Lógica da Batata em Português

Os Realizadores exigem dinheiro.
Para quê? Para não fazer nada de jeito, pois quase ninguém (talvez os próprios…) quer ver.
Se fosse bom, teria clientes, daria lucro e não era preciso dar-lhes senhas de sopa. Não é o caso.
E o que é suposto fazer o público Português? Calar e pagar. Não é preciso assistir aos filmes: não merece!
Quem garante a qualidade então? O juíz mais isento possível: o mesmo grupo que pede o apoio.

Meus caros, a diferença entre pedir senhas de sopa (afinal, está em causa passarem fome!) para não fazer nada (pois o que fazem e nada é igual para 99.9% da população) e a versão chic que decidiram exigir é 0 (zero).
Tenham vergonha na cara, vão fazer algo de útil para a sociedade e recebam por o vosso trabalho ter criado valor para alguém. Vão ver como é uma boa sensação.

E se me vierem com: “Ah e tal, eles ganharam prémios” relembro: a lógica mantém-se. Se ganharam prémios, que façam bom uso do valor pecuniário anexo. Se são de prestígio, que tentem agarrar clientes com campanhas de marketing. Se conseguirem, parabéns e que bom para eles (pelas amostras que eu vi, vai demorar até me convencerem a dar dinheiro com vontade). Se não conseguirem, ou os prémios não significam assim tanto ou não souberam aproveitá-los. De qualquer das formas, não venham extorquir dinheiro a um país que nem o tem.

Leituras recomendadas: “E que por vocês todos os realizadores portugueses morreriam à fome.”Uma estranha noção de liberdade…Se o Cinema Português morrer, enterra-se

53 pensamentos sobre “Lógica da Batata em Português

  1. Sérgio Lavos

    Ora aqui está o resumo perfeito do pensamento dos Insurgentes sobre o caso: ignorante (não sabe minimamente do que está a falar: pois quase ninguém (talvez os próprios…) quer ver.”; preconceituoso e basicamente ofensivo contra tanta gente que fez mais pelo nome de Portugal do que os autores deste blogue alguma vez farão, nem que estejam um milhão de anos a receber ordenados pagos pelo Estado português (julgo ser assim que recebm os professores universitários). A indigência neoliberal no seu melhor.

  2. Miguel Noronha

    “tanta gente que fez mais pelo nome de Portugal”
    Eu nunca fui lá muito patriota

  3. Sérgio Lavos

    A cegueira ideológica normalmente leva a que a teoria se sobreponha a qualquer valor subjectivo, por isso não surpreende.

  4. tric

    protecionismo, como no tempo do Estado Novo ! o 25 de Abril arruinou este país por completo…

  5. F

    Isto é apenas uma questão de lata e iniciativa. Uns têm iniciativa e mexem-se, vão lá para fora ou abrem o seu negocio, mudam-se para outras áreas com mais procura, adequam o seu engenho a um nicho de mercado. Os outros têm uma enorme lata e pedem ao estado que lhes dê aquilo que aos outros custa dinheiro e suor, ou é produto dessa conjugação. Nada melhor para Portugal que subsidiar a falta de empreendedorismo. Que tal abrir uma escola gigante só para albergar professores cujos cursos não têm alunos ? Podem-se ensinar uns aos outros e projectar uns filmes nos intervalos.
    Tenho uma curiosidade, depois como é que se justifica o dinheiro investido ? Pelo numero de produções ? Pela audiência ? E se um intelectual fizer 2 e um mais mainstream fizer 10 ? Retira-se o subsidio ao primeiro ? Como é que se avalia a produtividade ?

  6. A Lara

    Por essa ordem de ideias não existiria uma coisa chamada arte ocidental, aquela que se calhar até mesmo um Insurgente consegue apreciar, ou talvez não, no seu quotidiano e nas suas viagens às metrópoles europeias.

  7. berto

    Esta conversa é sempre a mesma e nunca levará a lado nenhum. Quero apenas lembrar que em qualquer país digno desse nome a CULTURA é um instrumento importantíssimo da imagem que esse país dá ao mundo.
    Portugal tem uma má imagem lá fora, por desconhecimento e ignorância, pela falta de divulgação da nossa riqueza histórica, patrimonial e natural. Qualquer país digno desse nome investe em cinema, em teatro, em música, esforça-se
    por promover o que faz bem além fronteiras. E quando digo investe tanto pode ser o estado a fazê-lo como os privados.
    Voltando ao cinema português, é mau? Então porque ganham prémios em festivais, porque é que são comprados por televisões estrangeiras, porque é que são exibidos em alguns circuitos comerciais tão ou mais dominados pela cinematografia anglo-saxónica que nós?
    Li num post anterior que o último filme que o autor tinha visto foi “Cristóvão Colombo, o Enigma” em que adormeceu ao fim de 5 minutos. Meu caro, depois desse filme já umas boas dezenas foram feitos e exibidos, uns melhores outros piores, e a imagem que retém do cinema português é a que lhe ficou desse filme? Quando se emite opinião sobre determinado assunto convém estar bem informado para não cometer argolada.
    Quanto ao teor deste post, quando se diz que os realizadores de cinema não fazem nada porque não acrescentam valor ao seu trabalho, porque ninguém vê esses filmes, está a esquecer-se de um pormenor:
    Experimente fazer um filme com a Soraia Chaves a despir-se de 5 em 5 minutos e vai ver como os recordes de bilheteira são batidos. Só que nem todos os realizadores querem fazer filmes desse género, e estão no seu direito.
    O cinema português não é o melhor do mundo, está longe disso, e nunca conseguirá concorrer em igualdade com o cinema americano que domina a exibição em todo o lado. Mas é o que temos, e quando tem qualidade deve ser incentivado
    e promovido. Pelo estado, pois claro. E pelas TV´s privadas, por exemplo.

  8. Ricardo Monteiro

    O cinema ( e as artes em geral ) está para a direita como a legalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo estava para o Sócratres. Enfim… causas fracturantes. Faz o que eu digo, não faças o que eu faço.

  9. Gerson Ingrês

    Eu sou amante do cinema Europeu e sinceramente, no meu ponto de vista, o cinema Português não me diz grande coisa, pelo menos eu vivi na ideologia que ele me dizia algumas coisas… atenção, eu sou do tipo de pessoas que consegue ver um filme do Manoel de Oliveira e aprecia-lo com o maior dos gostos, mas, ao mesmo tempo não trás nada de novo (tudo bem tem bons planos mas não passa disso). Também já vi “A comédia de Deus” e “As bodas de Deus” do João César Monteiro e também não acrescenta nada para alem de uma grande soneira após 1hora 50minutos de filme.
    Creio que o problema de Portugal está nos argumentos e na má encenação. No entanto eu sugiro uma ideia melhor: Quem não quer “acabar” com o cinema em Portugal que dê donativos aos realizadores (que estão esfomeados), ou então digam ao Paulo Branco para não ficar com todo o dinheiro, pois parece que ele tem o mercado de toda a produção cinematográfica portuguesa.
    Agora pagar mais uma vez com os “meus” impostos…. – Já pagamos poucas coisas neste país de luxo para taramos a ajudar mais um sector em crise.

    Acho que só pelo facto de não gostar do típico filme Português mal encenado não significa nesciamente que não gosto de arte ou de algo considerado artístico…. (a arte vende e não vende pouco – se o cinema português não vende é por alguma razão)

  10. Miguel Noronha

    “A cegueira ideológica normalmente…”
    A extrema-esquerda censura-me por ser anti-patriotico. Esta merece ser guardada num screen shot.

  11. nuno granja

    O único filme português que vi e revi não teve qualquer subsídio (balas & bolinhos).

    Alguns amigos, meus ficam possessos com a minha opinião mas a actividade criativa não deve ser financiada com o dinheiro dos contribuintes. ( os funcionários públicos que conheço também ficam possessos quando lhes recomendo que mudem para o sector público em caso de insatisfação…)

    Sobre a manifestação em frente à AR fiquei com a impressão que esta gente ainda não se apercebeu que o tempo em que sobrava dinheiro acabou. Como diria Vitor Gaspar “não há dinheiro, qual foi a parte que não perceberam?”

  12. rxcorreia

    “a arte vende e não vende pouco – se o cinema português não vende é por alguma razão” Tudo dito.

  13. Ricardo Monteiro

    Nuno Granja: e os reformados, que têm os mesmos cortes da função pública, mudam-se para onde?

  14. Manuel Costa Guimarães

    Caro Sérgio Lavos,

    Já que somos todos ignorantes, por favor explique-nos como deve ser financiada essa muy nobre arte de fazer filmes, sem vir à minha carteira, se for possível, em vez de vociferar sem conteúdo aplicável. Recordo, para o caso de se ter esquecido, que já não temos dinheiro para pôr a cantar um cego.

    Veja lá se a minha teoria resulta: vão pedir um empréstimo, arranjem sponsors privados, trabalhem aos feriados no Pingo Doce, mas deixem de usar o meu dinheiro para pagar coisas que podem ser pagas pelo próprio bolso.
    Não conseguem arranjar dinheiro? Azar do c… Anda meio mundo assim. Ainda não percebeu que a mama acabou?

    Caro Nuno Granja,

    Enorme balas & bolinhos (I e II)!

  15. A Lara

    Já agora, sabem qual o peso das indústria culturais (termo lato, é certo) nas economias dos países da UE? Da Noruega, Austrália ou Brasil? No Reino Unido, embora o actual governo, que não é propriamente socialista, tenha feito cortes nos apoios às artes (como em muitos outros sectores), elas representam quase 3% do PIB, e dão emprego a quase 2 milhões de pessoas. É mau (e ao que parece imoral) investir dinheiros públicos em políticas culturais, defendem os economistas do nosso burgo? Entre a subsidío-dependência, que serve capelinhas, e a defesa do Big Show Sic, que serve as massas, haverá um meio termo, tipo políticas culturais inteligentes. É pena que por cá seja sempre a mesma dicotomia: economistas liberais, que defendem o fim de subsídios à cultura (e, por inerência, o fim dos museus nacionais, das bibliotecas, etc.) e os economistas esquerdistas, que defendem a priori a lógica da subsídio-dependência.

    These are the most recent statistics for the Creative Industries, published December 2011:
    creative industries contributed 2.9% of the UK’s Gross Value Added in 2009, this is an increase from 2.8% in 2008
    1.5 million people are employed in the creative industries or in creative roles in other industries, 5.1% of the UK’s employment
    exports of services by the creative industries accounted for 10.6% of the UK’s exports of services
    there were an estimated 106,700 businesses in the creative industries on the Inter-Departmental Business Register (IDBR) in 2011, this represents 5.1% of all companies on the IDBR

  16. Rui

    Eu até concordo com o comentário do post. Mas também achei giro o comentário do Sérgio Lavos. É que de facto os maiores liberais que conheço de facto trabalham quase todos no sector público ou em indústrias altamente dependentes do mesmo. Não conheço grandes liberais que trabalhem em empresas exportadoras de bens transaccionáveis.

    O autor do post é efectivamente docente universitário? Numa universidade pública? é que de facto isso tira-lhe alguma credibilidade…

  17. PedroS

    ” economistas liberais, que defendem o fim de subsídios à cultura (e, por inerência, o fim dos museus nacionais, das bibliotecas, etc.) ”

    Existe uma diferença enorme entre apoiar aquilo cuja qualidade sobreviveu ao teste do tempo (museus, bibliotecas, cinematecas, orquestras e teatros que apresentem os clássicos) e subsidiar produção cuja qualidade não está ainda comprovada de forma independente. Deixar de subsidiar a produção de cinema não significa deixar de subsidiar a fruição da cultura que nos foi legada.

  18. A Lara

    E, sem querer personalizar, quase que apostaria que os Insurgentes ou as suas famílias não perderam um episódio da “Downtown Abbey”, esse verdadeiro serviço público, financiado alegremente pelos contribuintes britânicos (se as houvesse assim por cá eu também iria querer financiar alegremente um serviço público de televisão e, por esse meio, a divulgação da língua e cultura portuguesas – um serviço que seria bem mais relevante do que aqueles que a CPLP e afins não prestam e fingem prestar, às custas de dinheiros públicos).

  19. Miguel Noronha

    Eu perdi todos. A minha filha mais velha tratou de apagar tudo. De qualquer forma agradeço aos contribuintes britânicos terem-nos subsidiado. Se eles náo se importam é lá com eles.

  20. Miguel Noronha

    “O autor do post é efectivamente docente universitário? Numa universidade pública? é que de facto isso tira-lhe alguma credibilidade…”
    Não percebo porque isso lhe havia de retirar credibildiade mas se isso o sossega posso garantir que não é.

  21. Bons Dias. Vi o seu post e gostaria de acrescentar que o financiamento para o cinema não passa pelo orçamento de estado do país e por isso para o mesmo não contribuem os contribuinetes. Isto é actualmente o orçamento do ICA (instituto que gere os fundos para arte cinematografica) e Cinemateca (que gere o patrimonio filmico português) baseia-se numa taxa que é cobrada aos anunciantes que passam publicidade nos canais de televisão. O governo não abriu concursos este ano enquanto uma nova lei que permitisse a disponibilidade de mais mecanismos de financiamentos, isto é a possibilidade de haver mais taxas sobre empresas que exploram conteudos audiovisuais e que são taxadas em outros paises e em Portugal não o são, essa taxa minima, seria canalizada para o cinema. Estranhamente a lei ficou na gaveta. Lei que cria trabalho, dinamiza sector, traz investimento externo para Portugal. A questão que levanta sobre o tipo de filmes a serem apoiados concordo devia ser mais eclético, mas isso tem a ver com a regulamentação da lei e não com a aprovação da mesma. Em relação à produtividade do cinema e seu lucro, é um pouco como as florestas. Um país precisa de florestas como de cultura. Faz parte de uma politica sustentável de desenvolvimento do país. E países com menos de 20 milhões de habitantes não têm capacidade demográfica de tornar rentável um investimento em cinema mas isso quer dizer que deviam deixar de ter cinema?

    Pandora da Cunha Telles – Produtora de cinema do filme Florbela

  22. Paulo

    Eu acho muito bem que se subsidie o cinema. E as campanhias de dança, as orquestras e demais agrupamentos musicais, os escritores, os pintores, os fotografos, os artesãos… Já chegamos aos 150.000 empregos?

  23. Miguel Noronha

    “Lei que cria trabalho,”
    E os empregos e a riqueza que destruidas com os impostos náo contam?

  24. Miguel Noronha

    “E países com menos de 20 milhões de habitantes não têm capacidade demográfica de tornar rentável um investimento em cinema mas isso quer dizer que deviam deixar de ter cinema?”
    Se alguém se disponibilizar para pagar a conta nada tenho a ver com isso. Não me peçam é a mim para o fazer.

  25. Ricardo Monteiro

    Por mim desde que o dinheiro não vá para a 46573 ª comissão de inquérito a Camarate, até podem usar o dinheiro para acender a fogueira. Mas volto a dizer: o cinema (e as artes em geral ) são as “causas fracturantes” da direita. Como resultou com Sócrates ,decidiram faze-lo outra vez.

  26. A Lara

    PedroS, desculpe lá mas o que diz não é o que tem sido defendido por aqui. Você fala de uma política cultural: a defesa e conservação do património. Aqui tem-se defendido simplesmente, e a meu ver, de uma forma inteiramente frívola: “não vende no mercado (e o nosso mercado é de facto enorme), então desapareça”. Quanto a clássicos, se Manuel de Oliveira, nos seus 80 anos de carreira, não passou o teste (arrecando prémios internacionais, figurando nas antologias, ciclos do cinema europeu, sendo estudado e imitado por essas escolas de cinema fora), então não sei se usa o termo clássico apenas para designar obras de arte produzidas até ao século XIX, durante a monarquia quando esta, aliada à Igreja e a um punhado de aristocratas estrangeirados, ainda assim patrocinavam os poucos pintores, músicos, poetas, que se tornaram “clássicos”. Poderão não apreciar a obra do Manuel de Oliveira e achá-la chata. Mas julgo que é dum paroquialismo atroz (provavelmente defeito de uma educação pouco humanista) defender que o cinema ou é imitação do Hollywood trash, que entretém as massas cansadas de tanto laborar, ou então é cinema “para pensar”, o que, como poucos querem fazer – supostamente só uns esquerdistas preguiçosos quaisquer – deve ser financiado pelos realizadores (como por acaso o Manuel de Oliveira o fez durante parte da sua carreira) ou então desaparecer do mapa e dos festivais. Não é aceitável anunciar que as taxas do audiovisual vão ser afectas sabe-se lá a que bodega, sem tentar lobrigar formas de apoiar “cinema para pensar”.

  27. PedroS

    Caro A Lara,

    penso que nenhum dos bloggers residentes defendeu essa dicotomia grosseira o cinema ou é imitação do Hollywood trash, que entretém as massas cansadas de tanto laborar, ou então é cinema “para pensar”).

    De qualquer maneira, e falando apenas em meu nome, um filme “para pensar” não é necessariamente um filme “sem público”, ou “elitista”. Acho que supôr que um filme “sério” precisa necessariamente de financiamento público porque as “massas” são estupidas e não o irão ver em números suficientes para justificar o investimento é extremamente insultuoso para o público que paga essas produções.

    Por acaso até gosto de filmes “artísticos”, mas penso que demasiadas vezes o filme “de arte” se esquece que deve contar uma história interessante de forma interessante. Recordo-me claramente de ter visto na Holanda um filme português galardoado pela “crítica especializada” (“Os três irmãos” da Teresa Villaverde”) Olhe que fiquei com muito má impressão: um filme deprimente com personagens deprimentes de vidas miseráveis numa cidade miserável e sem redenção; uma moça desflorada nas traseiras de um bar rasca, que se suicida pouco depois… Podia ser uma obra de arte muito grande (sou demasiado inculto para o avaliar), mas não parecia. Achei-o repugnante, e senti vergonha de ser Português. Não por o filme ser Português, mas por mostrar uma paisagem humana portuguesa miserável. Também o “Jaime” do António Pedro Vasconcelos mostra uma sociedade maniqueísta de pobres miseráveis explorados por poderosos cariccaturados, sem profundidade nenhuma: aqui, não vejo qual a distinção entre o “filme português” e os filmes de acção com bons muito bons e maus muito maus.

    Não julgue que advogo que o filme subsidiado deva ser “propaganda” do país. Mas parece-me bastante contra-producente fazer filmes sem contar com a necessidade de atrair público. E repito que não é necessário “embrutecer” o filme para atrair gente. Basta uma história boa, bem contada e bem filmada… Mas à conta de umas décadas de filme “elitista” e sem interesse em cativar o “espectador normal”, será de surpreender que o tal espectador normal tenha uma certa “aversão” a experimentar assistir a um filme português?

  28. A Lara

    PedroS, acaso foi ver o que arrecadou o prémio da crítica em Berlim, “Tabu”? Duvido que, à excepção dos primeiros minutos, um pouco parados e se calhar deprimentes para si, não gostasse do filme, mesmo sendo este filmado em película, com técnicas do cinema expressionista e outras coisas assim pouco “hollywoodescas”. É uma belíssima fábula, primorosamente filmada em África, sem pretensões a ser um manifesto político ou um elogio da pobreza e do subúrbio. Sobre o resto não me pronuncio, a não ser recordá-lo que as obras de arte que integram hoje o cânone ocidental (Caravaggio, Miguel ângelo Van, Bach, Manet, Gogh, Picasso, Proust, Tolstoi, James Joyce, surrealistas, etc, etc..) foram todas recebidas inicialmente com repúdio e escândalo – eram demasiado revolucionários e não respeitavam as convenções artísticas do seu tempo. A história da arte não é feita apenas atráves da criação de coisas belas ou bem contadas. O sublime, na definição de um grande filósofo, é tudo menos apaziguador e bonito – é perturbador e aterrorizador, como uma tempestade. O que não significa o exílio da beleza nem a criação de coisas chocantes só para chocar. Cumpts.

  29. Paulo

    O nosso mercado não é enorme?

    ” Com cerca de 272,9 milhões de falantes, o português é a quinta língua mais falada no mundo, a terceira mais falada no hemisfério ocidental e a mais falada no hemisfério sul da Terra”

    E se tiver qualidade não se preocupe, eles dobram.

  30. rxcorreia

    A Lara,
    E em que medida é que isso tem de ser pago por dinheiros públicos? A mim parece-me muito estranho que alguém que quer ser subversido/revolucionário/agitador/iconoclasta/whatever mansamente se submeta a estender a mão para que o Estado lhe pague a sua arte. Um verdadeiro artista consideraria insultuosa essa situação.

    Mas como na sua maioria são chico-espertos com um ego desproporcionado, constantemente aplaudidos e adulados pela mesma meia dúzia de auto-intitulados intelectuais que se move e prospera nesses meios (muito fechados e elitistas, diga-se de passagem), não me parece que seja de esperar outra atitude do que a de estender a mão para ter uma borla do Estado…

  31. Pá, do meu ponto de vista esta questão é muito simples. Não digo que não sejam subsidiadas as artes, e no caso concreto o, o cinema, mas há limites. Quando um artista que é apoiado não consegue, apesar dos esforços de promoção, atrair público, parece-me que alguma coisa não está bem. Pois o que penso que falta é a consciência de que, se a coisa não corre bem, alguma coisa se deve mudar e infelizmente, as pessoas ligadas ao cinema não pensam assim. Façam coisas novas, melhorem os argumentos, a cinematrografia, agora não estejam à espera que o estado, ou um qualquer imposto, vos permita continuar a fazer as coisas que gostam mais que muitos poucos mais gostam.

    Houve vários filmes portuguêses que fui ver nos últimos anos e que gostei, paguei bilhete e nalguns casos comprei o DVD, e não tinha a Soraia Chaves (Dot.com, Aquele querido mês de Agosto, Funeral à chuva, mais alguns documentários), e se o fiz foi também com a convicção de que o trabalho desenvolvido merecia e que incentivava os que trabalham bem a continuar o seu esforço. Eu gosto de poder ver bons filmes portugueses, mas infelizmente a maior parte não me desperta interesse. O problema reside aqui. No Reino Unido aposto que o estado ganha mais em impostos, do que aquilo que subsídia. Porque a cultura de excelência é diferente. Lá, independentemente de se ser apoiado, o lucro é sempre o objectivo, por isso são certamente o país europeu que mais exporta produtos culturais (música, cinema e TV). Veja-se o caso do Top Gear (que eu vejo) e que, mesmo produzido pela BBC, é das marcas que mais vale em televisão. Em Portugal não há essa cultura…

  32. Paulo

    E se fizermos ao contrário? Acabamos com todos os subsidios e baixamos os impostos sobre as pessoas e empresas. Se as pessoas tiveram mais poder de compra certamente começaram a frequentar mais o cinema, o teatro, os museus, as galerias. E se as empresas pagarem menos impostos vão crescer mais, criando mais postos de trabalho, e começaram a ter recursos para investir em meios audio-visuais, desde que tenham algum retorno, pelo menos a nivel de publicidade.

  33. Sérgio,
    O mais engraçado sobre o meu emprego é que não só não sou Professor Universitário, como nem trabalho para a Função Pública, como a grande maioria dos meus clientes são privados, como trabalho à Comissão, como o meu emprego consiste basicamente em falar mal da Segurança Social o dia todo, a colegas e clientes. 🙂
    Tenho o emprego mais Liberal de todos os Insurgentes e, portanto, não só sou imune a esse ataque, como me rio na cara de quem o fizer.

    Informe-se antes de me insultar.
    É tão fácil como clicar no meu nome e na página que lhe aparece clicar em CV…
    Note-se que o CV é o de 2011 e portanto já tenho outra função, mas com as pistas que lhe deixei em cima deverá chegar lá.

    E quanto à estratégia de, não tendo muito para dizer, criticar o autor… mostra muito do seu carácter…

  34. Em relação a mim,
    1. Ignorante não sou, pois já me obriguei a ver alguns filmes. Número de filmes que me agradaram: 0. Os “Telefilmes” são um pouco básicos (e não é com a Soraia Chaves que me convencem…) e os restantes… têm uma fotografia péssima (aquela paleta de cores escura…), um guarda-roupas deprimente, uma banda sonora inexistente, uma pós-produção indetectável e sobretudo arruinam a história (o do Colombo Português… caramba eu tinha lido o livro, gostei tanto do livro e quando cheguei ao cinema para ver a versão do velhote… odiei a mim próprio por não ter aprendido a lição com exemplos anteriores!)
    2. Preconceituoso. Bem, eu não nasci assim. Por preconceito, prefiro consumir o que é Português e quem me conhece sabe que assim é. Agora, com as desilusões que tenho apanhado…
    3. Ofensivo é quem me quer extorquir dinheiro para fazer bugigangas sem qualidade e sem o mínimo apelo. Se querem o meu dinheiro, mereçam-no como eu mereço o dos meus clientes. Eu sou ofensivo por exercer a minha liberdade de expressão com palavras adequadas? Era o que mais faltava.
    4. Cego ideologicamente é um rótulo que cola muito bem ao Sérgio. Como regra, quem lança uma palavra para uma discussão é quem a merece e não há dúvida que este é um exemplo admirável dessa regra.
    5. Balas & Bolinhos. Por acaso acabei por comprar quando saiu com um jornal (Público?).

    Em relação às críticas sobre o assunto em debate,
    I. Esse erro de considerar a cultura como um todo é um defeito teórico grave. A cultura é multi-facetada e há muitos outros sectores que estão bem e recomendam-se. Trabalham…
    II. A imagem de Portugal é melhor defendida por quem produz algo com qualidade tal que as pessoas estão dispostas a pagar para ter. Lembrem-se sempre: aquilo que eu valorizo, pago. O que não valorizo…
    III. O povo é burro e inculto, dizem. Essas ideias anti-democráticas, elitistas e próprias de esquerda-caviar assustam-me um bocado. Já experimentaram aplicar essa mesma ideia à política?
    IV. Ou o Estado garante ou ninguém pode garantir que exista, dizem. E a comida? O Estado não tem controle sobre isso e existe. Se houver interesse, as pessoas estarão dispostas a pagar, e portanto…
    V. Peso da cultura em outros países: quanto mais rico um país, mais pode ele dedicar à cultura. O segredo é primeiro enriquecer o país (com actividades produtivas) para depois ele se permitir a esses gastos. Pensei que isto fosse óbvio.
    VI. Leis não criam trabalho. Apenas destroem num lado (onde recaem os impostos) para os criar noutro. Se não houver uma injecção de capital de Marte, não há criação líquida de trabalho.

    Em relação aos que me foram favoráveis,
    A. Proteccionismo era se me obrigassem a pagar por ir ao cinema ver nacional em vez de internacional. Aqui querem que eu pague quer eu tenha interesse ou não em ir ao cinema. Ao menos com o proteccionismo eu tenho a opção de desistir da actividade como um todo para não andar a financiar um sector decadente e deprimente.
    B. Lata e iniciativa gostava eu que tivessem na sua actividade. Mas como têm falta de visão…
    C. Por acaso gostava de saber como planeavam distribuir os fundos. Qual o critério? Qual a avaliação? Ou nem se dariam ao trabalho de desenhar um plano de objectivos?

  35. Todo e qualquer subsídio é um desincentivo ao empreendedorismo e à inovação. Ponto.
    Qualquer arte é egoísta por definição, vive de e para o seu criador, por outra palavras, serve para massajar o ego do mesmo. Não o seu bolso.

    16#
    Não conhece grandes liberais que trabalhem em empresas exportadoras?
    Eu tenho um metro e oitenta e cinco de altura e trabalho no estrangeiro, numa das filiais de uma empresa portuguesa.

  36. Pandora da Cunha Teles,
    Boa noite, (aos ciumentos: ela também me deu “Bons Dias”)

    Antes de mais, sei que estou a falar do seu sustento e como ainda por cima gostei da sua entrevista e do seu modo de pensar nela implícito (http://www.youtube.com/watch?v=BIns-r6z6k4), vou dar uma resposta personalizada.
    Antes de mais, obrigado pela informação. Fico sempre satisfeito por saber mais e não posso afirmar ter conhecimento prévio de tudo o que escreveu. Gosto também do seu esforço em se afastar do Orçamento de Estado: mostra uma preocupação higiénica que sinceramente me agrada.

    Repare que o artigo era não sobre o que existe, mas sobre o pedido feito pelos realizadores que recentemente foram fazer uma figurinha à Assembleia da República, onde estão os que autorizam a saída de dinheiros públicos e não de mecenas que fazem o que quiserem com o seu dinheiro. Repare também que o ICA é uma entidade que, como todo o Estado, é dotado do poder de “Imperium”, ou seja, financia-se não por livre vontade dos que lhe transferem dinheiro, mas coercivamente e sobre diversos tipos de ameaças tipificadas legalmente. Logo a seguir descreve a taxa que é coercivamente imposta aos anunciantes, que assim têm de cobrar mais pelos seus produtos vendidos a Portugueses como eu para pagar algo que uns poucos valorizam, a grande maioria não, mas que todos seríamos obrigados a pagar.

    Que a taxa seja mínima (seja lá o que isso for) e é cobrada em alguns outros países, a mim não me muda nem um pouco a opinião. A Pandora deve pensar que são frases para fortalecer o seu argumento, mas eu uso aquela noção de que “se os outros se atiram abaixo, eu não tenho de me atirar também”, e estou certo que a Pandora também usará este princípio muitas vezes (“se a minha amiga paga por aquela bolsa tudo bem, mas a mim não me apetece”). Como eu não aprecio o produto, também não quero pagar. Se eu passar a apreciar, prefiro que mo peçam o dinheiro directamente, sem intermediários com o poder de me retirar judicialmente a minha casa e a minha liberdade pelo meio.

    Sobre o tipo de filmes, desde que vi aquele filme inteiramente com a tela preta, prefiro não entrar muito por aí. Em termos de arte sou um clássico e aprecio mais arte “pré-contemporânea”. Gostava era que houvesse critérios, mas o único que eu estou a ver era o do público mas aí, mais uma vez, não era preciso subsídios. Se estiver a ver outro critério que seja SMART (specific, measurable, achievable, realistic & time-based), estou interessado em conhecer.

    Nas florestas há algo para contar. Pode-se contar o número de árvores ou até o O2 produzido por estas (com base não só no número mas também em outros critérios, como a espécie e a idade da mesma). Neste caso é que ainda não vejo critérios. E sabe que para quem fala em distribuição de recursos escassos a necessidades ilimitadas, essa é uma necessidade…

    Sobre o número mínimo de habitantes, há-de convir que isso não só não é teoricamente sólido, como um simples exame prático mostra inúmeros contra-exemplos. Só para dar alguns problemas com esse argumento:
    – Cinema Português em Português tem no Brasil um enorme mercado. O meu micro-blog pessoal tem metade das visitas de lá.
    – Israel e Suíça são países mais pequenos e não têm falta de cultura ou de outros sectores que exijam economias de escala.
    – Ao vídeo Português mais visto de sempre bastou adaptar o nome (“fail like a boss”). Já imaginou se um filme (longo ou curto) fosse bom? E ainda há a possibilidade de fazer legendagens/dobragens. Acredite ou não, eu vejo muitos filmes que são produzidos bem longe.

    Não se preocupe Pandora. Eu acho que com a internet e os aparelhos vídeo-gravadores cada vez mais presentes (eu tenho um no meu bolso!) e de cada vez melhor qualidade, acho que o futuro do cinema é a explosão, não o desaparecimento. Um dia ainda lhe pedimos umas aulas! 😀

    Beijo, Ricardo.

  37. Rodrigo

    Só para tentar responder à pergunta “existencial” deste debate: porque razão irei, eu, pagar, com os meus impostos, toda e qualquer investigação que se faça nos centros de investigação (que receba dinheiro público, a maior parte com certeza)? O que irei beneficiar do investimento público em investiggação em áreas como a História, Ciência Política ou mesmo Marketing? Pois bem, a resposta a estas perguntas responde à necessidade de subsidiar (ou investir, tenho alguns problemas com as palavras) a cultura portuguesa.

  38. Miguel Noronha

    Meu caro Rpdigo/Zé. Podia ao menos dar-se ao trabalho de passar despercebidp. Mais uma gracinha dessas e fica banido.

  39. Zé Rodrigo

    Amigo, qual é a diferença entre assinar com o nome de “Zé” ou “Rodrigo”? O email que uso é único e basta para ser identificado. Já agora está a ameaçar-me banir de comentar simplesmente porque assinei “Rodrigo” em vez de “Zé”? Onde estará, para além da sua ilustre e liberal mente, tal regra “pidesca” ? Já agora, chamo-me “Zé Rodrigo” e assino como quero. Não fui mal-educado, não desrespeitei ninguém nem vim para aqui apregoar barbáries ideologias (pelo contrário, vim desmascará-las). Por favor, a sua gracinha é que não teve piada nenhuma e cheirou a autoritarismo bacoco.

  40. Miguel Noronha

    Se é um caso de multiplas personalidades recomendo que escolha apenas uma quando comentar no Insurgente. Está em casa alheia portanto respeita as regras establecidas. Se não gosta pode ir comentar para outro lado.

  41. nuno granja

    Rectificação: O outro filme português que vi gostei e revi foi “Aquele querido mês de Agosto”. Vi e gostei mas não revi ” A outra margem”. Excepto esses tudo o que vi foi muito mau.

  42. Rodrigo

    Já agora onde estão as regras (pode indicá-las para eu respeitosamente lê-las)? Outra coisa, o que tem o nome a ver com a personalidade? Se não quisesse ser identificado não repetia o mail, não acha? Além disso, o mail é único e pode ser univocamente mapeado. Vale mais (na questão da indentificação online) do que um nome.

  43. Miguel Noronha

    1. Não personalizar os debates
    2. Não insultar
    3. Contestar as ideias e nãs as pessoas
    4. Limitar ao máximo os comentários off-topic
    5. Não usar as caixas de comentários (unicamente) para fazer publicidade ao blog pessoal
    6. Em casos de multipla personalidade escolher apenas uma para comentar aqui.
    7. Se não acha as regras injustas pode protestar noutro local. Ninguém o obriga a comentar aqui.
    8. Os clientes mais antigos têm direito a um “desconto” especial.
    9. Os casos omissos são resolvidos causuisticamente.

    É capaz de haver mais uma ou duas mas vai aprendendo com a experiência.
    ADENDA: O mail não é visível para os restantes comentadores pelo que é difícil saberem que se trata de mesma pessoa. E se continua a mudar o nick já sabe o que o espera. Não torno a avisar.

  44. Rodrigo

    Fixe, apenas não respeitei uma das regras (criou-as agora? é porque não encontrei nenhum sítio neste blog onde pudesse lê-las). Ok, aceito escrever usando apenas uma “personalidade”. Já agora, o que prefere. será “Zé” ou “Rodrigo” ou “Zé Rodrigo”? Penso que vou usar “Zé Rodrigo”, mas fico à espera da sua sugestão. Peace.

  45. Rodrigo

    Qual choramingar qual carapuça. Penso que são regras estúpidas e acabinhas de serem forjadas (apenas para não perder a face). Se quiser banir, bane. Só não gosto de autoritarismo bacocos e atitudes pidescas pá!

  46. Miguel Noronha

    Você é que sabe.Na sua casa fará como bem entender. Em casa alheia obedece às regras que são impostas.
    E agora chega de conversa.

  47. Nota-se o senso de liberdade e o respeito que tem pelas regras democráticas e da boa convivência. Já agora, alterar os comentários que fez “a posteriori” não é uma boa onda. Repare, que este último comentário que fez (bem mais ríspido do que anterior) não era o que tinha feito há pouco tempo atrás. Repito, se é por uma questão de “nome ou nick” eu aceito. Porém, mais vez, reitero, teve uma atitude autoritária. Não fui mal-educado nem desrespeitei ninguém (ao contrário do que fez em relação a mim, como bem os seus comentários atestam). Fico por aqui. Já cansa debater com quem não sabe debater ou mesmo dialogar.

  48. Miguel Noronha

    “o respeito que tem pelas regras democráticas”
    Estou a tentar imaginar o que serão “as regras democraticas” aplicadas aos comentários do blog mas está difícil. Será que devemos votar que comentários sáo aprovados? Deverá haver alguma alternância (democratica) na moderação dos comentários? Deverãos os comentadores votar acerca da linha editorial do blog? Enfim. Duvidas que me apoquentam.

    O “senso de liberdade” também tem piada.

  49. PedroS

    Tenho pena que a “discussão sobre as regras de comportamento” tenha tomado conta dos comentários 😦

    “O email que uso é único e basta para ser identificado”

    O email só é visto pelos administradoress do blog… O mortal comum vê um nome diferente e supóe que seja uma pessoa diferente a comentar, o que pode dar a ideia de mutias pessoas diferentes a concordar com uma opinião.

    A pergunta do repto é interessante, e é pena que não tenha sido discutida
    ” porque razão irei, eu, pagar, com os meus impostos, toda e qualquer investigação que se faça nos centros de investigação (que receba dinheiro público, a maior parte com certeza)? O que irei beneficiar do investimento público em investigação em áreas como a História, Ciência Política ou mesmo Marketing? Pois bem, a resposta a estas perguntas responde à necessidade de subsidiar (ou investir, tenho alguns problemas com as palavras) a cultura portuguesa”

    Acredito que um “liberal puro e duro” também se oponha ao apoio público à investigação científica. No entanto, a avaliação da investigação científica é, apesar de tudo, bastante mais objectiva do que a avaliação da produção artística. E até se poderá argumentar que a investigação científica original faz parte do papel das Universidades, pelo que uma discussão desse apoio implicaria também reflectir sobre a Universidade pública.

    PS: Apesar de me considerar relativamente próximo da posição liberal, não sou libertário e considero que existe um número de bens públicos que devem ser assegurados pelo Estado: segurança, respeito pelos contratos e defesa (a posição minarquista) mas também outras funções que, por uma razão ou outra, a Sociedade civil não consegue AINDA organizar. Dentro dessa hierarquia de bens, a investigação científica parece-me mais duradoura e “democrática” do que a produção cultural: afinal, continuamos a colher os frutos da investigação produzida e disseminada pelos estudiosos e cientistas dos séculos passados.

    Não nego a importância da actividade cultural, mas nem tudo o que é financiado pelos estados é sublime (p.ex. a pintura e a escultura “academistas” dos séculos XVII e XVIII rapidamente deixou de despertar interesse) e nem tudo o que é desprovido de financiamento público é “baixo” (Sinatra, Leonard Cohen, Gershwin, Dostoievsky, Dickens, Czerny, van Gogh, Steinbeck, Hitchcock, Cukor, Gene Kelly, James Stewart, Kubrick, etc., etc. etc.)

  50. Miguel Noronha

    “também outras funções que, por uma razão ou outra, a Sociedade civil não consegue AINDA organizar.”
    O minarquismo não tem fronteiras assim tão definidas. Por exemplo, dentro da posição minarquista há correntes que defendem que compete ao estado a construção e manutenção das infra-estruturas básicas. Mas o essêncial é, como diz, que a intervenção estatal se reduza ao mínimo essêncial e sempre numa lógica de subsidariedade. A produção artistitica é que não vejo que possa caber aí.

  51. João Branco

    Declaração de interesses 1: como investigador sou parte interessada na continuação do apoio público à investigação científica.
    Declaração de interesses 2: uma parte significativa dos recursos para a investigação científica que faço não vem directa nem indirectamente do estado.

    Isto dito, penso que a questão não se pode por em termos reducionistas: o apoio do estado a (pelo menos alguma, e pode ser argumentado, da mais importante) investigação científica é semelhante ao apoio a actividades que não têm retorno imediato OU acesso a fontes externas de financiamento. Se já é razoavelmente difícil arranjar dinheiro para fazer investigação em áreas que tem potencial aplicação no mercado em breve, fazer investigação fundamental com dinheiro não estatal é impossível de fazer em termos profissionais. O retorno desse investimento é muitas vezes difícil de avaliar (é possível avaliar os processos, não a validade futura dos resultados). E nisto é semelhante ao que acontece com áreas culturais.

    A questão política é portanto se existe vantagem em bens públicos financiarem essa actividade (cujos retornos são geralmente difíceis de avaliar ou quantificar) ou mesmo (posição provável de alguns dos escritores deste blogue) se o estado tem o direito de gastar fundos públicos neste tipo de actividades. Pessoalmente, eu respondo afirmativamente a ambas as questões (sabendo que os valores efectivos a usar e os mecanismos de controlo a aplicar dependerão das escolhas politicas dos decisores), mas tenho a certeza que haverá aqui quem não concorde.

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