Suspense

Falta pouco (mais ou menos um dia) para sabermos se ficará claro para toda a gente que o incumprimento da Grécia tem pouco de “voluntário” da parte dos credores. Foi graças a alterações legislativas recentes na Grécia que ficou estabelecido que, desde que os detentores de 75% da sua dívida aceitem a redução dos compromissos, os detentores dos restantes 25% terão de o aceitar também. Ou seja, começa logo por não ser voluntário da parte, pelo menos, dos detentores de 1/4 da dívida. Mas mesmo os detentores de 75% ou mais que venham a aceitar até amanhã, fazem-no com uma pistola encostada à cabeça: basta que os detentores de 66% aceitem para que o governo grego accione as cláusulas de acção colectiva que tornam aplicáveis as reduções de compromissos não só a esses 66% mas também aos restantes credores. E, para completar o quadro, o governo grego ameaçou todos com um incumprimento total caso o limiar dos 66% não seja atingido. Se tivesse um maluco com um serra eléctrica a ameaçar cortar-me o braço caso não o deixasse cortar-me a mão, se calhar também aceitava “voluntariamente” que me cortasse a mão.

Mesmo assim, ainda tudo pode acontecer. E caso esta magnífica maquinaria não funcione até amanhã, o abandono do euro pela Grécia tornar-se-á uma prática inevitabilidade e, depois, sabe-se lá o que acontece.

9 pensamentos sobre “Suspense

  1. Luís Lavoura

    No último parágrafo do post, o Luciano faz a equivalência: incumprimento da dívida = abandono do euro. Ora, essa equivalência é tudo menos óbvia. A Grécia pode perfeitamente incumprir mas permanecer no euro.

  2. Ricardo Dias de Sousa

    Ha que dizer, em benefício dos acordos voluntarios que, normalmente estes existem no momento em que se faz a emissao da dívida. Se o comprador da dívida sabe que existe uma clausula de acordo voluntário de 66% ou 75% nao se pode queixar se depois faz parte dos 25% que nao estao de acordo com os termos. Além disso, pode sempre exercer o CDS (se o comprou evidentemente) se nao quer aceitar a troca. O escandalo é que as obrigaçoes gregas emitidas segundo a lei grega nao tinham clausula de acordo colectivo pelo que se lhes exigia 100% de acordo por parte dos investidores e mudou-se a lei com aplicaçao às emissoes vigentes.

  3. há que dizer, tirem-me deste filme de terror…7 ministros…7 lol palhaçada total! Passos Coelho, demite-te !
    .
    “De acordo com a resolução de Conselho de Ministros, foi instituída a Comissão Interministerial de Orientação Estratégica dos Fundos Comunitários e Extracomunitários, “que é composta pelo ministro das Finanças [Vítor Gaspar], que coordena, e pelos ministros dos Negócios Estrangeiros [Paulo Portas], Administração Interna [Miguel Macedo], Economia e Emprego [Álvaro Santos Pereira], Agricultura, Mar, Ambiente e Ordenamento do Território [Assunção Cristas], Educação e Ciência [Nuno Crato] e Solidariedade e Segurança Social [Paulo Macedo]”.”

    http://www.publico.pt/Economia/governo-aprova-comissao-liderada-pelas-financas-para-gerir-fundos-1536751

  4. Portugal é mesmo a Grécia…é um filme de terror! o BES afirmou nas telivisões da estrangeirada que iria investir novamente dinheirinho na compra de divida publica portuguesa…

  5. Dervich

    Não vai acontecer nada porque ninguém na Europa está disposto a entrar com 1,3 biliões € (“biliões” europeus e não “biliões” americanos) para aguentar o barco, depois do rombo causado por uma eventual queda da Grécia.

    E o que vai acontecer é que esta “correcção” forçada e violenta (porque rápida demais) dos países do Sul se vai arrastar por mais meia dúzia de anos, sempre suportada a conta-gotas pelos países credores, os quais por seu lado não querem abrir mão dos rendimentos provenientes do juros sobre dívidas “eternas”, nem de potenciais futuros (ou latentes) mercados de exportação…

    Dervich

  6. Pois. Também acho que está tudo errado.
    Os mercados financeiros já eram…
    Mas não só para a Grécia. Para todos. A curto ou médio prazo.
    Ninguém vai por um euro que seja em títulos de dívida. Seja de que país for…
    Daí que, nem “printando notas”… mal são colocadas no terreno pisgam-se para onde ficam seguras e são mais rentáveis.
    Teremos que congelar a dívida e partir para uma “vida diferente”.
    Sem défice e a fazendo comércio internacional à troca ou pronto pagamento…
    Não é o euro que acaba, Nem os países saem do euro. É mais simples que isso: os países passam a viver com o que produzem, a comprar com base no que conseguem vender (pagam a pronto).
    E os FEEFs e fundos de ajuda passam a se centrar nos credores…

    http://notaslivres.blogspot.com/2012/02/grecia-e-troika-portugal-e-os-outros.html

  7. Filipa Varela

    Pois…mas sabe o que é também, curioso? Os “famosos” processos de insolvência com plano de recuperação de empresa também funcionam no mesmo género! E quem tem os créditos que se aguente!!!
    Quer um exemplo? Aqui tem:

    “5.5. Créditos comuns
    Período de carência de 24 meses, iniciado após homologação do plano de insolvência e trânsito em julgado da sentença de verificação e graduação de créditos;
    perdão de 60% do capital em dívida e inexigibilidade de juros vencidos;
    os juros vincendos serão pagos de acordo com as seguintes taxas:
    – até ao final do 6.º ano, inclusive, aplica-se a taxa Euribor 1 mês;
    – do início do 7.º ano até ao final do 12.º ano, inclusive, aplica-se a taxa Euribor 1 mês, acrescida de um spread de 0,5%;
    – do início do 13.º ano até final, aplica-se a taxa Euribor 1 mês, acrescida de um spread de 1%;
    – pagamento em 192 prestações mensais e sucessivas;
    os juros devidos durante o período de carência, serão diluídos no decurso do prazo restante. ”

    O “meu” crédito seria de 11 mil euros, reduzido para 4.400 € por “perdão” (???) de divida no qual não fomos tidos nem achados, e o restante será para receber após período de carência de 2 anos, em suaves 192 prestações…ou seja, findos 18 anos teremos “recuperado” 4.400€

    E que tal? Não é parecido? E acontece aqui, todos os dias e cada vez mais 😦

  8. Paulo Pereira

    Vejam lá como a direita europeia é estatista ao obrigar o sector privado a um corte substancial no valor dos titulos gregos, ao mesmo tempo que permite que o sector publico seja pago ao valor nominal.

  9. Pingback: Comédia grega « O Insurgente

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