Fisco e Temeridades

Em Portugal nunca tivemos a fase de : “Liberdade é quando o Estado teme os cidadãos e os cidadãos não temem o Estado.

Aqui passamos logo para o “Quem não deve, não teme”. Ou seja, livrem-se de dever ao fisco.

Estávamos a passar uma fase de aperto, em que quem deva o que quer que seja até na estrada podia perder o carro.

Mas agora estamos a entrar numa nova fase: “Se acharmos que tem valor a mais para o poder negocial que tem, tema”.

Neste estado cada vez mais ideologicamente socialista, o dinheiro não tem valor.
Se comprou mas o Estado acha que “não podia” pois não tem “posição” para isso, o Estado “corrige” essa “situação injusta”.
Se teve um bónus excessivo, há que cobrar um imposto extraordinário.
Se tem lucros supra-normais, há que taxar esses lucros e fixar preços.
Se as rendas acordadas não são justas, há que produzir uma nova Lei do Arrendamento.
Se o juro oferecido é muito alto, há que penalizar quem o ofereça.
Se o preço exigido é alto, há que destruir esse poder de mercado.
Se o preço é baixo, há que exigir o fim dos preços predatórios.
Se o preço é o mesmo, há que estudar o cartel.

Hoje em muitos sectores não vale a pena estudar formas de melhorar o preço.
Mais vale contratar Relações Públicas para justificar as nossas práticas e diabolizar as da concorrência.

Numa Economia de Mercado, vale o dinheiro e o mecanismo de preços.
Numa Economia Socialista vale o poder de pressão e de corrupção.

É clara a direcção em que nos dirigimos.

15 pensamentos sobre “Fisco e Temeridades

  1. tric

    “Numa Economia de Mercado, vale o dinheiro e o mecanismo de preços.
    Numa Economia Socialista vale o poder de pressão e de corrupção.”
    .
    numa ecónomia de mercado vale o dinheiro ( principalmente ) e o mecanismo de preços para exercer pressão e promover a corrupção, logo a ecónomia de mercado é uma ecónomia socialista…

  2. Paulo Pereira

    Uma economia de mercado exige que existam leis e regulamentos que imponham uma economia de mercado.

    O mercado tende a ser distorcido por carteis, corrupção, impostos elevados, preços predatórios, etc.

  3. Ricardo Monteiro

    Concordo com o Gonçalinho: no limite o liberalismo puro é anarquia. O liberalismo é como o comunismo: muito bonito no papel. Mas depois têm de ser aplicados aos seres humanos, com todos os seus defeitos e qualidades. E aí descambam. Completamente.

  4. Ricardo, aconselho “O Caminho para a Servidão” onde Hayek mostra a importancia da Lei como forma de evitar a anarquia e um Estado arbitrário, mantendo o primado da liberdade individual.

  5. Jaques Towakí

    If it moves, tax it. If it keeps moving, regulate it. And if it stops moving, subsidize it.

    ~Ronald Reagan

  6. Jaques Towaki

    Concordo com o Paulo Pereira e o André daí não consigo ser anarquista com os meus pedidos de desculpa novamente a Rothbard. Pessoalmente, perfiro o sistema proposto por Friedman que dá asos ao mercado mas reconhece o papel fundamental do estado como legislador (para estabelecer as regras básicas do jogo), árbito (para mediar os conflitos) e defensor dos direitos dos indivíduos e à sua propriedade. Ainda dá um espaço mínimo, e creio que o Paulo Pereira gostará deste ponto, para alguma intervenção social por forma a proteger quem não tem a capacidade de se defender (os incapacitados mentais ou físicos) ou para salvaguardar uma emergência catastrófica ou económica (a empresa vai subitamente à falência). Mas com uma grande palavra de aviso para certificar que estes mecanismos são minimalistas em dimensão e tempo.

    Isto, pelo menos, é a minha leitura de Friedman.

    Por outro lado, Thoreau deseja o dia em que nem estes mecanismos fossem necessários: “I HEARTILY ACCEPT the motto, — “That government is best which governs least”;(1) and I should like to see it acted up to more rapidly and systematically. Carried out, it finally amounts to this, which also I believe, — “That government is best which governs not at all”; and when men are prepared for it, that will be the kind of government which they will have. Government is at best but an expedient; but most governments are usually, and all governments are sometimes, inexpedient.”

    Mas como este senhor não se limitava a sonhar com os “amanhãs que cantam” (adoro essa experssão) sabia que teriamos que “gramar” os governos e governantes enquanto os homens se iam preparando. Sendo eu também um optimista nato e de gema também penso que um dia será possível…mas enquanto esse dia não chega, sejamos pragmáticos!

  7. Jaques Towaki

    “Numa Economia de Mercado, vale o dinheiro e o mecanismo de preços.”

    E o mérito (i.e. qualidade de produtos/serviços, inovação, capacidade produtiva, capacidade de gestão de recursos materiais, humanos, qualidades pessoais: honestidade, fidignidade, pontualidade, simpatia, empatia, capacidade de comunicação, capacidade de apresentação dos produtos/serviços, capacidade de analisar e antecipar as necessidades do mercado que se pretende servir, etc. etc. etc.)

  8. Jaques Towaki

    “Em Portugal nunca tivemos a fase de : “Liberdade é quando o Estado teme os cidadãos e os cidadãos não temem o Estado.”

    Talvez em vez do D. Sebastião ser o alvo do nosso saudosismo, deviamos ansiar por advir um Thomas Jefferson português!

    Desculpem lá, mas hoje estou inspirado…nem que seja às pinguinhas….quiçá….pinguinhas doces… 🙂

  9. Senhor Silva,
    Permita-me virar a questão ao contrário: Acha mesmo que essa regulamentação vai resolver 1 caso que seja?
    Para mim, vai ser mais uma regra a complicar a vida dos honestos e que depressa será ultrapassada pelos desonestos (se não cumprem a Lei da Propriedade Privada, porque acha que vão cumprir essa?!?).

  10. Jaques Towaki

    Sr Silva,

    Se as leis e regulamentações resolvessem tudo…o mundo seria um paraíso! Será que precisavamos muito mais do que os 10 mandamentos?

    Da minha parte, creito que não me disse ser “contra todo o tipo de regulamentação”; reitero “o papel fundamental do estado como legislador (para estabelecer as regras básicas do jogo), árbito (para mediar os conflitos) e defensor dos direitos dos indivíduos e à sua propriedade.”

    Na minha modesta opinião a regulamentação há que ser mínima, simples e transparente…só assim se pode ver facilmente quem cumpre e quem foge. Daí são os DEZ mandamentos e não os DEZ MIL mandamentos!

    No meio de uma floresta de regulamentação, regras e leis surge o caso Enron. O que fazer? Regulamentar mais…depois Bernie Madoff!!! No meio de tanta regra os malandros e mal intencionados são como peixes na água…ou melhor cobras no pântano…difíceis de ver e conhecedores de onde se esconderem!

  11. Silva

    :: Sr. Ricardo

    Então como se resolve o problema? O preço do cobre não está aos níveis actuais devido a intervencionismos ou keynesianismos, portanto menos estado não vai fazer baixar o preço do cobre. Está ao preço que está pela simples lei da oferta/procura. Portanto, se roubo, posso andar sossegado pois sei que nunca vou ser fiscalizado, mais, como o conteúdo da minha bagageira faz parte da minha privacidade posso levar o que lá quiser. Pergunte aos milhares de proprietários de casas em construção que nos últimos anos viram as cablagens e tubagens desaparecer, com milhares de euros de prejuízo, o que acham da ideia. Concorda que as carripanas atulhadas de cobre que todos os dias se podem ver na estrada possam andar sossegadas?

    :: Sr. Jaques

    Quanto à sua opinião, relativamente ao excesso de leis, estou 100% de acordo. A minha mensagem inicial vai dirigida aos defensores de zero de regulamentação, em que as leis de mercado resolvem tudo. Como se resolve este drama que afeta o património público e privado. Esquecem-se que a coação e roubo também existe na esfera privada…

  12. Jaques Towaki

    Sr Silva,

    Tem toda a razão…ao praticar um crime automaticamente abdico da minha privacidade e liberdade porque também neguei a privacidade, liberdade e propriedade de outrem. O problema reside em saber quem praticou o crime para não punir inocentes deixando os culposos à solta. E isto, no meu ver, é o eterno problema. Daí creio que o mundo não está preparado para a sociedade 100% liberal/liberalizada (leia-se, LIVRE). Talvez nunca estará.

    Para atingirmos um grau superior de liberdade na sociedade tem primeiro que se incutir fortes regras nas crianças, ensinar-lhes a ter consideração pelos outros e respeitar a liberdade dos outros, pois só assim é que a NOSSA liberdade pode ser respeitada. Tem que se incutir um FORTE sentido de responsabilidade que é o outro lado da moeda da liberdade. E isto tem que ser feito MESMO na prática e não só da boca para fora.

    Costumo dizer aos meus alunos que a melhor forma de proteger a MINHA liberdade é proteger a liberdade dos outros!

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