Alguma esquerda escandalizou-se com o discurso do Secretário de Estado da Juventude e Desporto em São Paulo no qual afirmou que os jovens devem ter a coragem de sair da sua zona de conforto e ir além das suas fronteiras para encontrar alternativas de emprego. Em primeiro lugar as críticas parecem desvalorizar o contexto do discurso, ou seja, o Secretário de Estado discursava para um grupo de emigrantes e tentou dessa forma louvar as opções da sua assistência. Porventura, alguns preferiam que o Secretário de Estado mentisse e fosse mendigar o regresso daqueles emigrantes ao país de origem. Mas esquecendo o contexto, resta sublinhar o pequeno pormenor de que o conselho é bom. E é bom não só para os jovens, mas para o país.
Para percebermos porque é que é a emigração é positiva para o país, é preciso entender o porquê deste recente fluxo migratório. O problema português é ausência de capital. Os altos impostos, um mercado de trabalho inflexível, fracos hábitos de poupança e uma profunda aversão social à acumulação de riqueza fez com que, aos poucos, o capital fugisse do país. No fundo é disto que se fala quando se diz que “existem excesso de doutores”. Portugal só tem excesso de mão-de-obra qualificada quando comparado com o volume de capital acumulado necessário para a rentabilizar. Engenheiros precisam de fábricas para dirigir e gestores de empresas para gerir. Ter muita mão-de-obra qualificada num país sem capital acumulado é como ter muita gasolina mas não ter carros onde a colocar. A única solução é a eliminação de políticas que esvaziam o stock de capital do país, entre as quais a diminuição da dívida pública, a diminuição dos impostos e a flexibilização da legislação laboral. E sim, os cortes terão de passar pela educação, ou seja, pela formação dessa mão-de-obra qualificada. Não vale a pena continuar a vender aviões para formar pilotos, quando estes não têm o que pilotar.
Um país com excesso de mão-de-obra qualificada só tem uma forma de a rentabilizar: exportando-a. Aos “enviar” essa mão-de-obra qualificada para regiões com mais capital acumulado, concerteza que alguma será perdida para sempre, mas muita será rentabilizada e o retorno virá sob a forma de remessas, know-how, turismo e espírito empreendedor. Será pouco, dirão alguns, mas neste momento é o melhor que os governantes de um país falido podem aconselhar aos seus cidadãos.
Caro CGP,
O SEJD apenas está a recomendar uma solução que tem sido usada em Cuba. Formar e exportar. E depois não se esqueçam de mandar uma poupanças…
Em Cuba é o oposto. Impedem que eles saiam.
Caro CGP,
Cuba tem exportado mão de obra diferenciada, nomeadamente médicos e isso é uma política explícita do governo.
Verdade, mas isso não contraria nada do que está dito no texto. Repare nesta parte do texto: “A única solução é a eliminação de políticas que esvaziam o stock de capital do país, entre as quais a diminuição da dívida pública, a diminuição dos impostos e a flexibilização da legislação laboral. E sim, os cortes terão de passar pela educação, ou seja, a formação dessa mão-de-obra. Não vale a pena andar a vender os últimos aviões para formar pilotos.”
Concordo plenamente com este post.
muito bem.
Caro CGP,
Quando diz:
A única solução é a eliminação de políticas que esvaziam o stock de capital do país, entre as quais a diminuição da dívida pública, a diminuição dos impostos e a flexibilização da legislação laboral.
Está cheio de razão. Por isso é que fica péssimo a um membro do governo sugerir a emigração antes de resolver, ou procurar resolver, estas dificuldades.
Por outro lado um país não é uma folha excel. Precisamos de todos, todos podem dar contributos valiosos, mesmo fora das suas áreas de especialização (um conceito muito ultrapassado). Um gestor não é um número, uma estatística. É um concidadão, deve ter lugar à nossa mesa, como um “familiar”.
“Portugal só tem excesso de mão-de-obra qualificada em relação ao volume de capital que conseguiu acumular.”
Não, Portugal tem um excesso de mão-de-obra cujas qualificações não correspondem ao volume e natureza do capital. O sistema educativo português não forma individos para as necessidades nacionais mas sim para as necessidades de outros países.
O nosso problema é que passamos demasiado tempo a formar “doctores” e “engenheiros” em vez de formar trabalhadores e empreendedores.
Estou a ver que sendo esse negócio afinal tão bom justifica-se então a manutenção do melhor acolhimento do mundo que acolhe e forma quem se apresentar nas escolas que não são SEF.Afinal um “grande” investimento com retorno “garantido”…