A culpa não pode morrer solteira

É sabido que o sentido do meu voto é sempre no PSD e nos seus candidatos, com uma única excepção, na última eleição Presidencial. Percebo porém – embora considere que é um erro deixar cair nesta fase a única alternativa decente de que dispomos – todos aqueles que olham hoje para o partido laranja com algum desencanto, em virtude de certas decisões incompreensíveis nas escolhas e omissões na lista de deputados, e de algumas posições menos claras (mas também para já pouco importantes) quanto ao caminho a seguir. A escolha de Fernando Nobre como cabeça-de-lista por Lisboa, tem a sua gravidade, não apenas porque promove alguém cujas ideias políticas estão nos antípodas daquilo que o PSD deveria assumir, como determina a exclusão de António Capucho de um lugar que lhe deveria (numa lógica puramente “PSD”) pertencer, em particular num eventual apoio à Presidência da Assembleia da República. Não deixa ainda assim de ser uma decisão isolada. Não nutrindo actualmente de nenhuma simpatia pessoal pelo candidato, não vejo com a gravidade política que tem sido apresentada a escolha de Carlos Abreu Amorim, que sempre se situou à Direita, para as listas de Viana; reconheço-lhe capacidade intelectual e espírito combativo suficientes para assumir a responsabilidade que lhe está a ser acometida. Aceito também que gostaria de ver em lugares elegíveis alguns candidatos que foram excluídos, mas enquanto o sistema eleitoral for este, e as listas tiverem tão dependentes de estruturas locais, pouco mais se pode fazer.

Dito isto, fico estupefacto pela forma como tanta gente tem concentrado as suas energias no escrutínio de erros menores do PSD, sobretudo quando comparados com aqueles que nos conduziram até aqui, hoje, pela mão do Partido Socialista e do seu líder, José Sócrates.

Na verdade, se há questão que se coloca, antes de qualquer uma, nesta eleição, é se o PS deve ou não ser fortemente penalizado pela forma como geriu o país até à situação de profunda crise em que nos encontramos, não apenas no plano das decisões políticas, mas também da (falta de) seriedade com exerceu o seu mandato político. E, neste plano, não me suscitam dúvidas que esta eleição, como diria Popper, serve sobretudo para expulsar um dos governos mais incompetentes, irresponsáveis e manipuladores da realidade de que há memória em Portugal. A próxima campanha eleitoral deve colocar o PS no centro do debate, para que possamos fazer uma avaliação informada sobre a sua acção governativa nos últimos anos.

Depois, sim, deveremos perceber – todos aqueles que optem por considerar que o PS deve ser penalizado nesta eleição – quem é o Partido que merece um voto de confiança, aquele que se apresenta melhor preparado para governar, num tempo difícil e onde será necessária firmeza, clareza de ideias, e capacidade de formar largos consensos na sociedade portuguesa.

O que me parece estranho é que a discussão e o debate assente no jogo que o PS privilegia: desviar os holofotes e as críticas para o PSD, tentando fugir entre os pingos da chuva. E o resultado disso está à vista, e não poderia ser pior para um sistema político tão fragilizado quanto o nosso: querem mesmo permitir que os eleitores dêem uma nova oportunidade a este PS, que é competente, sim, mas só naquilo que corrói a Democracia, na arte de dissimular e fugir às responsabilidades?

12 pensamentos sobre “A culpa não pode morrer solteira

  1. lucklucky

    O PSD esteve de mão dada com o PS nos últimos 30 mil milhões de caminho para a bancarrota. Não tenho esperança nenhuma que tenham visto a luz em algum lado quando nem disso têm consciência.
    Um tipo pode votar contra o PS, mas se o PSD for para o poder a Esquerda vai ficar mais 15 anos depois destes durarem 1 ou 2 anos lá tal a sua inépcia.

  2. Infelizmente não será a melhor altura (e quando será?) mas não seria mau de todo o PSD partir-se em dois. Às vezes tenho dificuldade em perceber como encaixam no mesmo Partido pessoas como tu e gente como a Virgínia Estorninho. Se o PPD/PSD se dividisse talvez esta merda desse uma volta. Devemos ser o único país da Europa sem um grande Partido Conservador e isso não é bom para ninguém.

  3. «…O que me parece estranho é que a discussão e o debate assente no jogo que o PS privilegia: desviar os holofotes e as críticas para o PSD, tentando fugir entre os pingos da chuva…»</em)

    Rodrigo, isto não me parece estranhio, afinal o PS faz aquilo em que é realmente bom e que de resto, se alinha bem na sua matriz. O que me parece estranho e profundamente me descepciona é o eco,a caixa de ressonância que abrange, ao que parece, ainda 35% do eleitorado. Um eleitorado que é sensível, ainda, ao tipo de estratégias do PS não merece outra coisa senão apanhar com mais 4 anos de Sócrates. É bem feito. Os outros…olha… já estou como o outro. Há muito sítio para trabalhar e para viver ao abrigo de um grupo de idiotas mal formados que mantêm o nosso destino (e o nosso dinheiro) nas mãos.
    Um abraço

    Nelson Reprezas

  4. JS

    #8 E. “…ao que parece, ainda 35% do eleitorado….”
    Como esclarecia a acomodada D. Edit acerca das escolhas para a lista de “deputados”: São muitos. Não há “lugares” para todos….
    Bom, e seguro, seria “lugares” para 5 milhões mais um, todos socialistas.
    (Há quem diga até que são 6 milhões os dependentes !deste! Estado….)
    Se calha não serão só mais 4 anos de Sócrates. Serão 40 e tal anos.

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  6. Manuel Costa Guimarães

    Rodrigo,

    Não posso deixar de concordar com grande parte do teu post, mas a parte do “Dito isto, fico estupefacto pela forma como tanta gente tem concentrado as suas energias no escrutínio de erros menores do PSD, sobretudo quando comparados com aqueles que nos conduziram até aqui, hoje, pela mão do Partido Socialista e do seu líder, José Sócrates.” é mais importante do que parece.
    O PSD tem andado à deriva, sem apresentar uma solução que seja, sem qualquer estratégia (visível!) de comunicação e com erros que talvez fossem feitos nos primórdios do jogo político, quando andávamos a passar de Neandertal para Homo Sapiens. Estes erros demonstram, por muito menores que sejam, uma organização infantil no mínimo preocupante. Como é possível não atacarem incessantemente o tiranete das Beiras com todas as mentiras até agora?! Porque não uma comunicação agressiva que vise todo o gabinete governamental?! Não acredito que esta mansidão seja por uma “campanha limpa”. Ele está a ganhar porque está sempre a carregar na mesma tecla e a jogar com o clássico medo de quem vota e não quer perder direitos (partido Estado!). Enquanto que não tivermos um discurso realmente diferente, de esperança e garra, de trabalho e mérito, aquela corja vai continuar a ganhar ou a perder por pouco!
    Só conseguem desviar os holofotes quando tomarem as rédeas da democracia, expondo este governo pelo que ele é: um eucalipto.

    Abraço,
    Manel

  7. Manuel Costa Guimarães

    Em vez de andarem a pôr o homem em revistas cor-de-rosa, a armar-se ao Obama, que ele não é nem a mulher, deviam seguir o exemplo do Santana Castilho e relembrar a populaça:

    O grande maestro, José Sócrates Pinto de Sousa
    Santana Castilho *
    .
    Frederico II, O Grande, rei da Prússia, disse que “a trapaça, a má fé e a duplicidade são, infelizmente, o carácter predominante da maioria dos homens que governam as nações”. José Sócrates Pinto de Sousa, o grande maestro, ilustra-o. Na farsa de Matosinhos, a que o PS chamou congresso, usou bem a batuta da mistificação e deu o tom para o que vai ser a sua campanha: ilibou-se de responsabilidades pela crise e condenou o PSD; tendo preparado, astutamente, a queda do Governo, ei-lo, agora, cinicamente, a passar para o PSD o ónus da vulnerabilidade que nos verga. Como a memória é curta e o conhecimento não abunda, os hesitantes impressionam-se com o espalhafato e o discurso autoritário, ainda que recheado de mentiras. Porque em tempo de medo e de apreensão, a populaça não gosta de moleza.

    O aviso fica feito: não menosprezem as sondagens. Urge clarificar e não ser ambíguo. Eu não vou ser.

    1. Na segunda metade de 2009, as escutas do caso Face Oculta trouxeram à superfície a teia subterrânea que preparava a aquisição da Media Capital pela PT. Objectivo? Condicionar a orientação noticiosa da TVI, afastar José Eduardo Moniz e calar Manuela Moura Guedes. Que mão segurou a batuta deste tenebroso conúbio entre a política e o dinheiro?

    Este é um, apenas um episódio, de uma longa série de acções para calar a opinião livre e subjugar o espaço público, que o grande maestro protagonizou. José Manuel Fernandes, Henrique Monteiro e Mário Crespo, entre outros, denunciaram-nas, sem peias. Se não vos assusta o poder hegemónico e incontestável, voltem a votar nele. Se vos chega uma democracia amordaçada, escolham-no uma vez mais.

    2. Para encontrar alguma analogia com a cadeia de escândalos que envolveram José Sócrates, temos que ir à Itália de Berlusconi. Na nossa História não há precedente que lhe dispute tamanho mar de lama. Da licenciatura na Independente às escutas oportunamente silenciadas pelo Supremo Tribunal de Justiça, passando pela saga escabrosa dos projectos de engenharia da Guarda, os mistérios dos apartamentos da Braamcamp e os inarráveis processos Cova da Beira e Freeport, saiu sempre judicialmente ileso, o grande maestro. Como Il Cavaliere. Se isso vos chega e querem manter um primeiro-ministro que se julga ungido de clarividência única, medíocre e incompetente, que vos mente sem rebuços, teimosamente cego, presumido omnisciente e contumaz calcador de todos os escrutínios morais, só têm que esperar até 5 de Junho. Votem nele.

    3. As obras públicas entranharam em Sócrates, compulsivo, a ideia que criam emprego. Viu-se com os vários estádios do Euro 2002, que nos custaram milhões e qualquer dia serão destruídos sem glória nem uso. Estamos por ora salvos da loucura do TGV e das imprudências, dadas as circunstâncias, do aeroporto e da terceira ponte sobre o Tejo. Mas se quiserem a megalomania de volta, mais Magalhães a pataco, quadros interactivos inúteis e escolas novas destruídas para que o grande maestro inaugure outras mais modernas, é só votar nele, já em Junho.

    4. Sócrates foi, durante os seis anos da sua governação, o grande maestro da táctica para esconder os números do endividamento externo e a realidade do défice e das contas públicas. Depois de utilizar irresponsavelmente o Orçamento de Estado de 2009 para colher benefícios eleitorais, negou sempre que a crise financeira nos tocava. Desorçamentou e manipulou contabilisticamente as contas do Estado, até ao limiar da bancarrota e ao pedido de assistência financeira, que humilha Portugal. Se querem ajudar a destruir o resto, portugueses, votem nele, uma vez mais.

    5. Enxerguem-se, portugueses: se somarmos à actual dívida pública a dívida das empresas públicas, chegamos a 125 por cento do PIB (o nosso PIB anda pelos 172 mil milhões de euros); a este número, medonho, somem mais 60 mil milhões, a pagar pelos nossos filhos e netos, que o grande maestro foi comprometendo em parcerias público/privadas, com as empresas do regime; quando, em 2005, arrebatou a batuta, o grande maestro encontrou 6,6 por cento de taxa de desemprego; agora, em 2011, o grande maestro abandonou à sua sorte uma triste banda de quase 700 mil desempregados, 11,1 por cento de taxa de desemprego, a pior desde que há registos em Portugal; estamos no “Top Ten” dos países mais caloteiros do mundo (100 por cento do PIB de dívidas das famílias portuguesas, mais 150 por cento do PIB de dívidas das empresas lusas, tudo por volta de 430 mil milhões de euros); temos a maior vaga de emigração de licenciados de todos os tempos, a segunda pior taxa de fuga de cérebros no universo da OCDE e a terceira no que toca ao abandono escolar. Se este painel factual não vos belisca, votem nele. Ofereçam-lhe uma batuta vitalícia e entronizem-no, até que o céu vos caia em cima.

    6. Esclareçamos que a assistência financeira apenas nos tira a corda do pescoço nos próximos dois a três anos, na medida em que nos assegura honrarmos os compromissos da divida pública. Mas não resolve o problema do crescimento económico, que supõe outra política. Se acreditam que o vosso coveiro pode ser o vosso salvador, votem no grande maestro e enterrem-se sozinhos, que ele já está, obviamente, protegido e salvo, pronto para a sua antecipada reforma dourada, que nenhuma troika cortará.

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