“(…) I do put an entire confidence in you, not doubting but you will do all you can to keep me out of the power of the merciless men of both parties.”

Rainha Ana para Sidney Godolphin, em Abril de 1705.

A rainha Ana da Inglaterra tinha receio de cair nas mãos dos partidos políticos. Pretendia estar acima deles e terá sido a primeira chefe de Estado a perceber que só dessa forma ganhava influência e poderia reinar. Aplicando o termo a Portugal diríamos, presidir. O que Ana compreendeu em 1702, Mário Soares soube-o em 1986. O sucesso do mandato de Soares fez com que os seus sucessores, cada um à sua maneira, o copiasse, embora nenhum fosse tão magistral quanto ele. Sampaio, para o bem e para o mal, teve o seu mandato marcado pelo episódio da sucessão de Barroso. Cavaco, esse, caiu nas várias armadilhas de Sócrates. Irritou-se com o primeiro-ministro, deixou-se ‘picar’ por ele. Nos últimos dois/três anos, Cavaco tem sido um homem zangado. Contido, mas zangado. Quis ficar por cima das querelas partidárias, ser mais que o PSD, mas as guerras que evitou, enlamearam-no um pouco. Soares, perito na guerrilha política, nunca se sujou. Ana rodeou-se de políticos de génio e com outra vantagem muita cara na política: Tanto Godolphin como Marlborough eram-lhe leais e respeitavam-se mutuamente. Nunca a traíram e nunca se atraiçoaram. Competentes e matreiros quanto baste, fizeram o necessário jogo sujo dentro dos limites da decência. Cavaco nos 5 anos que tem de Palácio de Belém, já deve ter percebido que no próximo mandato não se pode dar ao luxo de ‘não ser político’. Porque quem quer estar acima da política, tem de se sujar na política. Fazer um pouco de teatro e lavar as mãos muito depressa, sem cair nas esparrelas de homens como Marcelo Rebelo de Sousa. A rainha Ana, toda orgulhosa e muito afectada, ainda pode ensinar algumas coisas a Cavaco.