Aquele momento zen em que Mariano Gago diz que a pirataria acrescenta valor à obra do autor, que tem assim uma forma gratuita de distribuir a sua obra pelo mundo inteiro.
Ninguém diria que este senhor foi Ministro da Ciência e da Tecnologia (15 anos ao todo) durante os governos que mais contribuíram para a falsa assumpção de que a reprodução de obras prejudica os autores: durante os dois governos de António Guterres, em que nasceu a lei mãe do actual Projecto Lei 118, e durante os dois governos de Sócrates, em que Portugal negociou o ACTA.
Mas há mais bullshit para além do ACTA: http://www.acting-man.com/?p=14327
Em princípio concordo com o que o Mariano disse.
Quanto a cortarem-lhe o pio, é normal. Uma das características da sociedade pós-democrática em que vivemos é esta.
Todos têm liberdade para dizer o que pensam desde que não se toque em nada essencial.
Mas, pior, este tipo de atitude não está só nos grandes meios de comunicação social, está em todo o lado, até em blogs da autoria de sujeitinhos que quando forem grandes querem ser ditadores (ver, por exemplo, http://cabalas.blogspot.com/2012/02/sobre-o-fiel-inimigo.html)
Devemos então depreender que, para a Elisabete Joaquim, um escritor cujos livros estejam (sem a sua autorização) disponíveis online para qualquer um copiar e sejam reproduzidos por uma qualquer editora que os distribua (gratuitamente ou não) por bibliotecas, escolas e particulares não tem razões para protestar contra esses actos de “pirataria”(?) porque a sua obra “ganha valor”?
Sim. Porque haveria de protestar se ele ganha mais com essa distribuição do que sem essa distribuição? Imagina o Homero a prostestar porque as pessoas recitam os poemas dele sem autorização em espaços públicos? Isso é uma mentalidade anti cultural. Quem não tem inteligência suficiente para perceber isso nem se devia considerar autor.
Elisabete Joaquim (4),
O escritor ganha mais se não receber nada pelos downloads nem pelas cópias dos seus livros?! Como?
Está a falar a sério? Não percebe como é que uma obra ser conhecida mundialmente significa promoção gratuita para o autor?
Elisabete Joaquim (6),
Pergunta se EU estou a falar a sério?!
Quer-me parecer que nem sequer percebeu a pergunta que lhe foi colocada (o que até confere com a sua pretensão de achar que deve poder decidir pelos outros o que é melhor para eles e que, concordem ou não, nem sequer devem protestar senão são estúpidos).
De que adianta ao escritor que a sua obra seja mundialmente conhecida se não ganha nenhum dinheiro com ela enquanto outros ganham?
Se a Elisabete escrever um livro, o der a alguém para rever, essa pessoa o colocar online sem a sua autorização e uma qualquer editora o descarregar, publicar e vender sem lhe pagar um cêntimo, a Elisabete vai ficar agradecida?
Está a falar de plágio? Não é esse o assunto aqui nem nunca foi. O assunto é a promoção de dada obra servir para aumentar a quantidade de pessoas potencialmente interessadas em comprar a obra. Quando a obra de dado autor é distribuída através da pirataria, o seu nome está sempre anexo à mesma, não há usurpação da identidade ou plágio. Depois quem gosta irá comprar a obra física, ou pagar para ver o autor, ou outros, etc.
Elisabete Joaquim (8),
Não, não estou a falar de plágio. Estou a falar de a obra ser distribuida, em formato digital ou físico, sem a autorização do autor e sem que este receba quaisquer royalties. O autor ser reconhecido como tal é um aspecto lateral e irrelevante para esta discussão.
A questão que lhe coloquei no meu último comentário é bem explícita e directa. Apenas posso concluir não a leu pelo que vou repeti-la:
Se a Elisabete escrever um livro, o der a alguém para rever, essa pessoa o colocar online sem a sua autorização e uma qualquer editora o descarregar, publicar e vender sem lhe pagar um cêntimo, a Elisabete vai ficar agradecida?
Quanto a “Depois quem gosta irá comprar a obra física, ou pagar para ver o autor, ou outros, etc.”, a Elisabete continua a pretender estabelecer como facto generalizado o que não passa de uma opinião e não é demonstrável para um único autor.
Quantas pessoas conhece que, depois de lerem um livro, ouvirem uma música ou verem um filme vão comprar a “cópia física”? Pouquíssimas. E mesmo essas compram ordens de grandeza menos do que o que consomem, a menos que consumam muito poucas cópias pirata.
Já nem sequer a novidade é motivo para comprar, alugar ou pagar para ver um “original”, quando cópias pirata estão disponíveis por vezes ainda antes de os originais chegarem às lojas.
Quanto cada autor beneficia com a divulgação generalizada e gratuita de todas as suas obras, sem qualquer controlo por parte dele, é impossível de medir. A Elisabete pretender estabelecer como facto que todos beneficiam só demonstra uma confrangedora estreiteza de vistas, assim como torna irónico que se refira à suposta falta de inteligência de outros.
Mas o pior da sua posição é pretender que a sua opinião sobre esta matéria se imponha à dos autores. É que a Elisabete não se limita a tentar convencer os autores do que acredita ser melhor para eles. A Elisabete defende que a vontade dos autores sobre se as suas obras podem ou não ser distribuidas gratuitamente seja completamente irrelevante. Ou estou enganado?
Mais uma vez, perante uma questão clara e objectiva, a Elisabete faz-se de desentendida e abandona a discussão. Nem sei porque fico (um pouco) surpreendido.
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