Enrique Morente (1942-2010)

Depois de uma semana em coma, Enrique Morente faleceu hoje num hospital de Madrid. Filho do milenário Albaicín de Granada, Morente conquistou, com arte e muita dedicação, um lugar no panteão do cante jondo, vencendo um preconceito que o mirava de soslaio devido à sua condição de gachó, e impondo-se como um dos intérpretes mais importantes do flamenco moderno. Só o ouvi uma vez ao vivo, há menos de um ano, num evento que celebrou os 30 anos do La Tertulia. Foi uma aparição fugaz, um presente oferecido por Enrique Morente e pelos donos do bar mais argentino de Granada aos seus clientes habituais, um segredo passado de boca em boca mas muito mal guardado, e que acabou por encher a sala para além do suportável. Uma hora de espera num ambiente sufocante, meia hora a ouvir um patético manifesto comunista proclamado por um desencantado da vida também convidado para a festa, enfim, uma tortura à qual houve que resistir para escutar três temas cantados por uma voz cansada. No final, quando as luzes de acenderam e a sala se esvaziou dos visitantes ocasionais, ficou a “mobília” e a elite do flamenco granadino, que se havia reunido para homenagear, mais do que La Tertulia, o mestre, e que num par de horas deu de comer a uma família colombiana durante um ano. É assim o flamenco, excessivo, tanto na arte como na vida. E Morente, para o bem e para o mal, também soube sê-lo. Adiós Maestro. Volveremos a escucharte en el otro barrio.

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