Ontem ficámos a saber que o PSD se predispõe a negociar o orçamento, acentuando os cortes na despesa e reduzindo o aumento nos impostos, como pretende o governo. Conforme já tive oportunidade de referir, Passos Coelho consegue impor esta negociação por ter afirmado, desde o início, não dar carta branca a qualquer proposta vinda de São Bento. Com isto, o PS percebe de uma vez por todas que já não tem maioria absoluta e obriga-se a emagrecer o Estado. Algo que nunca quis fazer, mas que tem de ser feito. Inevitavelmente feito.
A partir de agora e até à votação do orçamento, já em Novembro, esta é uma excelente oportunidade para o PSD aprofundar o seu discurso, com uma visão mais liberal, não socialista, mais justa e menos oportunista da sociedade em que vivemos. Daqui em diante, e porque o dinheiro acabou, governar não se reduz a investir o dinheiro dos contribuintes. Vai ser mais difícil, mas também mais compensador: permitir o surgimento de uma sociedade livre, que vê o Estado como um apoio de última instância e nunca como um conjunto de instituições que sustentam os mais fortes.
Outro ponto importante são as críticas feitas a Passos Coelho por o PSD agir da forma como que tem agido, ou seja, como partido político que é, fazendo política. Os avanços e recuos a que assistimos, os bluffs, silêncios, a gestão do tempo, etcetera e tal, não são nada mais que isso: política. Criticar um partido por esta prática é não apenas estranho, como também incongruente com as censuras feitas aos que, como o PCP e o BE, tomam posição imediata sobre um assunto tão importante para o país sem medirem nas consequências dos seus actos.
Vejamos como correm as negociações. De toda a maneira, os becos podem mesmo ter saída.
André, definir “negociações”, please!
Chama a isto negociações? Com estes intervenientes?
Negociações é encontrar um terreno neutro de procura de soluções que sejam as melhores possíveis para todos, neste caso para o país, para os seus cidadãos.
Aqui vê tudo menos isso: vê chantagem, vê pressões, vê calculismo, vê encenação, mas não vê negociações.
E definir “política” também.
Chama a isto “política”? Eu não vejo política, André. Política é ter uma visão, uma estratégia, soluções eficazes, reunir e dialogar, como adultos. Com estes intervenientes isso não será possível.
O “novo PSD” está a colaborar na encenação, não tem outra hipótese e, mesmo que tivesse, a sua lógica é muito semelhante, a diferença é de nível “nada pode ser pior do que o actual”. Por isso terá de haver essa transição, o sistema já percebeu isso.
Na realidade, o sistema secou a política, e até secou a possibilidade de uma presidência como garante de um equilíbrio: a presidência está de um dos lados da balança e não é o lado certo, a não ser para o sistema.
Ana
O beco era este André: “PSD não viabiliza um Orçamento com aumento de impostos” – http://www.publico.pt/Pol%C3%ADtica/passos-coelho-psd-nao-viabiliza-um-orcamento-com-aumento-de-impostos_1459351
E pelos vistos não tinha mesmo saída. 🙂
Exactamente. Claro. Neste momento o que está em causa é o aparecimento de um (novo) chefe !por direito próprio!. Já não está em causa o Orçamento do Estado. O que está realmente em causa é o surgir de um novo -todo poderoso- “leader”. Daí as inúmeras, e caricatas, tentativas dos (invejosos), inimigos políticos, -individualemnte ou em capelinhas- para aniquilar o rival à nascença. Já não é o OE que está em causa.
Passos Coelho ou deixa passar o OE e desaparece (para gáudio dos rivais), ou -se para isso tiver engenho e arte- impõe o fim de um (horrível) ciclo e o início do seu, reprovando o OE. Com ou sem FMI. Óbvio. “So far so good, show”.