Haveria de chegar o dia em que eu concordaria com o Sérgio Lavos. O que está aqui (neste post) em causa não é apenas se Miguel Relvas ameaçou ou não jornalistas, até porque o facto de ter recebido a SMS do senhor das secretas já era de si suficientemente grave, a meu ver, para causar a sua demissão. O que está realmente em causa é que há uma direita que encarava, automaticamente, as suspeitas contra ministros de esquerda como verdade absoluta e que agora encara, automaticamente, as suspeitas contra ministros de direita – supostamente, claro – como farsa inaceitável. São os mesmos que aplaudiam energeticamente o Sol, quando este passava os fins de semana lançando suspeitas contra Sócrates, os seus ministros, os seus amigos e os seus parentes. Mas são os mesmos que se lançaram como lobos ao Expresso – e agora ao Público, independentemente da falta de credibilidade do mesmo – por este publicar uma manchete em que acusa um Ministro pertencente a uma seita semi-secreta de receber mensagens no seu telemóvel de uma figura chave dos serviços secretos, de estar envolvido no caso.
Quando Sócrates e os seus eram alvo de acusações, a sua demissão, a sua prisão e quem sabe a sua execução sumária eram exigidas, independentemente da existência, ou não, de provas. Já se o mesmo acontecer com este governo, independentemente da existência, ou não, de provas, muitos se debruçarão nos blogs, na imprensa, no facebook e na tv com ínumeros argumentos, contra-acusações e umas quantas teorias da conspiração para justificar tais calúnias. Sim, porque falar mal deste governo é calúnia. Falar mal dos outros é sinal de virtude e bom senso.
Esta é a mesma direita que chamou ladrão e mentiroso a Sócrates quando este meteu o programa eleitoral na gaveta e aumentou brutalmente os impostos. Sim, a mesma que bajula diariamente PPC, que por acaso meteu o programa eleitoral na gaveta e aumentou brutalmente os impostos. É curioso que este Governo tenha pouco com que se orgulhar. Que as suas melhores medidas até hoje sejam alíneas do Programa da Troika, imposto por meia dúzia de estrangeiros, negociado pelo anterior governo e, na sua maior parte, aplicadas com alterações que só acrescentam asneira ao que estava bem recomendado. Que tenhamos ministros como Cristas, que regula e fomenta. Como Paula Teixeira da Cruz, que quer fazer à justiça aquilo que mais de 30 anos de III República ainda não lhe fizeram. Como o Álvaro que, numa situação em que o desemprego aumenta ferozmente, fala em aumentar o salário mínimo. Ou que tem governantes como Fernando Leal da Costa, que vem fazendo pelo Nanny State Tuga o que 4 anos de maioria absoluta PS não conseguiram fazer.
Os leitores devem, provavelmente, já estar fartos desses nomes, mas eu não me canso de os repetir. Já eles permanecem mudos, calados, desviando o olhar. E a ASAE, todos os dias criticada nos tempos de Sócrates, ainda não fechou – mas claro que os “Guantanamos” só são a chaga de quem interessa. O défice mantém-se. A economia vai estando fechada e regulada. O mundo não mudou, meus caros. O mundo continua exactamente igual, quiçá pior em determinados aspectos. Mas o que eu vejo em alguma direita portuguesa é o mesmo a que todos assistiram quando os fãs de Obama facilmente lhe perdoaram os mesmos pecados e alguns piores – que fizeram de Bush o senhor do mal. O país tomba. Devagar, mas tomba. E se ainda não tombou agradeça-se à Troika, não ao governo. Mas eles mudos, calados, desviando o olhar. A direita crítica, irreverente, transformou-se na direita instalada. Os seus pontas de lança transformaram-se em assessores – formais e informais – do governo.
É curiosíssimo que, com o Câmara Corporativa paralizado há quase um mês, comecem a surgir outras Câmaras Corporativas. Com outra cor, nova gerência, mas o mesmo objectivo: apoio cego ao novo governo. E eu nunca acreditei em coincidências.
Act. Tinha-me falhado um ponto importante. Que diria a nossa direita se o caso Pedro Rosa Mendes, em que o autor de uma crónica crítica a uma visita a Angola por parte do Ministro dos Assuntos Parlamentares é convenientemente “afastado”, ocorresse com Jorge Lacão e não com Miguel Relvas ?
Vamos vêr a Direita não Hipocrita do CDS a exigir a demissão do Ministro na Assembleia da Republica…em particular Bloquista Adolfo Mesquita Nunes vai fazer ouvir a sua voz na Assembleia Da Republica sobre este tema !! : )
As Hierarquias militares cristãs que não tomem conta deste país, não…palhaçada total este regime´maçónico-judaico está podre…a Guerra Impresa-Ongoing levado para o interior do sistema politico português …o Jornalistas apelidarem-se como Contra-Poder…Guerras surdas entre lojas maçónicas…e o desemprego a crescer assustadoramente…a ecónomia a ruir…bem como o Euro, palhaçada total ! Hierarquias Militares Cristãs ao Poder !!! regime maçónico-judaico para o lixo…comunicação social para o lixo…Banca-Rota espelha bem o nivel do regime bem como o nível da comunicação social…
Concordamos com tudo menos com a referência a Assunção Cristas.Está a dar os sinais necessários.
Muito Bem.
“Está a dar os sinais necessários”!? Só se for para continuar a destruir mais a economia portuguesa. Que aliás é só isso que cada um dos ministros deste Governo e dos anteriores sabe fazer…
“seita”
O autor tem alguma razão, embora force um pouco as comparações.
Creio que muitos factos podem ser interpretados como semelhantes mas vejamos: uma palmada nas costas, é uma palmada nas costas e contudo pode ser um gesto amigável ou uma agressão.
Se alguém em quem confiamos, faz algo que nos parece estranho, damos o benefício da dúvida. Se quem fizer isso for um aldrabão contumaz, não damos benefício nenhum.
É o que se passa aqui.
Este governo, qualquer governo, não faz aquilo que quer, faz aquilo que deve, pode, e sabe. A politica é a arte do possível. Mas ainda se reconhece a este, de um modo geral, uma intenção de fazer o que deve ser feito.
Ao do Sócrates, já não. O tempo acaba com os estados de graça.
E, na verdade, a direita é muito menos dada ao endeusamento do que a esquerda. A direita que acredita em salvadores da pátria e amanhãs canoros, é residual.
A outra, a maioriatária, é dada ao pragmatismo e à convicção de que a natureza humana é o que é.
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“O autor tem alguma razão, embora force um pouco as comparações.
Creio que muitos factos podem ser interpretados como semelhantes mas vejamos: uma palmada nas costas, é uma palmada nas costas e contudo pode ser um gesto amigável ou uma agressão.
Se alguém em quem confiamos, faz algo que nos parece estranho, damos o benefício da dúvida. Se quem fizer isso for um aldrabão contumaz, não damos benefício nenhum.
É o que se passa aqui.
Este governo, qualquer governo, não faz aquilo que quer, faz aquilo que deve, pode, e sabe. A politica é a arte do possível. Mas ainda se reconhece a este, de um modo geral, uma intenção de fazer o que deve ser feito.”
Aladin: voce é um exemplo daquilo de que o autor do post referiu
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