Grande Manuela Ferreira Leite

Pelo conteúdo do discurso de ontem na AR e de como chamou a atenção para o que ninguém parece querer assumir – que o caminho da consolidação orçamental não é trabalho para um ano e já está -, conteúdo que de resto se espera seja ouvido e percebido por todos; parece que da última vez que MFL previu desgraças com a continuação das políticas despesistas do PS afinal tinha razão, apesar de ter sido gozada por jornalistas e comentadores e tratada como senil pelo PS e por sectores do PSD; donde: é provável que Manuela Ferreira Leite tenha razão novamente.

E, sobretudo, pela liberdade que demonstra em todas (e esta foi só mais uma) as intervenções que faz, dizendo o que pensa, sem comprometer o que julga dever ser transmitido aos portugueses, sem dar cavaco a teorias de marketing político ou a sondagens ou, até, à vontade dos eleitores, sem cálculos sobre as consequências políticas das suas palavras. Este comportamento tem custos (desde logo eleitorais, como se viu no ano passado). Contudo, num país onde tantas pessoas dependem da – e sustentam-se pela – boa vontade dos decisores ou dos influenciadores políticos, onde as palavras públicas e os silêncios são invariavelmente medidos para não desagradar a quem nos pode, no futuro, facilitar uma oportunidade, onde lamber as botas a quem nos pode beneficiar é visto como normal e desejável, onde discordar e e revelar ideias diferentes só cabem em estratégias de poder futuro e, fora dessa ambição, são consideradas excêntricas, alguém que manda tudo isto às urtigas e afirma o que pensa ser importante para o país em cada momento sem atender a cálculos pessoais – porque construiu a sua liberdade para não depender da política – merece toda a minha admiração (concorde-se ou não com o que diz). E tenho muita pena que não haja muita gente tão livre quanto Manuela Ferreira Leite.

9 pensamentos sobre “Grande Manuela Ferreira Leite

  1. lucklucky

    Uma das mais vergonhosas, ignóbeis, com tudo, desde apelo à mentira e ao fingimento até à pusilanimidade de estar de braço dado com quem disse que deveria estar no cárcere que alguma vez passou no Parlamento. Recebeu os elogios e aplausos por ter apoiado o crime que condenou. Pelos condenados.

    Um retrato do mundo Orwelliano onde está o metido o PSD.

  2. Maria João Marques

    Lucklucky, MFL , com essa do fingimento, disse uma coisa muito simples: nem o MF nem o pm devem andar por aí a prever uma crise política criada pelo PSD, nem o PSD deve dar a entender que mais uns meses e vêm aí eleições, pela razão simples de que não são afirmações que dêem segurança aos mercados. Que não se perceba isto só se pode dever à proverbial iliteracia dos portugueses. Por outro lado, não me parece que MFL tenha sido meiga com quem nos levou a esta situação. Mas, claro, pode alinhar com a versão socrática do discurso de MFL.

  3. lucklucky

    Resumindo a sua lógica é ter cuidado com as afirmações que não dêem segurança aos mercados porque um mau orçamento feito por um governo incompetente que nos vai endividar ainda mais e fará a economia a piorar dará confiança aos mercados para estes nos emprestarem dinheiro.

    Deixou-me elucidado e finalmente convencido que o PSD é desastre mental. PSD: Partido de Sanidade Duvidosa.

  4. Dervich

    “Faz o que eu digo, não faças o que eu faço”…

    Como ministra das finanças de Durão Barroso também falava muito mas a receita (com o seu acordo ou não, não interessa agora)foi a mesma:
    -Congelamento de salários na FP, aumento do IVA, incorporação do fundo de pensões da CGD, privatizações, outros truques para mascarar o défice que afinal não era 2,8% mas passava os 6%, ou seja, sacrifícios para nada e mais 2 anos de tempo perdido.
    Se estas medidas foram impostas na altura por Barroso, então MFL deveria simplesmente ter-se demitido, assim bem pode falar Frei Tomás…

    Sabe, não é só pelo que disse ou diz que o resultado eleitoral de MFL foi desastroso, foi porque os portugueses (apesar do que consta) ainda têm alguma memória.

    Dervich

  5. Maria João Marques

    Dervich, quem acredita nessa mistificação que foi a criação de um défice não existente de 6,82% do senhor Constâncio (quando o défice não foi de 6,8%, e de resto isto passou-se com Bagão Félix e não com MFL) não pode falar bem de (boa) memória.

    MFL perdeu porque disse verdade: que o nosso futuro próximo não seria risonho, ao contrário do vendedor de promessas do PS.

  6. Maria João Marques

    Lucklucky, é exactamente isso que eu digo. As suas notas a Português, quando se tratava de interpretação de textos, deviam ser muuuuito boas.

  7. JS

    “MFL perdeu porque disse verdade: que o nosso futuro próximo não seria risonho, ao contrário do vendedor de promessas do PS.”
    Para fazer tão douta afirmação, basta ser um comum cidadão com um mínimo de descernimento. Nem sequer é preciso ser economista, ou jornalista da especialidade. Chama-se dizer o óbvio. A única desculpa da MFL é não ter sido Ministra da Economia. Porque é que na campnha dela, não inspirou, com coragem, o seu eleitorado, com a verdade do problema económico? E com SOLUÇÕES corajosas? Teve no passado, e tem agora, ainda, apenas um discurso de contabilistas, de burocráta. Para um político, é muito pouco.
    PS- Não é só ela….

  8. depatasproar

    Maria João,

    O fundamentalismo não lhe fica nada bem. Ao pretender — agora que muita gente que na altura vilipendiou MFL, compreende que ela tinha razão em muito do que afirmou — que MFL é uma pessoa livre, e que actuou sempre no sentido do interesse do País, acaba por destruir o que, de positivo, ela representa.

    Porque o que afirma não é acompanhado dos factos conhecidos. Vejamos alguns:
    Quando esteve no governo de Durão Barroso, que me lembre, MFL:
    – não apoiou as PME’s como deveria;
    – aumentou o IVA;
    – apoiou o TGV;
    – não promoveu a transformação do paradigma do investimento em bens não transaccionáveis para os bens transaccionáveis;
    – não diminuiu consideravelmente o peso do estado na economia;
    e por aí fora…

    Não pretendendo retirar-lhe o mérito de ter falado quando todos se calavam, de ter posto “o dedo na ferida”, não podemos evitar pensar que ela também teve oportunidade de contribuir activamente para evitar o descalabro e que, para ser bondoso, não terá feito tudo o que estava ao seu alcance. E, se foi porque a não deixaram, deveria ter-se demitido.

    E que interessa se o défice foi de 6,8%, ou 4% ou 2%… Agora, acusar o Dr. Bagão Félix não lhe fica nada bem: “foi défice inventado mas a culpa foi dele…”; bonito… Insultar também o Lucklucky, só porque diz umas verdades, demonstra bem que o que aí vem não é melhor do que já temos!

  9. lucklucky

    “Lucklucky, é exactamente isso que eu digo. As suas notas a Português, quando se tratava de interpretação de textos, deviam ser muuuuito boas.”

    Sim eu sei que é isso que diz: Vamos votar num mau orçamento gerido por gente incompetente porque assim as coisas não vão piorar e os mercados vão-nos continuar a emprestar dinheiro.

    Quero ver o que vai dizer quando aparecer o “FMI”. O seu Português desaparecerá de vez ou fará de Manuela Ferreira Leite e dirá uma coisa e o seu contrário?

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