Continuando-se, agora em versão comunitária:
Zé Aníbal, ciente dos estragos causados pelas confissões do Tó Sovina, e das portas consequentemente cada vez mais fechadas do comércio que desde aí tem tido que enfrentar, decide partir para o contra-ataque.
Mesmo depois de ter cortado lá por casa uma refeição à mulher e aos filhos, um preço desgraçado a pagar pelo infortunado Zé Aníbal para poder continuar a beber o seu copito básico e essencial de single malt nos serões difíceis cada vez mais frequentes, a vida parece cada vez mais insuportável, e uma reacção impõe-se.
Vai daí, decide um dia sair de casa e ir ter com a amiga Chica Riquita, presidente emérita de longa data da junta de freguesia e toda-poderosa responsável pelas compras do catering das festas do santo padroeiro. Para além disso, assídua frequentadora das festas e, consta-se, companheira de outros bons momentos do nosso Zé Aníbal.
Em nome dos tempos bem passados e da possibilidade de eles continuarem a existir nos termos que ambos tanto gostam de desfrutar, lá consegue convencer a Chica a fazer um périplo pelas lojas do bairro a, como quem não quer a coisa, dizer o quanto o Zé Aníbal é um rapaz promissor, que até consta vai ser aumentado no emprego e que até um filho vai sair de casa e deixar de ser um encargo.
E lá vai a Chica. Que o Zé Aníbal anda cansado e que já até nem é homem de grandes festas, e só precisa de uma mãozinha para repor a mercearia, depenada pelas últimas extravagâncias, que até nem foram culpa dele, mas sim de uns vizinhos de gostos exagerados que por lá iam passando.
O problema é que os merceeiros sabem bem o tempo que a Chica passa na cama do Zé, e conhecem bem as encomendas de Krug que seguiam para as festas com destinatário conhecido: parece que a presidente(a?) gostava das cócegas no nariz. Vai daí, a missão não tem bem o desfecho esperado, e os livros de fiado continuam fechados e bem fechados.
Epílogo: A perspectiva de acabarem as boas festas e de os danos causados pelo Tó Sovina se estenderem a outros elementos do círculo de amigos da Chica forçam-na a tomar uma posição de força: a partir desse dia, os livros de fiados têm obrigatoriamente que ser certificados pela junta de freguesia. Mais: a recusa em fiar passa a ter que ser sancionada pela junta, que passará a ponderar comportamentos menos correctos aquando da renovação das licenças ou na altura de fazer encomendas para as festas do santo.
Assim, tudo termina bem: o Zé Aníbal retoma a rotina, a junta prossegue a sua missão. Mas é curioso que nos últimos tempos tenha havido tantas lojas a fechar. Já não há respeito pelo bem comum e pelo bairro.