O Estado social está em crise e vai ser muito interessante perceber as voltas que a esquerda vai dar para dar a volta ao problema. Até porque iremos ter algumas pistas já nas presidenciais. A primeira será de cariz patriótico. Tanto o PCP como Manuel Alegre vão-nos atolar com apelos ao fervor patriótico contra a globalização e os interesses estrangeiros. Se tivermos em conta que Alegre é apoiado pelo PS e pelo Bloco, podemos concluir que toda a esquerda vai assumir um discurso que até há 40 anos era património de alguns sectores da direita portuguesa.
O patriotismo que a esquerda está a adoptar não se funda no sentimento salutar de quem gosta do país onde nasceu como sendo a sua casa, o seu lugar. Surge, isso sim, como uma reacção ao que vem de fora, apelando aos instintos básicos, à paixão irracional e partindo do pressuposto de que ‘os outros’ nos estão a aldrabar. Pugna por uma independência nacional que visa o isolacionismo. Isolamento perante o investimento estrangeiro, como sinónimo de exploração, e aposta na produção nacional, boa ou má, como único meio de incentivar a produção e aumentar as exportações. Por isso, uma certa raiva contra a postura intransigente da Alemanha, a insensibilidade do FMI e da própria UE.
Este tipo patriotismo é perigoso. Não valoriza o conceito de estado-nação por corresponder a um território onde o Estado de Direito e a sujeição à lei é aceite por todos, sem sentimento de perda, mas de ganho. Não se baseia no sentimento comum a todos os que falam a mesma língua, de que o elo que nos liga, apesar de não nos conhecermos, nos garante a democracia e as leis que protegem a economia de mercado, o respeito pela propriedade privada e a liberdade de expressão. Ao contrário, e porque de pendor negativo, os argumentos patrióticos que o PS, PCP e Bloco de Esquerda utilizarão nas eleições presidenciais, hostilizam povos estrangeiros, empobrecem as nossas relações com eles e conduzirão a esquerda portuguesa a um beco sem saída.
A falência do Estado social vai-nos marcar bem mais do que podemos antever. É todo um modo de vida que vai ser alterado, obrigando-nos a acreditar mais uns nos outros, solidarizando-nos de modo mais genuíno e não automático, nem forçado. Algo que terá repercussões sociais e também políticas. Junte-se a isto as más escolhas que muitos farão de forma inesperada e desesperada e ainda vamos ver extremos opostos juntos e de mãos dadas a descer avenidas.
“a esquerda vai assumir um discurso que até há 40 anos era património de alguns sectores da direita portuguesa”
De forma nenhuma. O PCP sempre (desde há muitas décadas) se caraterizou por ter um discurso marcadamente nacionalista no campo económico, em contraste aliás com outros partidos comunistas.
Bem visto André
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Isto é muito esforçado.
A atitude, por exemplo do PCP, nem mudou muito. O PCP sempre teve um pendor nacionalista, principalmente no campo económico.
Além de que é um facto de que estamos actualmente a sofrer com a exploração a que a UE nos sujeita.
Não há maior injustiça do que tratar da mesma forma o que é desigual.
Uma empresa em Frankfurt, Viena ou Berlim, num raio de 100Km tem, para aí, uns 40 milhões de potenciais clientes. Uma empresa em Lisboa, num raio de 100Km tem, no máximo, uns 4 milhões de potenciais clientes e, em Faro, nem um milhão tem.
Em nome de uma livre e sã concorrência tratar estas duas empresas da mesma forma é injusto e leva, a prazo, à destruição da empresa de Lisboa ou Faro ou à sua absorção por uma empresa estrangeira substancialmente mais forte devido a ter uma base de apoio alargada.
Isto sem falar que depois da queda da Grécia e da Irlanda, estamos nós, os dez milhões mais pobres da zona Euro a aguentarmos sozinhos o monstro que é o Euro.
Sim, falamos de nacionalismo ou de uma sã defesa dos nossos interesses?
“Não há maior injustiça do que tratar da mesma forma o que é desigual.”
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Raios pá, vamos forçar os Alemães a mandarem para cá os seus engenheiros competentes…
É aliás espantoso como os Chineses exportam tanto para tão longe da China… milhares de quilómetros…
Ou o Vinho do Porto chega a todo o lado…afinal o Douro são quantos, 1 milhão?
Acho que ainda podiamos chegar às divisões no 3º congresso da Internacional comunista, sobre a polémica se a luta das burguesias do paises colonizados contra o imperialismo era progressista ou reaccionária (nota para quem não saiba – a primeira tese ganhou e a outra facção foi excluida do Komintern).
E como é que o BE (mais propriamente a APSR e a Ruptura/FER) se sente a apoiar um candidato patriota?
“Raios pá, vamos forçar os Alemães a mandarem para cá os seus engenheiros competentes…”
A isto chama-se fugir ao assunto….
Além de que muitos dos competentes engenheiros alemães são portugueses, italianos, chineses, turcos, eu sei lá, há muito imigrante na Alemanha!
E, se o problema fosse estes (não é) era fácil trazê-los para cá, bastava pagar-lhes mais do que se paga na Alemanha.
#7 ao que sei a Ruptura/FER não apoia Alegre.