Felicita-se João Miranda por afinal ver a necessidade da descida da despesa pública, mas permanecem excessivas confusões. Indo também por pontos:
1. O estado não andou anos a procurar bens não-transaccionáveis. Andou anos a produzir bens não-transaccionáveis, o que é inteiramente diferente. De resto uma das críticas que se ouvia a esta política era precisamente a de usar bens tão transaccionáveis que vinham transaccionados de países estrangeiros (muita da tecnologia do TGV, por exemplo) e não beneficiava as empresas portuguesas.
2. Por que diabo a procura privada que existiria se cessasse de haver transferência de recursos para a procura pública deveria ter a mesma estrutura do que a cessante procura pública?!!! E de facto, quem por exemplo constrói auto-estradas nunca, jamais poderia, por exemplo, passar a construir edifícios de escritórios ou novos condomínios que as empresas e as famílias passariam a poder adquirir com o aumento do seu rendimento disponível. Não: obviamente, as empresas de construção, uma vez perdido o negócio das auto-estradas, escolheriam dedicar-se à venda de sapatos no Magrebe ou de escovas de dentes no Ruanda. (Mais uma vez: os agentes económicos precisam dos palpites de João Miranda e de António Borges para saberem orientar-se). Ah, e eu, ao contrário de João Miranda, também faço questão de não saber quanto tempo levam os mercados a ajustarem.
3. Chegando ao salário de equilíbrio e à afectação de recursos aos sectores transaccionáveis e não-transaccionáveis, lembro-me de um texto de César das Neves de há muitos anos em que propunha um juramento para os ministros que rezava mais ou menos assim (cito de memória): ‘juro não saber o preço justo da gasolina, juro não saber o valor justo das rendas,…’. Com os equilíbrios passa-se a mesma coisa. Os salários têm descido sem necessitarem de iluminados a descobrir a pólvora e descerão tanto quanto for necessário e nas actividades em que for necessário. Quanto aos transaccionáveis, ganhem juízo e deixem as empresas surgirem e prosperarem que, ganhando traquejo, algumas dessas inevitavelmente acabarão por se tornarem empresas exportadoras. A exportação e o investimento em bens transaccionáveis são mais umas coisas que não acontecem por decreto.
4. Esta conversa, claro, não tem absolutamente nada a ver com o meu ponto inicial: o de colocar o problema grave da falta de produtividade portuguesa na absorção de recursos pelo estado e noutras aleivosias estatais e não nos salários.
Eu candidato-me a padrinho da Maria João que, sendo uma senhora tem o direito a escolher as armas 🙂
Aconselho obus 155mm ou Magnum 44 🙂 O João que arranje um padrinho 🙂
Felicita-se a Maria João Marques por andar a ler os posts antigos do João Miranda e verificar que ele defende a descida da despesa pública. É no entanto estranho que julgue que o João alguma vez defendeu o contrário. Parece é que (só agora?) a Maria João Marques começa a dizer o que o João Miranda já anda a dizer há muito tempo.
(a propósito, não parece que as empresas de construção, há falta de novas auto-estradas, estejam a construir mais edifícios de escritórios ou condomínios)
E, Helder, se a Maria João Marques escolher a honestidade intelectual como arma, alguém vai ter que a fornecer e ensinar a Maria João a usá-la.
JM – Se o Estado cria durante anos procura artificial e se essa procura é dirigida a bens não transaccionáveis
MJ – 1. O estado não andou anos a procurar bens não-transaccionáveis. Andou anos a produzir bens não-transaccionáveis
António, não entendo bem o teu comentário, mas é evidente que as auto-estradas construídas não são transaccionáveis; já o serviço de construir auto-estradas (que foi o que o estado procurou) é um bem-transaccionável; qualquer empresa construtora portuguesa ou estrangeira pode construir auto-estradas num país que não o seu. Actualmente praticamente tudo é transaccionável.
Já repararam que as exportações para a U.E. estagnaram ?
Onde é que a baixa de salários contribui para o aumento das exportações para a U.E. ?
está falsificada mais uma vez (pela milésima vez) a tese da baixa dos salários e continuam a bater na tecla.
A competitividade tem a ver com inovação continua e economias de escala, já o Adam Smith sabia isso !!!