Estado terminal, de Alberto Gonçalves.
“José Saramago dizia que escrevia para desassossegar. Nós estamos aqui para desassossegar também.” As palavras são de Pilar del Río, que não é uma actriz de telenovelas venezuelanas mas a “presidenta” (não se riam) da Fundação que, a expensas do património público, a Câmara de Lisboa cedeu ao escritor. É plausível que o tal desassossego, pelo menos o dos cidadãos impotentes, venha daí.
Mas não só. Eu sinto-me um nadinha desassossegado quando se presta tamanha vassalagem a uma personalidade conhecida por reverenciar ditaduras e, sempre que possível, aplicar os métodos das ditaduras aos infiéis que o rodeavam (ver por exemplo o ilustre currículo de saneamentos promovidos pelo artista enquanto jovem serviçal do PREC). Uma coisa é uns escandinavos anónimos darem ao sr. Saramago o Nobel, outra é o Estado português dar à memória do sr. Saramago e à viúva do sr. Saramago a Casa dos Bicos.
Ao que li na internet, alguns surpreenderam-se com o facto de os bilhetes de entrada na Fundação serem pagos, uma cedência ao vil comércio trivial em quem defendia a partilha mas não partilhou os direitos de autor nem o milhão do Nobel. A mim surpreendeu-me a existência de gente interessada em contemplar, mesmo de borla, o espólio do sr. Saramago e, a título de brinde (no terceiro andar), a alegada biblioteca do seu amigo Vasco Gonçalves, outro saudoso combatente contra a liberdade. Espero que os três livros caibam.
“não partilhou os direitos de autor nem o milhão do Nobel”
Não? Por acaso até partilhou… é que apesar de residir em Espanha pagou sempre os seus impostos em Portugal, para grande desgosto do fisco espanhol que o tentou evitar…
no artigo desta semana o que eu gostei mais foi da parte sobre o jagunço do presidente do FCP. foi pena não terem destacado essa parte.
Em Portugal desde que se perdeu o vergonha e o sentido do ridiculo é assim.Já cheira mal,aliás já cheirava há muito.
Ultimamente ja entendo melhor e porque o Pessoa também andava case sempre muito desassossegado. Quando olhava e via a materia humana que há por lá…
A vossa sorte é que, mesmo assim, ainda há alguém mais pequenino do que vocês. Refiro-me, claro, ao Monstro do Bolo Rei de Boliqueime.