A mentira modelo educativo estatizado

“A mentira da Educação” de Ramiro Marques (ProfBlog)

A nossa Educação Pública vive há décadas sobre uma mentira: a ideia romântica e inquestionável de que todas as crianças e adolescentes são capazes de chegarem até onde elas ou os pais delas quiserem.

Toda a gente finge que acredita neste axioma. Na verdade, ninguém acredita nele mas todos fingem que este axioma é uma verdade inquestionável.

Quem ousa manifestar dúvidas, apontando exemplos de crianças e adolescentes que, por mais que os professores se esforcem, não conseguem chegar onde os pais querem que elas cheguem, é estigmatizado de diversas maneiras. A mais comum é levar com a etiqueta de conservador.

Chegámos a uma situação em que é de mau tom afirmar aquilo que todos conhecem: há crianças muito inteligentes, outras que o são medianamente e outras ainda que são muito lentas a aprender. E há crianças que se esforçam muito, outras que se esforçam pouco. E há algumas que adoram aprender e outras que se cansam facilmente.

E, por fim, há crianças que adoram a escola e outras que a detestam.

A falácia da escolaridade obrigatória e de uma via única para todos é aceite de forma inquestionável. O resultado está à vista: os gastos com a Educação não cessam de subir e os resultados não passam da mediocridade.

Todos nós sabemos isso mas fingimos que não é verdade. E vamos repetindo até à exaustão o contrário. Fazê-mo-lo em todo o lado: nos relatórios que elaboramos, nos planos que desenhamos, nos trabalhos que redigimos.

A propósito, leiam também no ProfBlog “Quatro verdades simples sobre a mentira da educação”

(via David Levy)

8 pensamentos sobre “A mentira modelo educativo estatizado

  1. Luís Lavoura

    Nos tribunais, as pessoas também são classificadas em “imputáveis” ou “inimputáveis” e, consoante a classificação, irão para a prisão ou para um asilo de loucos.
    Da mesma forma, na escola há crianças “deficientes” e outras “normais”. As normais são obrigadas a seguir a escolaridade obrigatória. As deficientes, não.

  2. Apesar de concordar com o que é dito, não consigo deixar de criticar um erro de palmatória de alguém que, ou se esqueceu do que aprendeu, ou nunca aprendeu, mas fala em educar os outros (uma intenção sempre nobre). Aqui, neste bocadinho de frase que transcrevo — “são capazes de chegarem” — o erro gramatical dá-me arrepios.

  3. mochochato

    Totalmente em desacordo! Qualquer jovem oriundo de uma família com dinheiro suficiente para pagar o colégio privado e a universidade privada consegue atingir qualquer garau de ensino, inclusivé o doutoramento! Era só o que faltava se só os mais aptos o conseguissem! Vivemos numa sociedade se classe, não? Vejam lá se querem acabar com o ensino privado! Isto não é a Albânia! Aliás, a Coreia do Norte, desculpem.

  4. mochochato

    Garau de ensino até soa bem, mas era mesmo grau que eu queria ter escrito…
    Já agora é sociedade “sem” classe e não “se” classe. O que é que querem…andei toda a vida no ensino privado…

  5. ricardo saramago

    A vitória da militância politicamente correcta não permite que se reconheçam as limitações dos alunos, o desgoverno das escolas, a imbecilidade dos programas, a ignorância dos docentes e os péssimos resultados.
    O saber e aprender foi erradicado em palavras e em actos.
    Como todos os meninos são inteligentes e trabalhadores, todos os conteúdos bem elaborados, todos os professores competentes e sabedores, todos as escolas bem geridas e integradas na comunidade, não se faz nada a não ser criar burocracia, fabricar resultados virtuais e torrar dinheiro.
    Os pais e os alunos são ludibriados com um diploma e ignoram o triste futuro que os aguarda.
    Infelizmente muitos deles não se incomodam com a ignorância, apenas exigem que lhes tomem conta dos filhos e que lhes dêem um qualquer grau académico.

  6. Ricardo Duarte

    A conversa devia ser outra: porque é que certas crianças são “inteligentes” e outras nem por isso? É que pela leitura do texto fica a ideia que a inteligência é assim uma coisa que vem nos genes e, obviamente, sabemos que essas teorias estão largamente ultrapassadas. Só aceitando o determinismo do gene se pode chegar a estas conclusões. De facto, não é de estranhar este tipo de ideias quando se encontram cientistas, em revistas prestigiadas, à procura do gene da depressão ou do alcoolismo, o que é uma perfeita patetice.

    Para Vygotsky a construção da mente é social, e é na relação com o outro que se constroem funções nervosas superiores (o que faz de nós humanos). Assim, tenho verificado que muitas das crianças não aprendem por não serem suficientemente estruturadas psicologicamente, ou seja, em termos comuns, não têm o substrato biológico (neuronal) necessário para realizarem as aprendizagens. O problema é antes de mais psicológico e não educativo.

  7. ricardo saramago

    Caro Ricardo Duarte

    “porque é que certas crianças são “inteligentes” e outras nem por isso?”

    Não tenha medo das palavras.
    São estúpidos.
    Quando se reconhecer preto no branco esta realidade, estará dado o primeiro passo para se começar a fazer alguma coisa para ajudar essas pessoas.
    A sociedade precisa de todos.
    Vale mais um bom varredor que um advogado incompetente.

  8. Luís Barata

    Até o Miguel é politicamente correcto: “há crianças muito inteligentes, outras que o são medianamente e outras ainda que são muito lentas a aprender.” O contrário de inteligente não é a lentidão na aprendizagem…

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