Costume domingueiro

Ler a crónica O desprezo dos desprezíveis, de Alberto Gonçalves, no DN.

Se os protestos à Cimeira da Nato tiveram alguma virtude foi a de devolverem Gualter Baptista a uma relativa notoriedade. Se bem se lembram, o sr. Gualter é aquele moço que liderou a destruição de um campo de milho em Silves e, dias depois, se viu destruído por Mário Crespo na SIC Notícias. Nestes três anos e tal, o sr. Gualter sumiu da vista pública, não porque tenha estado na cadeia, onde estranhamente não esteve, mas por opção própria, a recuperar da vergonha. Felizmente, entre a estirpe do sr. Gualter a vergonha é uma benesse descartável e ei-lo de volta a opinar sobre um mundo que não compreende.

Excitado face aos eflúvios contestatários em volta da Cimeira e a greve do dia 24, o sr. Gualter decidiu partilhar na Internet as reflexões que lhe consomem a cabecinha. Escusado dizer que o resultado é uma delícia. Primeiro, num longo e divertido texto, o sr. Gualter procura justificar a acção dos Verde Eufémia (já tinha saudades deste nome), sob o pressuposto de que demolir propriedade privada é um direito mas condenar a demolição é uma “verdadeira inquisição”.

Depois, o sr. Gualter lança uns gritos inspirados em Gandhi e na falta de medicação adequada: “Satyagraha contra a NATO e as suas guerras!”; “Satyagraha contra a destruição e apropriação do nosso sistema alimentar por meia dúzia de multinacionais!”; “Satyagraha contra os poderes capitalistas e a sua imprensa, que tentam fazer-nos aceitar que a crise afecta a todos, quando afinal só afecta a alguns!”; “Saiamos às ruas em desobediência contra a cimeira da violência e da guerra! Façamos uma greve geral perturbadora no dia 24! Rejeitemos a apropriação do nosso património agrícola e alimentar!”

Por fim, antes que os paramédicos chegassem com a camisa-de-forças, o sr. Gualter ainda teve tempo para penetrar nas profundezas jurídicas e explicar a obsessão de uma vida: “O crime é uma violação da lei feita às escondidas e com o entendimento de que a lei que se viola é legítima. Na desobediência civil há um acto ilegal, propositado e publicamente anunciado, que intencionalmente viola uma lei que é considerada ilegítima.”

Logo, se eu anunciar aqui que pretendo, propositada e intencionalmente, desferir com um repolho transgénico no cocuruto do sr. Gualter, algo que apenas uma lei ilegítima me impede de fazer, isso não é crime: é desobediência civil. E quem sugerir o contrário é inquisidor. Satyagraha para mim também!

8 pensamentos sobre “Costume domingueiro

  1. ricardo saramago

    Satyagraha?
    O que é que distingue o Sr. Gualter de um qualquer outro energúmeno que queima cabines telefónicas, come com as mãos ou bate na avó?
    Só se for a tal “Satyagraha”. Mas desconfio que essa doença passa com umas chibatadas no lombo e uma enxada na mão…

  2. Jose Domingos

    Por acaso, ainda não repararam, que a justiça, já vê, com o olho esquerdo.
    Curios, ou talvez não, é a narco informação, cá da pocilga, dar tempo de antena, a gentalha, deste género.
    Existem, muitos moços de recados, por cá-

  3. É interessante o tipo de comentários que geralmente se recebem destas bandas, não procurando contra-argumentar (nem que seja pela sátira e má-língua), mas apenas lançando-lhe insultos estereotipados. Para o ricardo saramago, devo dizer-lhe que provavelmente agarro mais na enxada do que você e que o tempo da escravatura pela via física já acabou há alguns séculos (talvez a si também tivesse efeito para deixar de dizer disparates, mas é assim, temos que viver com o que os nossos tempos nos oferecem).

  4. ruicarmo

    Caro Gualter,
    tem toda a liberdade para contra-argumentar. No entanto, na sua liberdade opta por “analisar” os comentários. A grande novidade é que sabe o que é uma enxada, que reconhece que a escravatura já acabou mas que seria útil para algumas pessoas. De substancial, apresenta muito pouco.

  5. Rui, deixe lá que em termos de argumentação sobre aquilo que eu escrevo ou digo, você também não vai muito longe.

    Mas diga-me lá, o que há para argumentar num artigo de opinião que só contém insinuações de loucura, ofensas de vária estirpe e até propostas de agressão? Há algum argumento do artista (cronista) em causa que sirva para discussão, depois do que já discuti no blogue?

    É um diálogo de surdos, pois claro, outra coisa não poderia ser. Estranho é que desse lado da barricada (porque de facto, de guerra ideológica se trata), não haja pelo menos um mínimo de capacidade de contra-argumentação (ou talvez eu seja apenas louco ou um imbecil capaz de ver os vossos racionais argumentos, enquanto vós sois os iluminados da razão).

  6. ruicarmo

    Noutro post, escrito por mim, há um comentário seu, em que se propõe responder mesmo às questões mais “exóticas”. Presumo que não queira ir “mais longe”.
    Se me mostrar onde é que no artigo de opinião do Alberto Gonçalves estão as insinuações, as ofensas e até as propostas de agressão, eu agradecia. Até pode ser que esclarecesse as suas opiniões e acções.
    Deixe-se de interpretações más de actor a desempenhar (mal) a papel de Calimero.

  7. Pingback: O Gualter que nos faz falta « O Insurgente

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