Justiça Inter-Geracional

A geração da minha avó (nascida a 1932) assistiu ao nascimento da Segurança Social e foi a 1ª a beneficiar da Segurança Social nos moldes de hoje (história). Quando ela se reformou, poucos pagavam, muitos recebiam, mas um valor tão baixo que na verdade o sistema era excedentário. Esta geração beneficiou de uma reforma imediatamente. Mesmo pessoas que nunca tinham contribuído começaram a receber de imediato para justificar politicamente o imposto. Esta geração beneficiou do sistema.

A geração da minha mãe (nascida a 1952) beneficiou fortemente da Segurança Social. Pagou uma Segurança Social baixa (a poucos) e recebe um valor muito superior (todos eles). Cálculos por cima baseados na Esperança Média de Vida e nos rendimentos conhecidos e esperados indicam que cada pessoa vai receber 2 a 3 vezes o que pagaram à Segurança Social. Esta geração beneficia fortemente do sistema.

A minha geração (nascida a 1980) paga uma Segurança Social elevada, a muitos, e vai receber um valor reduzido – muito mais reduzido do que a percentagem actualmente escrita na legislação, pois a necessidade vai forçar a novas alterações – pago por uma geração em regressão demográfica.

Resultado? Uma injustiça que já começou a fazer efeitos nas estatísticas, como pode ser visível no gráfico da direita e no artigo em que foi publicado. A “geração mais bem preparada de sempre” trabalha e recebe muito menos… para pagar os direitos da “geração dos direitos adquiridos”, que assim é também a “geração dourada“.
Ou seja, os nossos pais viveram melhor do que nós quando éramos pequenos e essa mesma “geração dourada” vivem agora melhor do que os pais deles viviam com a mesma idade. Deixando uma situação bem pior, sublinhe-se. E pior em 2 sentidos:
1. Pagamos elevadíssimos impostos para pagar direitos como nós não vamos ter
2. Como a cargar é muito elevada, muitos não são suficientemente produtivos para justificarem a sua contratação e ficam no Desemprego
3. Ficamos uma dívida colossal que passaremos a vida a pagar.
4. Devido aos pontos anteriores, não nos deixam neste momento gerar a geração que nos permitiria ter reforma.

Sim, porque o dinheiro que vocês pagam para a reforma não está lá e dependemos sempre da próxima geração. Se calhar é melhor exemplificar como funciona a Segurança Social.
Imaginem o seguinte exemplo:

Todos os meses, eu no dia 1 coloco numa caixa 200 Euros. Mas também todos os meses, no dia 24 eu retiro da caixa os 200 Euros e deixo uma folha na caixa a dizer “Devo a mim próprio 200 Euros”. Ao fim de 20 anos a fazer o mesmo, quanto dinheiro eu tenho guardado no fim?
Zero, claro. E é isso que está no “Fundo da Segurança Social”.
O “fundo” que lá está (uma fracção do devido aos que já contribuíram e têm expectativas de vir a receber reformas do sistema) no fundo contabiliza apenas o dinheiro que o Estado tirou de lá e gastou onde entendeu.

É a contabilidade “pública”, que diz que as transferências da Segurança Social para o Orçamento são contabilizadas, mas a dívida do Estado para com os investidores no PPR do Estado não entra para as contas (como acontece nos Fundos de Pensões empresariais). E que permitiu um desvio cada vez maior, que fez a 1ª geração beneficiar, a “dourada” beneficiar o máximo e explodir o sistema com cada vez mais direitos e à 3ª apanhar os cacos.

Ler mais em “Liberdade, Igualdade e Fraternidade“.

Ler mais em “Consequências da Falta de Produtividade” da Geração dos Direitos Adquiridos.

25 pensamentos sobre “Justiça Inter-Geracional

  1. vivendipt

    A capitalização da segurança social, pago mediante contribuição, o que é um eufemismo, pois contribuição é um termo que pressupõe voluntariedade, ou seja, a pessoa contribui para alguma coisa, em tese, apenas se ela quiser, o que não é o caso. Portanto, a melhor palavra para esse pagamento seria imposto, pois é uma imposição do estado o seu pagamento.

    Analisando friamente poderemos a comparar a um esquema de pirâmide. A ideia deste sistema é a seguinte: o trabalhador de hoje paga pela reforma do aposentado atual para que, quando ele se reforme, o trabalhador do futuro pague pela sua reforma.

    Agora vejam a semelhança entre esse sistema e a pirâmide fraudulenta: na pirâmide, um grupo originário, que não desembolsou absolutamente nada ou pouco, recebe uma certa quantia de outro grupo (necessariamente maior), e esse grupo fica na expectativa de que outro grupo, ainda maior, pague a mesma quantia ao grupo intermediário, e assim sucessivamente.

    Seguindo esta lógica piramidal o ultimo grupo, como visto, precisa ser muito grande para poder suportar esse pagamento, seja através da demografia (pessoas) ou de numerário.

    Ora, sem que haja essa “progressão” entre uma geração e outra, esse sistema irá quebrar numa questão de tempo e não já muito longínquo, visto que temos um inverno demográfico e a desindustralização europeia.

    Além de ser um esquema de fraude de pirâmide, ou seja, imoral e ineficaz, a segurança social possui outras distorções flagrantes que são ignoradas pelo grande público ( transferências de fundos privados, subvenções vitalícias, acumulação de reformas, artifícios vários, tratamento diferenciado …)

    No fundo o lema é: dinheiro que é de todos, é dinheiro de ninguém… Não há qualquer critério equilibrado e responsável.

    Solução:

    O principal entrave são os políticos e algumas elites miseráveis, dinossauros da política e demais usurpadores do bem público.

    Para além do aumento gradual da idade da reforma que já está a ser aplicado, tem de haver um plafonamento máximo estatal, creio que o melhor exemplo a seguir será o modelo suíço, que tem como limite máximo 1700 €, observe-se bem, a diferença de rendimentos entre Portugal e a Suíça.

    Para os leitores mais interessados fica aqui o link onde se pode perceber o modelo de reformas suíço, baseado em 3 pilares:

    Click to access Altersvorsorge-p.pdf

  2. vivendipt

    Post original
    vivendi-pt.blogspot.com/2011/12/seguranca-social-o-esquema-piramidal.html

    Leitura relacionada

    vivendi-pt.blogspot.com/2011/12/reformas-na-suica.html
    vivendi-pt.blogspot.com/2011/12/as-grandes-reformas.html
    vivendi-pt.blogspot.com/2011/12/reformas.html

  3. Paulo Pereira

    A situação seria fácil de resolver caso as pensões máximas tivessem sido congeladas nos 2500 euros por mês e os calculos tivessem em conta toda a vida contributiva.

    De qualquer forma o que interessa na verdade é o peso nas pensões no PIB, que em Portugal está um pouco acima da média da U.E.

    É um erro pensar que as pensões precisam de ter uma capitalização separada, é só mais um nivel de burocracia desnecessário , que gasta cerca de 5% dos fundos nessa burocracia.

  4. oscar maximo

    Ainda temos de aguentar com os economistas, que dizem que o problema é demográfico. Ou seja, não lhes passa pela cabeça que o crescimento demográfico tem limites, como o crescimento económico tem limites, e tal como a piramide de Ponzi, terá sempre de rebentar, Como quanto mais alto se sobe, maior a queda, quanto mais cedo rebentar, melhor (melhor para as novas gerações, pior para os reformados, melhor em geral). Faz parte dum fenómeno mais genérico: a economia baseada na tendência de crescimento continuo vai rebentar,

  5. Carlos Costa

    Julgo que a unica solução será o desmantelamento gradual deste gigantesco esquema de Ponzi em que se tornou a Segurança Social. Este processo deveria passar por 3 aspectos essenciais:
    – Imposição de um tecto máximo para todas as pensões;
    – Reflectir em todas as pensões, sem excepção, a totalidade da carreira produtiva
    – Permitir o “opting out” a todos os que estão iniciar a sua vida profissional ou que possuam carrreiras contributivas relativamente curtas. O conceito “opting out” deveria ser aliás gradualmente introduzido na saúde e educação. Só assim será possivel intriduzir eficiência e conter estes sorvedouros de dinheiro que são a Educação e Saúde.

  6. Paulo Pereira

    O crescimento económico não tem limites devido ao constante aumento da produtividade !

    Não existe nenhum problema demográfico pois a taxa de desemprego é elevadissima.

    Spending = Income

  7. Economista

    P.P.
    Esta chave não entra na fechadura .
    Se não há jovens , não há as suas contribuições para a reforma dos velhos . Se os poucos jovens que existem estão desempregados , pior a emenda do que o soneto …

  8. JS

    #6 Carlos Costa. Tem razão. Simples, claro, óbvio, … mas politicamente incorrecto.
    Ps- Esqueceu o choradinho prós lados de Belém???

  9. tugasnake

    Duas simples medidas como o aumento da idade da reforma e a criação de um tecto máximo nos 1500€ seriam suficientes para aliviar o problema.

    Com a esperança média de vida cada vez maior e cada vez menos contribuintes não há como não subir a idade da reforma e reduzir as promessas que a Segurança Social fez. Se tal não acontecer aí é que não há futuro absolutamente nenhum para a SS.

  10. Paulo Pereira

    Não é necessário subir a idade da reforma porque o desemprego é muito elevado.

    Ou temos reformados ou desempregados e os mais jovens são mais produtivos.

  11. Rui

    Este é um dos temas mais importantes e que eu vejo estranhamente ignorado na discussão pública! Parabéns pelo post.

    Só mais uma achega para eventuais factores solução.
    Qualquer corte deverá ser efectuado sobre todos os beneficiários e não apenas sobre as novas entradas. Actualmente a maioria dos cortes incide principalmente sobre aqueles que ainda não recebem reforma deixando intactos quem já beneficia desta prestação o que a meu ver não faz sentido nenhum. Não vejo uma grande relevância no facto de a partir de momento em que se é reformado ter todos os direitos adquiridos e quem ainda não se reformou (mesmo faltando apenas 2 ou 3 anos para se reformar ficar sujeito a cortes sobre cortes sobre cortes… Isto inclusive gera incentivos para que as pessoas se reformem mais cedo de forma a garantir uma situação estável evitando lidar com a incerteza das condições passados dois ou três anos o que é um incentivo absolutamente errado do meu ponto de vista…

  12. oscar maximo

    O crescimento económico não tem limites devido ao aumento constante da produtividade. Ora bem, o facto de ser monotonamente crescente no sentido estrito não significa que não tenha limites, como muitas séries demonstram, e como a existência de assimptotas exemplifica. Mais, há uma contrariedade sem limites na dimuição do rendimento de extração de matérias-primas, energia á cabeça

  13. Ricardo Campelo de Magalhães

    Quero só sublinhar que o problema não é demográfico: o problema é político e deriva da falta de coragem da classe política toda em confrontar as pessoas com a realidade de que não é matematicamente possível pagar o que prometeram e o facto de estarem ainda a tentar está a matar (ou, mais correctamente, a impedir de nascer) a geração que deveria pagar as reformas da minha geração.

  14. Paulo Pereira

    O crescimento económico não tem limites desde que existam fontes de energia suficientes com retorno positivo (EROIE – http://en.wikipedia.org/wiki/Energy_returned_on_energy_invested):

    – combustiveis fosseis (carvão, petroleo, gas natural)
    – energia hidrica, eólica e solar
    – energia nuclear
    – energia geotermica , biomassa, biocombustiveis, etc.

    nada indica que o EROIE não continua positivo em algumas das fontes de energia actuais (ou todas).

    Não existe nenhum problema demográfico pois a produtividade é crescente e o desemprego é muito elevado.

    A resolução do problema do Euro é apenas politica, sendo apenas necessário ordenar ao BCE que o resolva, o que demorará mais ou menos um mês.

  15. Ricardo Campelo de Magalhães

    Paulo Pereira,
    Não se preocupe com a energia. É claro que é um problema, mas deixe os empreendedores da área pensar o assunto e vai ver como vai ter sempre energia 😉

  16. Paulo Pereira

    Se ler o que eu escrevi vê que Eu não me preocupo e ainda bem que o Ricardo não se preocupa.

    Então se não há problema com a energia não há problema que não se resolva !

    Seja Segurança Social, seja qualquer outro problema económico.

    O EROIE é o indicador fisico-economico mais importante de todos.

  17. Ricardo Campelo de Magalhães

    O problema da Segurança Social é que foram feitas tamanhas promessas que para cumprir essas promessas os impostos, a inflação e a dívida deixada para a geração seguinte vai ser cada vez maior e – se nada for feito – dentro de algum tempo só o juro da dívida de qualquer país seria maior do que o PIB mundial (quanto mais pequeno o país, mais tempo precisa, mas é sempre uma questão de tempo).

    Alguém vai ter de tornar a Segurança Social um sistema realista.
    E quanto mais cedo, melhor.

  18. F. David Cruz

    Em termos de fecundidade, Portugal não renova gerações desde 1982. Ou seja, a implantação de uma profunda reforma na Segurança Social já tem trinta anos de atraso. Quantas mais décadas serão necessárias? De resto, o aumento da idade da reforma é um mero paliativo.

    De facto, o problema não é demográfico, mas político. O envelhecimento demográfico é um reflexo do desenvolvimento das sociedades. O aumento da proporção de idosos não pode ser dramatizada, nem as gerações mais jovens devem ser pressionas para terem mais filhos. O problema está no paradigma, não nas pessoas

  19. Paulo Pereira

    Se o desemprego jovem é de 45% onde é que está o problema geracional ?

    O problema é apenas politico, ou seja com a actual produtividade elevadissima, o desemprego é elevadissimo !

  20. F. David Cruz

    Ricardo Capelo de Magalhães,

    Referia-me precisamente ao modelo da segurança social em vigência, que acabou por descrever no seu artigo através dos exemplos das três gerações. Ou seja, referia-me ao desequilíbrio, que se verifica na actualidade, entre contribuintes e beneficiários. A viabilidade financeira deste modelo somente seria possível numa sociedade com uma proporção muito menor de idosos e de pleno emprego.

    A corrente dominante de investigação em demografia acredita que a resolução do problema passa pelo incremento da fecundidade. Ou seja, assume-se que o problema é demográfico e é defendida a manutenção da segurança social nos moldes actuais. No entanto, acredito que dificilmente a fecundidade retorne a níveis que assegurem a substituição de gerações. Nem os países mais generosos na atribuição de incentivos à natalidade o conseguiram. (mais aspectos sobre esta questão em: http://equacaobase.wordpress.com/2011/12/26/nascem-cada-vez-menos-criancas-e-ainda-bem/)

    Como tal, sendo o agravamento do envelhecimento demográfico um dado adquirido no futuro, que não justifica qualquer dramatização, importa actuar do ponto de vista político. Julgo que o ideal é a adopção de um modelo/paradigma de segurança social assente na responsabilização individual para a poupança, limitando os apoios sociais a situações extremas.

    (Aproveito a ocasião para lhe solicitar autorização para divulgar o seu artigo no meu blogue pessoal)

  21. Paulo Pereira

    “Julgo que o ideal é a adopção de um modelo/paradigma de segurança social assente na responsabilização individual para a poupança, limitando os apoios sociais a situações extremas”

    O sistema capitalista só funciona com consumo elevado !

    Aumentar a poupança é um tiro no pé , só serve para diminuir o crescimento económico e diminuir assim as receitas fiscais e da s.social.

    Com a produtividade elevadissima não temos nenhum problema demográfico ou económico, apenas politico porque a U.E. é gerida por gente que não percebe como funciona o sistema capitalista moderno.

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s

This site uses Akismet to reduce spam. Learn how your comment data is processed.