, só com este gráfico, se foi calculado tendo em conta:
– a população total dos EUA (o que seria tolo).
– a população em idade activa (não acredito, mas é só uma crença, até porque a idade activa varia ao longo do tempo).
– o universo da população que procura emprego (o mais provável e correcto, que neste caso tem variáveis ao longo deste período de tempo, seja porque mudou a empregabilidade feminina – em 1950 uma grande maioria tinha como tarefa social a reprodução da espécie -, seja porque mudou a própria faixa do que chamamos idade activa).”
Oh meu Deus. Como é possível estar este tempo todo a ler estes posts se nem sequer as 2 primeiras linhas do primeiro post entendeu?
O que está aqui em causa é um rácio entre:
Numerador: População Empregada (em milhões). O dado é do BLS e cifra-se em 140,028.
Denominador: População Total (em milhões). O dado é do BLS e cifra-se em 239,313. – O tal número que seria “tolo”
Como se vê no gráfico, este valor encontra-se agora em 58,5%.
Qualquer pessoa que comente estas variáveis sabe bem onde as procurar. Se não sabia, basta colocar no Google “total employed 2012” e é o 1º resultado.
Para alunos do 12º, eu teria indicado a origem. Para leitores d’O Insurgente, não achei isso necessário. Esta é uma fonte habitual de dados, pelo menos neste blog…
O gráfico era a parte simples. Se não conhecia sequer as variáveis em causa…
As conclusões é que são mais complicadas, e por isso eu publiquei no blog a ver o que diziam os leitores, habitualmente atentos e informados, d’O Insurgente (o que em termos de atenção à escrita é duro, mas tem as suas vantagens).
6. “Essa forma de cálculo faz toda a diferença para se afirmar “comparativamente com os dourados anos 50 e 60, a população empregada cresceu!““.
Certo, certo. Quem nem sequer compreende as variáveis e acha “tolo” usar a variável que na verdade é usada…
Seja como for, espero que agora compreenda que a minha afirmação não era uma tese, era simplesmente uma constatação.
7. “Acresce que o gráfico, googlado, aparece em vários artigos (a começar na apresentação que citou como fonte) como indicador de que os EUA estão em crise, neste caso perante o indicador de emprego, concentrando-se todas as leituras que encontrei no óbvio: nos últimos anos a população empregada nos EUA desceu, e muito. La Palisse seria mesmo capaz de acrescentar: e o número de desempregados aumentou.”
Assume demasiado. A ordem não foi: queria defender o Obama e então procurei um gráfico para justificar uma ideia, mas sim encontrei o gráfico numa apresentação (cujo link está no artigo original), estranhei, e perguntei o porquê aos leitores do blog, pois foi algo que já me deu bons frutos no passado.
Tira sempre assim tantas conclusões sobre quem não conhece?
8. “Posto isto, a minha acusação de analfabetismo é sem dúvida desajustada (embora algum mau emprego da língua portuguesa para aí aponte). Depois de ler a sua resposta à Priscila Rêgo, nomeadamente este brinde: “o artigo da Priscila foi escrito num momento de raiva provocado por se falar em desemprego, o artigo falar em desemprego baixo e em Portugal governar o PSD e não a esquerda radical.” retiro o que disse: não é analfabetismo, é cegueira ideológica pura e dura. Não é nada que não me aconteça, mas eu sou mesmo da esquerda radical.”
Continuo a achar que a Priscila escreveu aquilo sem cabeça fria: como colega da FEP ela podia ter feito melhor…
Quanto ao João José Cardoso… Bem, se é um professor de história do secundário, não posso pedir que conheça contributos como os de Solow, Kondratiev ou Mises, não é? Por isso, só lhe peço o seguinte: antes de comentar este tipo de tópicos, pelo menos faça um esforço por conhecer as variáveis para ler o post e compreendê-lo. Se quiser acrescentar conhecimento, leia aqueles e outros autores ou então abstenha-se de escrever trivialidades ou de ser ofensivo.
É conhecido que nas recessoes ou expansões fracas a produtividade cresce mais do que em expansões económicas mas fortes .
A razão é que as empresas face à incerteza da procura despedem mais rapidamente do que contratam.
A pobreza do ENSINO público é essa: desconhecem todo o mapa das artérias das ideias. Um miúdo do secundário nunca ouvirá falar de Mises ou Burke, ou Hayek…porque o ENSINO está formatado …ao Estado que temos, i e, formado no Súxial-Cál-Quer-Coixinha…
“É conhecido que nas recessoes ou expansões fracas a produtividade cresce mais do que em expansões económicas mas fortes . A razão é que as empresas face à incerteza da procura despedem mais rapidamente do que contratam.”
Não é só isso. Quando o desemprego sobe o mais provável é recair sobre os de menor produtividade (muitos deles vítimas de estarem no sector errado… típico das distorções das bolhas), assim também por causa disso, a produtividade da população empregada sobe.
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