Adolescência eterna (2)

Desde hacía miles de años, antes incluso de que las cóncavas naves zarparan rumbo a Troya, hubo hombres con arrugas en torno a la boca y lluviosos corazones de noviembre – aquellos cuya naturaleza los decide tarde o temprano a mirar con interés el agujero negro de una pistola – para quienes el mar significó una solución y siempre adivinaron cuándo era hora de largarse.

Arturo Pérez-Reverte, La Carta Esférica

E quais serão as causas? Talvez o desaparecimento de uma clara divisão entre o mundo dos homens e o mundo das mulheres. Hoje, um homem já não tem espaço para a solidão, nem para os tais “jogos”, que sempre existiram, mas que ficavam ali, entre paredes, no mundo dos homens. Quando se pede aos homens que assumam papéis nos quais não se sentem confortáveis (aulas de parto e assistir aos partos são algumas das modas idiotas das últimas décadas), é normal que adiem o compromisso. Quando existe uma pressão social no sentido de domar as famílias e conduzi-las pelos bons caminhos progressistas (agora as crianças devem estar sempre com os pais, agora as crianças não podem ser castigadas, agora as crianças são tratadas como jovens adultos e não como…crianças!), é normal que um homem não se deixe levar tão facilmente para esse inferno. A natureza humana não muda. Os tempos sim. E não se esqueçam que, se é verdade que o “pai forte e presente” é uma figura do nosso passado e da nossa cultura, também houve (e há) aqueles que sentiam o apelo do mar e “desapareciam” durante meses. E foram esses que conquistaram o mundo.

6 pensamentos sobre “Adolescência eterna (2)

  1. A mim o que me parece é que algumas mulheres estão escandalizadas ao descobrirem que homens com X+Y anos de idade, solteiros e sem filhos, comportam-se como homens com X anos de idade, solteiros e sem filhos, em vez de como homens com X+Y anos de idade, casados e com filhos.

    É engraçada a parte “They are more like the kids we babysat than the dads who drove us home”; bem, se elas querem namorados que se comportem de forma parecida com homens casados com filhos (os tais “the dads who drove us home”), eu só imagino uma solução que faça sentido (com o bónos adicional de, em vez das tais conversas imaturas sobre o Star Wars, terem conversas “maduras” à volta do tema “já contaste à tua mulher?”).

    Acerca das causas – talvez por deformação curricular eu prefiro procurar explicações económicas:

    a) os rendimentos mais altos tornam a opção “sair de casa dos pais para ir viver sozinho” mais viável, e provavelmente um adulto solteiro sem filhos tende naturalmente a ter um comportamento parecido com um adolescente solteiro sem filhos (isso nota-se menos entre as mulheres simplesmente porque as adolescentes já tendem a ter um comportamento parecido com o comportamento que é esperado nas mulheres adultas)

    b) as mulheres sempre terão sido mais “responsáveis” que os homens mas, enquanto os homens ganhavam mais que as mulheres não se sentiam à vontade para reclamar que o marido/namorado passava os fins de semana na pesca; agora que ganham o mesmo ou mais, tendem a ver tais comportamento como “imaturidade” em vez de como “ele farta-se de trabalhar para ganhar dinheiro, tem que descontrair”

    c) com a internet, muitas diversões tornaram-se praticamente gratuitas, logo a procura aumenta

  2. Mais um ponto – mesmo o tal “pai forte e presente” não será já uma reconstrução do passado? Na verdade, dá-me a ideia que os pais “tradicionais” podiam ser autoritários mas (pelo menos no que se refere aos filhos-rapazes) eram muito pouco totalitários – isto é, a sua autoridade era inquestionável, mas ao mesmo tempo acabavam por não se meter muito no dia-a dia dos filhos (já quanto às filhas, a gestão totalitária das suas vidas era da responsabilidade das mães, não dos pais).

  3. cf

    O que se passa na verdade é isto: muitas mulheres gostariam também de sair para comprar cigarros e voltar muitos meses depois, sabendo que tudo na casa continuava no seu lugar, os filhos tratados, os lençóis limpos (toda a gente, mesmo os homens, gosta de lençois limpos).
    O resto destas lucubrações do Reverte, que até costuma ser extremamente razoável, são filosofia barata.
    CF

  4. «É engraçada a parte “They are more like the kids we babysat than the dads who drove us home”; bem, se elas querem namorados que se comportem de forma parecida com homens casados com filhos (os tais “the dads who drove us home”), eu só imagino uma solução que faça sentido (com o bónos adicional de, em vez das tais conversas imaturas sobre o Star Wars, terem conversas “maduras” à volta do tema “já contaste à tua mulher?”).»

    Muito bom 🙂

  5. Pingback: Adolescência Eterna (3) « O Insurgente

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