Um génio

Pedro Nuno Santos, um deputado da Nação que a Nação desconhecia, declarou ao mundo que tem para com os credores do país mais ou menos o mesmo sentimento que Eduardo Ferro Rodrigues nutria pelo segredo de Justiça: o deputado do PS disse que se está “marimbando para os bancos alemães que nos emprestaram dinheiro nas condições em que nos emprestaram”. Segundo o dr. Santos, Portugal tem uma “bomba atómica” que pode “usar na cara dos alemães e dos franceses”: exclamar em fervor patriótico “ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos a dívida”.

Na cabeça deste senhor, mal tais palavras saiam da boca do governo pátrio, “as pernas dos banqueiros alemães até tremem”. Infelizmente, as dos portugueses também tremerão, mas de fraqueza, causada por manifesta falta de nutrição. Não ocorre ao dr. Santos que, a partir do momento em que Portugal não pagasse a sua dívida, seriam os portugueses quem mais sofreria. Não ocorre ao dr. Santos que, se Portugal não fizer um esforço para dar confiança aos seus credores, ninguém nos empresta mais dinheiro, e o país ficará num estado ainda mais precário do que aquele em que o seu antigo chefe Sócrates a todos nos deixou. O dr. Santos não se deixa amedrontar por tais cenários: ele não quer colaborar no “servilismo” dos “políticos europeus” para com “os mercados”, porque acha que “em primeiro lugar” está a defesa dos “interesses nacionais”: o dr. Santos não se preocupa com as consequências de isolar Portugal do mundo, mantendo o país longe de poder pedir dinheiro emprestado durante sabe Deus quantos anos, condenando os indígenas a uma pobreza que nunca julgaram ser possível nos nossos dias, desde que não sejamos “servis” perante “os mercados”. É um génio, o Dr. Santos.

23 pensamentos sobre “Um génio

  1. Regina Nabais

    Eu não lhe chamaria génio, mas antes inimputável. Este tipo de desempenho político, por parte de um deputado de um partido com responsabilidades, é que não deveria ser pago pelo erário público.

  2. o fantasma

    Com deputados destes estamos bem servidos.Parabens a todos aqueles que lhe deram o seu voto.
    Mas há mais,estão é emcapotados.
    Isto é que “é fartar vilanagem” Camões tinha razão antes de tempo.

  3. Pingback: Na mouche (5) « Magna Opinione

  4. por

    Off-topic: Para quem quiser ver o debate Republicano de hoje ( é o último antes da primeira primária no Iowa) ficam dois links para livestream:

    http://88.80.17.89/user/mediaplayer/player.swf?autostart=true&controlbar.position=over&streamer=rtmp://109.201.135.51/live/&file=foxnews.flv (este é certo)

    http://www.foxnews.com/politics/elections/index.html (o debate vai transmitir no site oficial da Fox, não tenho a certeza se é este o link mas se procurarem encontram)

  5. Ramone

    Li algo hoje de uma empresa alemã de submarinos que terá subornado pessoas para ter acesso ao anterior governo PSD/PP. Mas já não está nada, ou quase, nos jornais. Vocês sabem de alguma coisa? Não. Não houve um post sobre isto?

    Não deve ser nada de importante, então.

  6. O discurso subentendido é que os países periféricos se devem juntar para renegociar a dívida. Quantos casos de sucesso de renegociação de dívida com o FMI há fora da Europa, nas últimas décadas? Não é assim tão descabido.

  7. (A renegociação da dívida não é descabida porque nos casos mais recentes os mercados ganharam confiança aos países que reestruturaram a dívida e ao fim de três anos estavam muito melhor, ao contrário dos PIIGS que recorreram à austeridade. Já se sabe que a solução é inflacionista e isso não agradará aos liberais, mas num mundo governado por bancos centrais, que viabilidade tem a vossa solução de austeridade e recessão a curto prazo?)

  8. ricardo saramago

    Há gente que continua a pensar(?) que se enriquece gastando mais…
    Devem ter uns fios trocados na caixa dos fusíveis.

  9. ricardo saramago

    Não é a diminuição dos gastos que provoca a recessão. Foi a contracção de dívida sem contrapartida de aumento da produção de riqueza.
    Chama-se a isso falência.
    Para sair da falência só há uma receita: diminuir os gastos, criar superavits, investir bem esses superavits e reembolsar a dívida com os rendimentos adicionais.
    O caminho doloroso é o mesmo para pessoas, empresas ou países.

  10. lucklucky

    “E porque é que a política de gastar menos está a arruinar a Grécia e a Irlanda?”

    Ora eu que pensava que era porque eles gastaram demasiado o que não produziram.
    Não acha estranho que todo esse dinheiro não tivesse retorno?
    E você insiste que se deve continuar no que não funcionou?

    Acha que se deve gastar permanentemente e cada vez mais o que não existe?É adepto de contabilidade criativa?

  11. Ramone

    A Alemanha assinou os documentos que estabeleciam as dívidas de reparação da 1ª Guerra, mas chegou a um ponto em que mandou os credores dar uma volta ao bilhar grande e lançou a europa numa nova guerra mundial. Está aí o que valem os compromissos e o pagamento da dívida quando leva ao empobrecimento extremo em países poderosos. Que vocês adiram agora ao discurso deles de que o pagamento da dívida é uma questão acima de todas, e a medida da honra de um país, mostra bem o quão servís e seguidistas vocês são.

    A Inglaterra, “amiga” de longa data, com um tratado com Portugal, dos mais antigos da europa, quanto sentiu necessidade simplesmente cagou de alto em nós e lançou-nos um ultimatum. Eis mais um exemplo do que é a amizade e o respeito dos tratados por parte dos poderosos.

    O pagamento da dívida deve fazer-se apenas enquanto for mais vantajoso pagar do que não pagar. Este é o único critério para um país. Quem fala de honra, como fala o palhaço do apresentador do vídeo de hoje no correio da manhã, serve objectivamente apenas os interesses dos credores.

  12. por

    Quem mais perdeu com isto tudo foram eles, mal fez a Alemanha em ter abdicado da moeda mais poderosa da Europa, para ir nas conversas de Mitrerrands e andar a sustentar meia dúzia de Estados-providência com este Euro.

  13. Há por aqui uma data de gente que considera que quando se tem uma dívida esta deve ser paga por todos os meios e os devedores devem obedecer a todos os caprichos dos credores, sejam eles quais forem.
    As razões da existência da dívida, por exemplo, são perfeitamente secundárias.
    No nosso caso, por exemplo, o facto da dívida ser causada em grande parte por razões que fogem ao controle do Governo português, parece não interessar.
    Faço é uma pergunta a estes cavalheiros que acham que, se necessário, morremos à fome, mas não pagar ou pagar atrasado, isso nunca.
    Vamos supor que um destes cavalheiros está a dever ao banco o dinheiro da casa e que é funcionário público.
    Um dia recebe uma carta do banco pedindo a liquidação imediata da dívida pois os funcionários públicos tiveram cortes nos seus rendimentos e com esta baixa passou a ser um risco de crédito.
    Felizmente existe uma organização a que se pode pedir ajuda nestes casos.
    A tal organização paga a dívida ao banco ficando o devedor em dívida perante a organização que lhe estabelece um pagamento mensal relativamente baixo, um spread só duplo do que o banco fazia.
    Para garantir o pagamento do empréstimo o nosso herói tem de cumprir algumas condições:
    a) Vender toda a mobília da casa e electrodomésticos excepto duas camas, uma mesinha, quatro cadeiras e um fogão.
    b) A mulher e a filha (que já tem dezoito anos) devem ir trabalhar numa casa de massagens (e não só) que a tal organização possuí.
    c) O filho deve sair da Universidade e ir, à pressa, arranjar um emprego.
    d)Como a casa (um T3) tem uma sala com 35 m2, esta deve ser suficiente. Portanto muda-se para lá as camas, mesa e cadeiras. Os restantes quartos devem ser privatizados, isto é, alugados.

    E, no fim, o tal represente da benemérita organização, vira-se para o nosso herói e diz:
    -Olha lá, tens um rabinho muito jeitoso, manda as calças para baixo e vira-te de costas…

    Claro que isto é um disparate mas não é muito diferente do que a Troika nos está a fazer.-
    É que ser credor não dá poderes ilimitados ao credor sobre o devedor.

  14. Paulo Pereira

    A Alemanha devia sair do Euro para não ser obrigada a “pagar” o despesismo dos paises perifericos.

    Devemos todos apoiar a Alemanha nesse sentido, que é acima de tudo justo.

  15. “A Alemanha devia sair do Euro para não ser obrigada a “pagar” o despesismo dos paises perifericos.”

    ????

    Que despesismo dos países periféricos? A dívida consolidada portuguesa, por exemplo, é de cerca de trinta mil Euros por habitante, sensivelmente igual à dos Estados Unidos, a da Alemanha é de cerca de 50.000 Euros por habitante e a Irlandesa de trezentos e tal mil Euros.

    Onde está o despesismo dos países periféricos?

    Depois a Alemanha ganha com os problemas dos tais países periféricos que mantêm o Euro a uma cotação mais baixa do que teria se o Euro fosse só uma moeda alemã.

    Na prática o problema não é a Alemanha, ou Portugal sair do Euro. Todos os países que aderiram ao Euro deviam sair dele simultâneamente!

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  17. o fantasma

    Se ouvesse um bocadinho de respeito,de vergonha,esse senhor nunca deveria ter entrado novamente na A.da R. Pura e simplesmente o comissário politico do partido escreveria um bilhetinho,dizendo simplesmente.Emprego perdido!.

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