There is overwhelming evidence that the higher the level of self-esteem, the more likely one will be to treat others with respect, kindness, and generosity.–Nathaniel Branden
Estamos todos estupefactos com o modo como os japoneses reagem à tragédia do sismo, do tsunami e da ameaça nuclear. Com calma, em silêncio, agindo sem lamentos e com os olhos postos no que precisa ser feito. Outra das inúmeras características que sobressaem é a educação. A senhora que agradece quando a tiram debaixo dos escombros da sua casa, como se lhe tivessem dado um lugar no autocarro; o senhor, já de idade, em cima do que resta do telhado de zinco da sua casa, estoicamente aguardando que o tirem do mar alto. A rapariga que vai de bicicleta, durante dois dias, em direcção ao centro onde se distribui comida. E regressa a casa, demorando mais dois dias, para alimentar o sobrinho. Altruísmo calmo e educado. Exemplos individuais associados a fortes laços comunitários.
A língua francesa tem a regra, que no português é mais um hábito, embora totalmente esquecido entre nós, de nunca iniciar as frases com o ‘eu’, quando se quer referir também outra pessoa. O outro vai sempre primeiro. Ele e eu. Nunca o contrário que é falta de educação. Na Antiguidade, os gregos davam sempre o melhor lugar, o melhor quarto, aos convidados. Parte disto, a que se chama de regras de cortesia, perdeu-se em Portugal. Ou se calhar, a este nível, nunca existiu entre nós, até porque por cá, a boa educação, ou o mero agradecimento, é entendido como sinal de fraqueza. Não sei. Sei, ficámos a saber, isso sim, a importância que a cortesia, mesmo que formal, tem para o desenvolvimento de um país.
Foto: EPA
“por cá […] o mero agradecimento é entendido como sinal de fraqueza”
O André certamente não saberá que a palavra japonesa para “obrigado” é “arigato” e é derivada, precisamente, do português. Antes de os portugueses terem chegado ao Japão os japoneses, pura e simplesmente, não sabiam agradecer!
(Há inúmeras outras palavras no japonês que são derivadas do português, por exemplo as palavras para “sapato” ou “camisa”.)
Talvez assim o André possa concluir que os portugueses não são assim tão mal-educados, quando comparados com os japoneses.
Olha, olha, o mito (luso-)urbano do “arigato deriva de obrigado” (e a fantástica conclusão: os japoneses, pura e simplesmente, não sabiam agradecer). O Luís Lavoura parece estar em grande forma hoje.
Sem portugueses como o Lavoura, o Japão – e os japoneses – não seriam o que são hoje.
Foram os portugueses que introduziram a lavoura no Japão.
Quanto à confusão acerca de arigatou/obrigado
It is often suggested that the Japanese word arigatō derives from the Portuguese obrigado, both of which mean “Thank you,” but this is demonstrably false. The Japanese phrase arigatō is a shortened form of arigatō gozaimasu, meaning “Thank you”. This is a form of an adjective, arigatai, for which written records exist dating back to the Man’yōshū, well before Japanese contact with Portugal.[4]
The full derivation is arigatō < arigatau < arigataku < arigatashi < ari + katashi. The medial -k- drops out from -aku- resulting in /au/. This then becomes /oː/ via regular phonological rules. Ari is a verb meaning "to be" and katashi is an adjective meaning "difficult". The original meaning of "arigatashi" was "difficult to be", i.e. "rare" and thus "special". This derivation tries to stem the word to its structural meanings and does not consider the current word's sentimental development and appreciated meaning.
http://en.wikipedia.org/wiki/Japanese_words_of_Portuguese_origin#Other_references
“Antes de os portugueses terem chegado ao Japão os japoneses, pura e simplesmente, não sabiam agradecer!”
Cruzes. Credo.
Sem dúvida, André.
“Altruísmo calmo e educado. Exemplos individuais associados a fortes laços comunitários. (…) ficámos a saber, isso sim, a importância que a cortesia, mesmo que formal, tem para o desenvolvimento de um país.”
Sem dúvida.
Ana
Espírito verdadeiramente admirável e singular, quando comparado com o individualismo “socializado” hedonista e infantil a que estamos habituados nas nossas sociedades ditas “modernas”. E a japonesa é dita como estando em decadência…
Da lavourice, fica mais um registo só-cretino do seu umbiguismo saloio.
Se calhar foram mesmo os Japoneses que ensinaram aos Portugueses a palavra “obrigado”. Por cá tem caído em desuso….
Bem, pelo menos já ficámos a saber que ensinámos os japoneses a agradecer por lhes termos oferecido sapatos e camisas.
Basta ser viajado para constatar como os países mais desenvolvidos são aqueles cujo povo é mais educado e civilizado; aliás é preciso nunca ter saído do rectângulo para julgar que somos desenvolvidos. Estamos quase lá, mas nunca lá chegámos realmente.
Há uns anos tive um amigo japonês a viver lá em casa uns dias.
Como é natural, levei-o de carro a visitar alguns dos locais mais conhecidos do distrito de Lisboa. Sempre que chegávamos a qualquer lado e eu parava e desligava o motor, ele dizia “Thank you”, mesmo antes de saber onde eu o tinha levado! Ele estava a agradecer o simples facto de eu o ter levado a qualquer lado!…
Quatro quintos do que se lê neste blog “não se escreve” mas este post (tal como o recente sobre o arrendamento) é uma excepção à regra: Ele descreve exactamente a essência da cultura japonesa e as suas enormes virtudes (embora tenha também algumas desvantagens).
E o post tem também imensa razão quando associa as regras sociais ao desenvolvimento e à produtividade de um povo, aliás, será mesmo um dos factores determinantes nesse sentido já que, atrás dele, vem também a menor complacência com a corrupção, com o crime, com o desleixo, com a prepotência, a incompetência, etc…
Tal como nem tudo o que vem neste blog é mau, nem tudo o que refere o L.Lavoura é certo, aqui ele não esteve bem não senhor…
Dervich
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