Neste Verão, um dos livros que li foi ‘Constantinople: The Last Great Siege, 1453’. De acordo com o seu autor, Roger Crowley, conta a lenda que na última noite sobre Constantinopla, o imperador Constantino XI e o seu amigo de longa data, Jorge Sphrantzes, subiram à torre da porta Caligaria e viram tudo. A cidade, os campos à volta cheios de turcos e o Corno de Ouro, o porto natural e seguro de Constantinopla, nessa noite de 27 para 28 de Maio de 1453, já com navios inimigos. Terão também olhado para o Bósforo e o mar de Mármara, ouvido a barulho das águas a bater nas muralhas e os preparativos para o assalto final. Os murmúrios dos homens que teriam de matar dentro de horas, os seus últimos passos, sussurros e suspiros e os remos das embarcações no mar. Os cheiros das civilizações. A que se ia embora e a que chegava. Os dois terão deitado um último olhar sobre o local após 53 dias de combates intensos e entendimentos difíceis, numa disputa desigual. 1123 anos e 27 dias depois da sua constituição, aquela era a última noite de Constantinopla.
A lenda pode não ser verdadeira, mas é bonita. Podemos encará-la como um pressentimento de que aquele mundo ia acabar, que mais de mil anos passados e não haveria dia seguinte. Tenho um fascínio pelas civilizações e impérios que se perderam e cujos habitantes desaparecem misturados entre os genes dos outros. Aqueles dois, no cimo da torre, não tinham apenas a certeza de que iriam morrer. Passavam o testemunho e ouviam o que restava, viam o que havia para ver pela última vez.
Belo post, belas palavras.
Cumprimentos.
Obrigado.