“O Governo comunica bem?”, pergunta hoje o Jornal de Negócios.
Bom, devo confessar que, entre amigos, este é um dos meus temas preferidos de charla: como devem os políticos comunicar. E aquilo que eu costumo dizer é que, na maioria dos casos, a melhor comunicação é….não comunicarem. Passo a explicar-me. Hoje em dia, os governantes não se limitam à governação; frequentemente, dedicam-se mais à propaganda e à opinião quando não deveriam ser essas as suas funções. Recorde-se, por exemplo, a triste figura que ministros em funções fazem quando andam por aí em vésperas de legislativas a participar activamente em campanhas eleitorais. Ou, outro exemplo, a imposição de um qualquer secretário de Estado ou ministro no rol de oradores de conferências, mesas redondas e afins. Tudo maus exemplos, na medida em que membros do Governo (deste ou de qualquer outro) se deveriam abster de participar em tais coisas. Em suma, devendo as decisões governativas ser públicas e submetidas previamente à opinião pública, e devendo existir um conjunto de mecanismos democráticos que no limite permitam a revogação de decisões não ratificadas pelo eleitorado, também julgo que os actos governativos deveriam ser reservados.
Enfim, a pressão mediática que existe em redor dos políticos, nomeadamente junto de membros do Governo, é enorme. E é sedutora, levando a que facilmente alguns se deixem deslumbrar pelo poder e pelas luzes da ribalta que o poder lhes concede. O bom do Álvaro é disso exemplo: até o visual mudou….deixou cair os óculos, aparou a pêra (qualque dia não tem pêra), só lhe falta um jogging e ficará como novo. Assim, não havendo acto governativo onde não se reúnam jornalistas loucos para agarrar o ministro ou o secretário de Estado mais próximo de si, é necessária uma enorme auto-disciplina a fim de não se cair no erro de balbuciar qualquer coisa, às vezes bastando até uma pequena generalidade, que mais tarde não seja analisada à lupa e sabe-se lá de que forma. E, portanto, o meu conselho é simples: não falem. Limitem-se ao guião. Senhores, leiam o guião! E deleguem o guião num porta-voz se necessário. Deixem o comentário para a oposição e para os comentadores. Ora, o nosso Álvaro já percebeu isso, anda mais comedido e ainda bem. O País agradece pois assim ele poderá pôr a cabeça – uma óptima cabeça – a funcionar no que realmente interessa: a função de ministro que, repito, tão bem poderia desempenhar. Pelo contrário, o ministro Gaspar e o Primeiro andam a passar das marcas. As finas ironias de Gaspar, que tantos sorrisos e gargalhadas colhiam no início, deixaram de ter piada. Já o Primeiro anda por esse mundo fora (ontem em Moçambique, hoje em Berlim e amanhã, quem sabe, em Lisboa) debitando afirmações e contra-afirmações que só o descredibilizam.
Querem boa comunicação? Então não falem. Pois quando falarem, então sim, o País parará para vos ouvir e dar-vos-á atenção.
Ps: Um tipo bem tenta ajudar, mas, vejam só, a classe parece ser incorrigível!
Excelente post, bons conselhos.
Não é a “crise” que coloca em causa os subsídios, é a dívida. Os subsídios só existiam naquele valor por causa da dívida se Portugal não produzir mais riqueza não terá subsídios.
Este governo está cada vez mais parecido com o do Sócrates no que respeita à propaganda.
Então os recados e discursos do Passos de fora para dentro são ridiculos.
O problema é que o autor parece pensar que existe algo de nobre na política. Não existe. Por outro lado, pensa que os políticos ao não falarem, e portanto ao não demonstrarem publicamente a sua falta de jeito ou pelo contrário a sua retórica espectacular que, de certo modo, vão fazer um trabalho melhor. Temos muitos exemplos contrários, alguns até horríveis na História. De certeza que não tem a mesma opinião perante donos de empresas ou treinadores de futebol ou empresários, esses sim que fazem coisas realmente nobres. De certeza que não diz que devido à pressão mediática, ou à exigência diária do seu trabalho e à capacidade das decisões afectar as outras pessoas, que se deviam de abster de falar em público. Provavelmente pensará que cada um se deve ajustar ao seu lugar e adequar a sua participação conforme cada caso e cada personalidade. Ora os políticos ajustam-se muito facilmente à incompetência quer falem muito quer não falem, ajustam-se aos erros não porque falem muito, mas porque a sua profissão é direccionada para o erro de querer mexer na vida das pessoas.
Se ao menos o Alvaro lesse este post…já que os outros são casos perdidos…
Tenho duas palavras para este governo: Press Secretary.
O resto, que trabalhe mais e fale menos!
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Tenho uma expressão que enquadra-se bem neste texto: Há pessoas que quando não falam valem um 8 deitado (infinito), e quando falam valem um oito em pé. O silêncio pode valer infinitamente mais que o abrir a boca.
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