Um instante

 

Manhattanhenge.

Foi um dia estranho aquele em que toda a gente, independentemente do que estivesse a fazer, numa reunião no escritório, a falar ao telefone, a conduzir um autocarro, a guiar o seu automóvel, a atravessar a rua, a limpar as sarjetas, a vender jornais e revistas mais os brindes a acompanhar, a conversar, a comer e a beber, parou. Pararam e viram o sol a pôr-se atrás dos prédios, dos telhados, dos candeeiros das ruas, das colinas da cidade, atrás dos vultos que se punham à frente. A luz começou com um amarelo forte, depois alaranjou, ficando vermelho a seguir, um vermelho intenso, o sol redondo como uma bola de neve feita por miúdos e pronta a ser atirada contra quem passasse. E logo novamente a cor laranja, o sol a baixar, a colocar-se por trás de tudo o que o pudesse tapar, objectos e barreiras que nos diziam que aquilo teria fim, que não era para sempre, que valia a pena largar o que se estivesse a fazer, desistir do que se estivesse a pensar, deixar o serviço a meio; uma pequena interrupção no dia-a-dia, um breve instante a dizer-nos que estávamos vivos e que valia a pena, um pequeno aparte de Deus, alguma coisa, algo em que se quisesse acreditar. A luz a apagar-se e a normalidade não natural a continuar como até então. (inicialmente publicado aqui, aconteceu agora novamente).

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