Não são separatistas, são assassinos III

A carnificina do 11 de Março foi apresentada como a causa directa do papel do governo espanhol na guerra do Iraque. A verdade é que nos 15 anos que antecederam a guerra, um ataque islamista em Espanha podia ter ocorrido. A guerra do Iraque constituiu um factor de risco a mais. O mesmo se passou em relação aos atentados nos transportes públicos de Londres: as causas de ambos são o fanatismo dos terroristas.
No caso de Londres, duas guerras mundias, o terrorismo do IRA e dos islamitas só podiam levar ao repetido “we are not afraid” e ao “they will not win”. Felizmente.
A tomada de reféns é uma táctica terrorista que manipula as emoções e os sentimentos humanos de forma especialmente violenta: expõe pessoas privadas de liberdade e em claro risco de morte e que na maioria dos casos, é obrigada a criticar o governo e a transportar a culpa da sua situação, dos sequestradores para as autoridades do seu país.  Nos anos 80, foi usada demasiadas vezes no Líbano. E o caso dos reféns norte-americanos em Teerão, é histórico. O rapto é usado como arma pelo Hamas e por várias delegações da al-qaeda.
A propaganda terrorista usa o distanciamento moral das consequências dos seus actos e mensagens sanguinárias. Quem os pratica é como se nunca os tivesse feito. Ninguém com os cinco alqueires bem medidos pode justificar um homem-bomba ou um atentado a um meio de transporte público.
As vítimas, os sobreviventes, os familiares e amigos vivem uma situação traumática fácil de entender mas, por certo, difícil de (sobre) viver. A presença permanente de jornalistas em buscas de imagens e histórias sensacionais e emotivas, muitas vezes com a parva pegunta do “como se sente?” é constante e passam a estar associados a parte da tragédia. Nestas ocasiões, é bom recordar um princípio: as vítimas são seres humanos, não são seres com lágrimas, prontos a serem retratados. E neste ponto, existe uma clara diferença entre culturas e os media na relação com a morte e a tragédia. É diferente, para pior, o tratamento que, por exemplo, os media árabes fazem das notícias que envolvem mortos e feridos. Há linhas que no Ocidente não se devem ultrapassar.
Nos atentados de Londres, a BBC, a ITN ou a Sky basearam boa parte da sua informação visual em imagens amadoras. Blogues, twitter, facebook noticiaram histórias que foram aproveitados por aqueles meios mas todos eles desempenham um papel importante de informação mas também na passagem da sensação de vulnerabilidade.
O acto terrorista lança um desafio ao estado, ao indivíduo, através dos media. Existe uma estreita relação entre todos os actores neste processo. O que se deseja é que as respostas dadas pelo estado, vítimas e media sejam reponsáveis.

Quem o comete sabe que o assassinato de inocentes é um meio para atingir um fim – a fractura social – e que a sua divulgação multiplica o seu impacto. A lógica terrorista é ser a primeira página. Por essa razão, é preciso ser crítico, até na terminologia usada. Para a generalidade dos media, o contexto é importante e as imagens apresentadas, por definição, retratam, realidade simplificada . Enxaguada a destruição e a dor, existe um fascínio pelas causas e não pelas consequências – as vítimas. Desta realidade resulta uma consequência: o jornalista passa a “narrador” dos terroristas . É comum assistir durante as entrevistas (um dos estilos jornalísticos mais difíceis de fazer bem) a que sejam os terroristas a controlar (e claro, a distorcer a realidade). A informação deve tratar com cuidado e conhecimento o terrorismo. Não pode legitimar, não pode apenas reproduzir a propaganda.

Leituras complementares: Não são separatistas, são assassinos I; Não são separatistas, são assassinosII.

8 pensamentos sobre “Não são separatistas, são assassinos III

  1. A. R

    Os que fizeram o atentado de Madrid não eram islâmicos (bebiam vinho e comiam presunto), as provas foram escamoteadas e os indícios que permitiriam uma avaliação rigorosa (a presença do Tytadin foi confirmada) foram destruídos. De dezenas de toneladas sobraram meia dúzia de parafusos. Foi um golpe de Estado encapotado pese o mediatismo judicial que deram ao julgamento!

  2. CN

    Rui, procurando ver o edifício moral num todo:

    Todo o terrorismo (podes dar uma definição? é quando a causa é julgada má? pode existir terrorismo menos mau? podem existir actos de violência que não são “terrorismo”? quando os ataques são a tropas é aceitável? toda a violência à má? É só quanto é contra civis? se for contra civis mas for um estado democrático pode não ser mau?) é “mau” por natureza na medida em que fazer bombardeamentos de bombas incendiárias em dezenas de cidades japonesas mais 2 bombas atómicas para matar velhos, mulheres e crianças, tem uma explicação racional, foi praticado por um governo democrático e por isso “não será comparável”? Só o terrorismo é que são “assassínios”, o que o estado pratica é um conceito abstracto de “guerra” cuja moral está à parte?

    PS: O Irão, na altura da revolução islâmica, não poderia estar um bocado chateado pela CIA/EUA ter feito um golpe de Estado em 1953 contra um Presidente eleito para colocar um déspota ocidentalizado no poder?

    Problema adicional colocado pela democracia: dado que um regime democrático é suportado popularmente por todos (por comparação à monarquia executiva), quando um Estado pratica X actos que considera necessários mas que para outros é a violação de direitos ou do que seja, é líquido que a reacção deve ser só contra as tropas do país X? Porquê, se os civis apoiam e suportam o regime que pratica esses actos [não estou a defender esta lógica, estou a dizer que os democratas acima de tudo, serão os que têm mais dificuldade em responder a esta pergunta]?.

  3. ruicarmo

    Carlos, não creio existir uma definição única de terrorismo. E se existir, deve ser tema para dúzia e meia de doutoramentos. O propósito dos exemplos que dou não pretende nem ser absoluto nem construir modelos morais (e outros) gerais para serem aplicados a todos os casos. Não tenho conhecimento para isso e estaria rico se assim fosse e não é manifestamente o caso. São opiniões, apenas e que se centram nalgumas acções terroristas que podem servir de “modelo” de como a sociedade (vitímas, media e estado – http://www.telegraph.co.uk/news/newstopics/politics/defence/8084893/Sacrificing-our-liberties-wont-win-the-war-against-terror.html) lida com uma situação terrível e de emergência. Os casos que apontei são de facto acções terroristas maioritariamente praticadas por separatistas. O separatismo é rico, neste campo.

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