A vida política portuguesa anda estranha. Todos os dias, as figuras mais ou menos destacadas do PS e do PSD oferecem ao país uma versão portuguesa (e apesar de tudo, ligeiramente menos degradante) de um reality-show da MTV: zangam-se em frente às câmeras de televisão, para depois acabarem o dia aos abraços (qualquer pessoa que tenha tido a infelicidade de ver programas como Laguna Beach ou The Hills consegue ver a semelhança).
Quase todos os dias, o dr. Passos Coelho levanta-se do colo de Ângelo Correia e ataca toda e qualquer medida do Governo. De seguida, o “engenheiro” José Sócrates sai do caixão e, no seu melhor Armani, vem queixar-se da “irresponsabilidade do PSD” (no dia em que o Armani tenha sido particularmente bem engomado, ele até se entusiasma e fala “da direita” para juntar o dr. Portas à festa). Inevitavelmente, seguem-se-lhe o dr. Silva Pereira, sempre pronto a carregar a àgua do chefe, e, se as circunstâncias assim o exigirem, o dr. Santos Silva, uma espécie de Brother Mouzone do PS. Para acabar a festa, o PSD chama os seus especialistas em fingir oposição (e ninguém o faz tão bem como Miguel Relvas) para mostrarem a sua indignação e como o país não consegue viver com mais um único dia de Sócrates no poder. Com um cenário destes, seriam de esperar moções de censura diárias, visitas de emergência a Belém (onde impávido e sereno, Cavaco Silva preside às cerimónias fúnebres do país) e pancadaria no Parlamento.
No entanto, nada disso acontece. Pelo contrário, todas as medidas anunciadas pelo Governo, que Passos Coelho e restantes focas amestradas atacam vigorosamente no início da semana, chegam a sexta (ou Sábado, para melhor passarem despercebidas) aprovadas pelos dois partidos, que entretanto se parecem ter escapulido como adolescentes ardendo por um coito furtivo. Tal como normalmente acontece com esses adolescentes, a coisa não acaba bem (embora, em vez da criancinha que fará as alegrias desses adolescentes, o destino mais provável seja o empobrecimento dos portugueses). É claro que Sócrates e Passos Coelho até se podem sair bem com a brincadeira: Sócrates consegue (atacando o PSD) alegrar (no pun intended) o bom povo socialista, e ao mesmo tempo (assegurando o apoio do PSD para as suas medidas) prolongar a morte lenta que tem sido este Governo; Passos Coelho talvez consiga (atacando o PS) convencer alguns de que é “diferente” dos socialistas, e (apoiando o PS) mostrar o quão é “responsável”.
Restam dois problemas: em primeiro lugar, não podem ser os dois bem sucedidos ao mesmo tempo. Inevitavelmente, um deles acabará mal, e a seu tempo (que poderá ser longo, é certo), o outro não escapará a um destino semelhante. Em segundo lugar, acabarão por nos arrastar todos com eles. A violência da retórica com que se agridem, por um lado, e a manifesta hipocrisia com que actuam, por outro, não resulta noutra coisa que não no aumento da repulsa dos eleitores pela política e pelo “regime”. Com o espectáculo que nos andam a oferecer, PS e PSD não se limitam a estragar o seu futuro (por muito que demorem a fazê-lo): ao chafurdarem na lama, arrastam para ela a democracia portuguesa e as condições de vida dos portugueses. Nada que os preocupe.
E não há ninguém, dentro ou fora destes 2 partidos, que apareça com algo novo e credível… Nesta fase, já se esperaria de tudo, até um “BEST” à Portuguesa…
Não se faz, comparar o ministro ASS com alguém de sólidas fundações morais como o Brother Mouzone. 🙂
Eu tambem me senti um bocadinho culpado depois de o fazer, confesso…