A Tragicomédia de Belém

Vale a pena deitar uma vista de olhos a um sítio da internet denominado Boletim Informativo da Presidência da República.

Fosse por ironia do destino ou por mera incompetência no domínio da relações públicas, os assessores do nosso Presidente destacam, no Boletim hoje publicado, duas informações na coluna da esquerda: primeiro, a “Visita de Sua Santidade o Papa Bento XVI”; depois, o “Diploma que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo”. O abismo que separa o discurso dos dois textos é… é… é… (hesito sobre a adjectivação) inacreditável (fico-me por este, por uma questão de respeito para com a instituição).

Vale a pena ler.

Vale a pena tentar perceber o que motiva o abismo: será um caso de mera hipocrisia política? Poderemos adivinhar ali um discurso esquizofrénico típico de casos de personalidade dupla?

Pessoalmente continuo sem conseguir estabelecer um nexo de causalidade entre estas duas ideias: “ter em devida conta o superior interesse nacional, face à dramática situação em que o País se encontra.” Isto é, a decisão do Presidente relativamente ao regime jurídico do casamento é condicionada pela crise económico-financeira que vivemos.

Diz o nosso Presidente:

“Como Presidente da República não posso deixar de ter presente os milhares de Portugueses que não têm emprego, o agravamento das situações de pobreza, a situação que o País enfrenta devido ao elevado endividamento externo e outras dificuldades que temos de ultrapassar”.

E, pergunto eu:

Mas o que é que o desemprego, a pobreza e o endividamento externo têm que ver com o regime jurídico do casamento?

 Mais uma vez, não sei como classificar tudo isto. Será trágico? Será cómico?

 Enfim, perante toda esta trapalhada, subscrevo as palavras de despedida do Senhor Presidente na partida do Papa:

“peço-Vos que tenhais sempre no Vosso espírito e nas Vossas orações, Portugal e os Portugueses”.

Nós bem precisamos!..

6 pensamentos sobre “A Tragicomédia de Belém

  1. “Mas o que é que o desemprego, a pobreza e o endividamento externo têm que ver com o regime jurídico do casamento?”

    Durante meses (ou anos) os opositores do casamento homossexual andaram a dizer “com a crise que o pais está, não devíamos estar a perder tempo com esses assuntos” (exemplo; penso que não reclamaram na altura

  2. Excelente lembrança, a do Miguel Madeira.

    No tal post, pode-se ler o seguinte:

    “Alguém me explique em que é que a aprovação de um projecto que anula uma expressão na lei do casamento atrasa o combate à crise económica. A verdade é que o argumento da crise é de uma enorme preguiça intelectual e de uma razoável demagogia.”

    E conclui:
    “Por isso, talvez fosse melhor abandonar este recurso pouco sério à crise económica e assumir que, sendo contra ou a favor, se dá prioridade ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.”

    Pergunto eu: será que o nosso Presidente também foi “arrastado”? Será que o Senhor Presidente anda a recorrer a argumentos “pouco sérios”? Ou, será que o Senhor Presidente, no fundo, “dá prioridade ao casamento entre pessoas do mesmo sexo”?

    Entre as alternativas, venha o Diabo e escolha…

  3. sovisto

    Oh pa! Deixa la os gays casarem-se! Antes desta novela foi a novela do Aborto! E que todos os anos e em todos os actos eleitorais tinhamos de levar com esse tipo de promessas e mais o tempo que os nossos execelentes deputados perdem na assembleia a discutir tais assuntos de importancia menor!
    Quando temos problemas estruturais graves na nossa economia, saude, ensino, justica, etc!
    E mto mais importante para mim que se discutam coisas serias e que afectam todos os portugueses desta geracao e das geracoes vindouras do que a lei que permite o ze casar com o joaquim e a maria com a joaquina.
    Claro que isto nao fica por aqui…. Agora o governo e o BE pra distrairem o povinho da crise que nos assola vai comecar a falar da adopcao por parte dos gays que ja se podem casar. E esperar pra ver…

  4. Skedsen

    Hipocrisia política será pouco. Isto é mais do que conspiração contra a família e os seus valores, é a destruição lenta e inexorável da família, legitimada por interesses obscuros aos quais nem o actual presidente da república escapa. Nas próximas eleições não se esqueçam de voltar a pôr lá os do costume, não que a questão política por si só vá resolver os problemas, mas que é necessário começar por aí é. E isto não está a ser bem entendido…

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