Excerto de “Os Dias Contados” de Alberto Gonçalves (Diário de Notícias)
Nos 40 anos da sua morte, Salazar ainda nos assombra enquanto mal absoluto ou salvador imprescindível. Na opinião de uns, é o único responsável pelo atraso pátrio, como se a I República, para não recuar mais, tivesse deixado o País num estado de beatitude e progresso. Na opinião de outros, é o único responsável por meio século de ordem, rigor e estabilidade, como se a ditadura e o isolamento não passassem de custos menores.
Nos dois lados da barricada, Salazar apenas suscita sentimentos extremos, o que se toleraria se os extremismos não convergissem para um retrato mítico. Não é por acaso que boa parte da bibliografia recente alusiva ao ditador se dedica a esmiuçar-lhe a vida privada à cata de traços de humanidade: é porque, no fundo, não se acredita que Salazar fosse um homem comum.
Reduzi-lo à verdade, ou seja, a um seminarista com jeitinho para contas, aversão à liberdade, aptidão para descodificar as ânsias das massas caseiras e vasto talento para simular a distância necessária à lenda, seria desiludir os fiéis que o beatificam ou os inimigos que o abominam. E seria retirar significado à existência de ambas as facções.
Salazar marcou o século XX português? Imenso, sobretudo pela extraordinária quantidade de tempo em que mandou. Sucede que, apesar das naturais metástases, o essencial desse tempo morreu com ele, e é absurdo que, na imaginação de tantos, um pequeno tirano continue a servir de desculpa esfarrapada ou alternativa metafísica à democracia pelintra que temos. Alternativa não há, e a culpa é nossa.
não me interessa este novo fascismo do afundanço
Sr. A.G.: Bom equilíbrio num tema controverso.
Mas vale a pena. Pode ser que água mole…
Contraditórias imagens, de Salazar, sobrevivem passado tantos anos.
Há um certo tique, nacional, “reverente”, em relação à imagem de um “chefe” (vestígios de uma longa e perene gleba?).
E o que friza, neste seu artigo, se bem entendi, em relação a Salazar, será duplicado em relação a Sócrates, quando este cair (não forçosamente de uma cadeira de lona). Ipsis verbis. Haverá, apesar de tudo, quem o louve e quem o incrimine (com ou sem razão, ainda não sabemos).
É um tique típico de certas culturas. “Uma raínha coberta de jóias -Armani ou não- vale, imediatamente, mais que uma bem intencionada intelectual, Ferreira, Leite, mais difícil de digerir…
As consequências, hoje e amanhã, estão, e infelizmente estarão, à vista.
Salazar é fruto da cultura portuguesa e essa culrura não muda num dia, num ano, em 10, 100 ou mil. Talvez em 10 mil, mas nem sempre para melhor.
Quer queiram quer não ele existiu.Naquele tempo houve presos politicos? houve.Havia ordem nas ruas ?Havia. Os politicos falavam menos e trabalhavam mais.É verdade. Que os presos politicos voltavam para casa.Também é verdade.
Andam por aí alguns que se fazem alarde de heroismo por terem sido presos muitas e nuitas veses.Tiveram sorte. O regime que eles queriam e alguns ainda defendem,os presos politicos só eram presos uma vêz… China.Russia Vietenam..Coreia do Norte,e mais uns tantos,só eram”são presos uma vêz”.
O homem morreu,é o destino de todos infelizmente. Bem ou mal, governou durante muitos anos.Uns gostam outros não. Agora temos o mesmo,uns gostam do que temos outros não. É assim a vida. Uma coisa os mais velhos dizem.Naquele tempo não havia a bandalheiraque se vê por aí?Também nunca, mesmo os detractores, ninguém,principalmente dos opositores ao seu regime,nunca se houviu dizer que fosse desonesto.Norreu pobre.dizem os livros.Pobre nasceu pobre morreu.Por aquilo que se lê, se houve, o que por aí vai é um fartar vilanagem. Ficamos por aqui.Deixem o homem em paz no lugar em que está.De contrário de tanto falarem, e apesar de morto ainda lhe vão dar razão.
Santo António de Lisboa
Foi ao Céu e ao voltar,
Já não era o mesmo homem,
Era António Salazar!