O meu artigo de hoje para o jornal i.
Círculos uninominais
Na semana passada referi a inexistência em Portugal de políticos que defendam os interesses dos cidadãos contra o estado. Tendo a carga fiscal aumentado nos últimos 20 anos, não deixa de ser curioso que nenhum político tenha visto aqui um terreno fértil para conseguir um eleitorado que lhe dê sustentação política e, quem sabe, uma forte influência nos corredores do poder.
Uma das possíveis explicações para tal está na inexistência de círculos uninominais para a eleição dos deputados. Ao invés de votarmos no deputado representativo da nossa zona de residência, no dia das eleições é-nos apresentada uma lista de homens e mulheres que desconhecemos por completo. A cruz que colocamos no boletim de voto torna-se um autêntico tiro no escuro, não sendo de estranhar que os governos decidam depois ao contrário do que prometeram na campanha eleitoral. Não havendo quem o fiscalize como devia no parlamento, resta à população aguardar o fim do mandato legislativo para, uma vez mais, votar em quem nunca viu e de quem nada ouviu.
O problema é muito grave, não só pelas consequências já referidas, como também pelos motivos que levam a que (ainda) assim seja: uma classe política educada nos aparelhos dos partidos e dos quais não se consegue, nem quer, afastar. Bem analisado o fenómeno, ele tem muito que ver com a cultura do país. Na verdade, uma sociedade que só sabe viver à sombra do Estado acaba dirigida por políticos que só conseguem progredir na sombra dos partidos.
Excelente texto André. Só faltou referir que para além de ilustres desconhecidos, os partidos dão-se ainda ao luxo de rodar os seus delegados na AR durante as legislaturas, fazendo com que na prática cada legislatura possa ter 300 ou 400 deputados (e não os 230 originalmente eleitos), sem que ao comum dos mortais seja dado qualquer controlo sobre essa rotatividade supostamente representativa…
Muito bem , o sistema actual já deu mais que provas que é ineficaz.
Também seria bom que os portugueses não votassem sempre no PSD e no PS desde há 35 anos.
Muito bem!
A única forma de responsabilização política!