3 Tipos de Liberais Económicos

Existem basicamente (claro, pode-se esmiuçar muito mais) 3 tipos:

1. Anarco-capitalistas ou simplesmente Anarquistas – Seguindo a tradição de Rothbard, defendem Estado 0. Mas Zero mesmo. Segundo estes, o Estado é Imoral (retira o que o Povo por intenção não lhe daria), ineficiente (vá, esta não tenho de justificar…) e é definido por ser “o Agente com monopólio do uso da força numa dada geografia”.

Defendem que se o Estado não é capaz de lidar com os Correios, também não lhes devemos confiar o “botão vermelho” (do arsenal nuclear). Defendem assim uma defesa à Suiça, tribunais arbitrais, empresas de segurança privada e a liberdade absoluta de contrato. Deduzem todas as suas regras baseando-se no primado dos 3 direitos essenciais: à Propriedade (direito a manter os frutos do trabalho passado), à Liberdade (liberdade de fazerem o que quererem – sendo responsáveis pelas consequências) e à Vida (direito ao futuro). Podem ver a sua filosofia explícita neste vídeo de 8 minutos.

2. Minarquistas ou Defensores do Estado Mínimo – Seguindo a tradição de Mises, defendem o Estado Mínimo que garanta, na tradição de Adam Smith, “Paz, Impostos Baixos, e uma Tolerável Administração da Justiça”. O Estado existe apenas para permitir às forças do mercado operarem e, como árbitro, nunca se deverá tornar jogador em qualquer sector: seja ele educação, saúde, telecomunicações, redes básicas (utilities), ou qualquer outro.

3. Monetaristas ou pertencentes à Escola de Chicago – Segundo a tradição de Friedman, defendem um estado mínimo em termos fiscais, mas defendem depois todo o tipo de Intervenções no Mercado Monetário, onde o Estado ou uma entidade “independente” deste possa regular a moeda.

Eu chamaria os primeiros de Ultra-Liberias, os segundos de Liberais Clássicos e os terceiros de Liberais Soft, mas isso talvez seja já o meu Misesianismo a falar.

A 1ª e a 2ª são mais coerentes e mais académicas, enquanto a 2ª e a 3ª a mais fáceis de defender politicamente (Anarquismo não cai bem entre políticos, havemos de convir…).

O 1º e o 2º são defendidos pelo Instituto Ludwig von Mises, enquanto o 3º é defendido pelo Instituto Cato.

Podem consultar material para estudo, ver vídeos e consultar páginas dos Institutos nesta página de Links.

28 pensamentos sobre “3 Tipos de Liberais Económicos

  1. lucklucky

    Bom resumo. Estou no 2 mas não estou no com a maioria dos Miseanos no que respeita à “Paz” deles.

  2. Atenção que alguns desses Liberais, seja do 2º ou do 3º, como Hayek ou Friedman, respectivamente, defenderam, em determinados contextos, certas formas de intervenção estatal, incluindo sectores como a educação.

  3. Ricardo Campelo de Magalhães

    Hayek é um 2 e 1/2… se ele fosse mais relevante até criava um ponto para ele 😉

  4. Pi-Erre

    O Estado não deve intervir na economia nem mesmo como regulador. Também não deve intrometer-se nos assuntos dos outros países, excepto se for agredido. Estou com os seguidores da Escola Austríaca e com a corrente institucionalista informal. É preciso defender a paz e a liberdade.

  5. PMP

    Mas seria bom que os diversos tipos de liberais percebessem que numa sociedade avançada tecnológicamente e económicamente é necessário a intervenção do estado para estabilizar a economia, através de medidas anti-ciclicas.

    O que implicará que apenas a 2ª e 3ª correntes serão realizáveis na prática.

  6. Ricardo Campelo de Magalhães

    PMP,
    Nós não percebemos mesmo isso das medidas “anti-cíclicas”. Já me explicaram isso diversas vezes e já fiz até apresentações sobre elas (sobre o erro que elas encerram, mais concretamente), e ainda hoje não percebi como alguém se lembrou disso e não se importa de provocar o “business cycle”. Mas geralmente quem percebe isso cai no grupo sobre o qual escrevi o outro post hoje 😉

  7. Parece que a questão da “propriedade” e da existência de “empresas de segurança privada” para proteger essa propriedade privada, marca a diferença entre o anarco-capitalismo e o anarco-comunismo e até, o anarquismo, propriamente dito.

    É curioso verificar que existiram anarquistas socialistas, não socialistas e até anti-socialistas.

    O anarco-capitalismo parece ser uma contradição nos seus termos. A anarquia não se compadece com a propriedade privada. O anarco-capitalismo não é anarquismo, é outra coisa qualquer.

  8. GriP

    “Hayek é um 2 e 1/2… se ele fosse mais relevante até criava um ponto para ele”

    Eu diria mais um 3:

    “Nor is there any reason why the state should not assist the individuals in providing for those common hazards of life against which, because of their uncertainty, few individuals can make adequate provision. Where, as in the case of sickness and accident, neither the desire to avoid such calamities nor the efforts to overcome their consequences are as a rule weakened by the provision of assistance – where, in short, we deal with genuinely insurable risks – the case for the state’s helping to organize a comprehensive system of social insurance is very strong… Wherever communal action can mitigate disasters against which the individual can neither attempt to guard himself nor make the provision for the consequences, such communal action should undoubtedly be taken,”

    Friedrich Hayek, The Road To Serfdom

  9. Carlos Novais

    “O anarco-capitalismo parece ser uma contradição nos seus termos. A anarquia não se compadece com a propriedade privada. O anarco-capitalismo não é anarquismo, é outra coisa qualquer.”

    Ordem natural no sentido da tradição jusnaturalista pode ser mais adequado: Ninguém diria que a Idade Média era anarquista, mas dado a pulverização de soberanias, da ausência de um estado moderno, da diversidade de fontes de direito ( o feudal, canónico, das cidades, imperial, das corporações…) pode-se falar em ausência de monopólio territorial de uma fonte legislativa centralizada com capacidade de impor direito. Nada disso. Como tal “anarquismo” nesse sentido era o seu estado político, no entanto o direito era uma coisa muito séria (de domínio abslouto) e intemporal.

    Ou seja, na ausência do direito legislativo, o direito tende a ser estável e aproximar-se do direito civil universal de direitos negativos. Daí a propriedade ter de domínio absoluto.

    Quanto ao liberalismo clássico, este não é incompatível com esta “ordem natural”, nem por sombras. Mises defendeu o direito de secessão e isso é tudo o que é necessário para compatibilizar o liberalismo clássico com os ancaps, no meu entender.

  10. PMP

    Ricardo Campelo de Magalhães ,

    Numa economia moderna com credito o sector privado é altamente pro-ciclico, ou seja investe e consome mais quanto mais o investimento e o consumo cresce. Isso é uma caractristica inata do ser humano.

    Quer por um choque externo (crise politica, terrorismo, catastrofre natural, etc.) chega-se a um momento (Minsky moment) em que uma parte importante das empresas/entidades financeiras não conseguem refinanciar os creditos e começasm a liquidar activos, as acções descem, o investimento decresce abruptamente, as empresas despedem, o consumo baixa, inicia-se uma recessão que dependendo da magnitude do ciclo de crescimento do credito pode acabar numa depressão.

    Só o sector publico pode contrariar este ciclo para impedir uma recessão ou depressão profunda, através de despesa publica ou baixa de impostos concentrada nos que mais consomem.

    Ou seja, o liberalismo económico, como o defendido por Keynes, necessita de um estado capaz de manter a economia num patamar de estabilidade, o que é relativamente simples de conseguir através do aumento ou diminuição de impostos conforme o ciclo económico (em contra-ciclo) e da despesa pública. O tamanho do estado não é assim muito importante, desde que este mecanismo seja compreendido e executado continuamente.

    Claro que isto só é válido num regime de moeda própria.

  11. Os especuladores privados estão a precisar de concorrência pública a sério… nos sectores considerados vitais/estratégicos para a economia!…

    NOTA 1:
    Não está em causa o Direito à iniciativa privada… o problema que está em causa é o seguinte: existe pessoal a querer-se ver livre da concorrência pública… para depois manobrar uma cartelização (leia-se roubalheira) a seu belo prazer: veja-se o que aconteceu com o preço da gasolina…

    NOTA 2:
    Não há necessidade de o Estado abrir cafés… porque é fácil a um privado quebrar uma cartelização.
    Agora, em produtos de primeira necessidade – que implicam um investimento inicial de muitos milhões – só a CONCORRÊNCIA de empresas públicas é que permitirá combater eficazmente a cartelização [leia-se roubalheira] privada.

  12. Carlos Novais

    “Friedman defendia “todo o tipo de Intervenções no Mercado Monetário”?”

    Bancos Centrais

    “Numa economia moderna com credito o sector privado é altamente pro-ciclico,” deve ser substituído por

    Numa economia moderna com um sistema monetário estatista cuja legislação torna legal e incentiva a expansão de crédito por criação monetária.

  13. JS

    Bom “Paper”. Sistematização, numa área importante e controversa, ajuda. Os vivos comentários, já suscitados, atestam-no. Permitam-me.
    O termo Estado/economia -mais ou menos interventor na economia- tanto se pode referir a um Estado/economia como o colosso Estados Unidos da America, como ao -em formação ?- Estado/economia União Europeia (muito em voga), como ao Estado/economia pindérico e hiper-dependente Portugal, que muito nos toca.
    Será possível simpatizar, apologética e indiscriminadamente, com o modelo 1, 2 (2 1/2) ou 3, ou … depende?

  14. Paulo Pereira

    Carlos Novais,

    O sistema monetário moderno estatal (fiat-money) articulado com o crédito bancário privado foi responsável por um aumento impressionante da qualidade de vida da humanidade nos ultimos 65 anos.
    As fantasias austriacas não são viáveis no mundo real.
    A economia tem regras elementares que advêm da natureza humana e da forma como se pode organizar uma sociedade tecnologicamente avançada.
    E o sistema politico-economico social-democrata que vigora na generalidade do mundo é o que revelou maior eficácia quer no plano do bem estar material, quer no plano da manutenção a longo prazo das liberdades fundamentais.

  15. tiago

    Pelos vistos, nada para além do status quo parece viável no mundo real, mesmo que o status quo esteja a desmoronar-se à frente dos nossos olhos.

  16. Tiago

    Muito obrigado pela referência.

    Vi atentamente o filme de propaganda, que se refere às diferenças entre anarco-comunismo e anarco-capitalismo. Sinceramente, não me agrada nem um nem outro.

    Num caso, o individualismo é levado ao máximo, é o “tudo é meu” do anarco-capitalismo. Neste tudo vale para conservar ou ampliar uma propriedade, que por vezes foi conquistada de forma ilícita. Apropriada. No outro caso temos o “tudo é de todos” do anarco-comunismo.

    Talvez o melhor seja seguir a via aristotélica do meio termo e procurar o melhor sistema entre os dois extremos polares.

  17. Rodrigo

    Caro Paulo Pereira,

    A Escola Austriaca é a unica que acenta as suas premissas nas “…regras elementares que advêm da natureza humana e da forma como se pode organizar uma sociedade tecnologicamente avançada”

    BTW: O longo prazo chegou, mas pode ser adiado se os BC mandarem imprimir mais notas…

  18. PMP

    Caro Rodrigo,

    A Escola Austriaca mistura ideologia/filosofia como sendo economia.

    Nenhuma economia tecnologicamente avançada existe sem um estado minimo.
    O sistema monetário, fisca e a regulação bancária fazem parte desse estado minimo, tal como a justiça e a defesa por exemplo.

    Pensar o contrário é não entender nada em como funciona a economia e é apenas um exercicio futil sem aplicação concreta no mundo actual.

    A invenção do fiat-money permitiu às sociedades avançadas atingir niveis de desenvolvimento, bem estar e liberdade nunca antes alcançadas, pois permite utilizar ao máximo a tecnologia, a força de trabalho e a criatividade de cada cidadão.

    A teimosia de alguns liberais em não quererem perceber que a liberdade só existe numa sociedade rica é apenas isso , uma teimosia infantil.

  19. Ricardo Campelo de Magalhães

    Friedman era um esquerda em questões monetárias.
    Tenho mesmo de colocar links aqui sobre o que dizem no Instituto Mises sobre Friedman?!?

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