O Governo finge que existe

Há uns dias, e depois de vários meses que os “passistas” passaram a avisar para o perigo do “regresso” do “Bloco Central” com Manuela Ferreira Leite, o seu “chefe” (o “jovem” que tudo ia “mudar” e fazer “verdadeira oposição”) foi a um beija-mão ao Sr. Primeiro-Ministro, garantir-lhe que o PSD iria ficar caladinho nos próximos tempos, enquanto o PS finge que resolve os problemas e, na realidade, os deixa tornarem-se cada vez mais graves. O Primeiro-Ministro, claro, agradeceu, e o país, como de costume, pagará caro.

As novas medidas “restritivas” da atribuição do subsídio de desemprego são um bom (salvo seja) exemplo desse preço. Essas medidas até parecem um bom exemplo de saudável pensamento económico: se o Estado pagar menos subsídio de desemprego aos desempregados, estes terão menos incentivos para continuarem desempregados. Mas, mais do que uma demonstração de inteligência e bom senso dos responsáveis socialistas, esta medida mostra apenas o quão intelectualmente cromagnon é o Governo.

Ao contrário do que Sócrates e os seus meninos (com o silencioso beneplácito de Passos Coelho e o seu malcriado guru Nogueira Leite), não consta que o problema do desemprego em Portugal se deva a uma chusma de preguiçosos que ficam sentados a sugarem os contribuintes enquanto os empregos florescem no mercado de trabalho. Pelo contrário. Os dois grandes problemas do desemprego devem-se, por um lado, à morte de certas actividades que, pura e simplesmente deixaram de ser rentáveis, e que lançam no desemprego uma série de pessoas que nunca de lá sairão, e por outro, à falta de flexibilidade do mercado de trabalho: é difícil despedir, o que faz com que seja difícil contratar, o que faz com que o problema do desemprego não seja um problema de falta de procura por parte dos desempregados, mas essencialmente de oferta de empregos.

Ser menos “generoso” na atribuição dos subsídios de desemprego, nestas circunstâncias, pouco ou nada fará para resolver o problema, pela simples razão de que o problema não está aí. Com tais medidas, o Governo (e Passos Coelho) apenas deixarão desempregados de longo prazo, que, devido à rigidez do mercado de trabalho, terão dificuldade em arranjar emprego por muito que o procurem, em maiores dificuldades. Como de costume, na sua ânsia de se mostrar “activo” e “actuante” (“in the parlance of our times”) perante a crise, Sócrates deixa imaculados os verdadeiros problemas, e cria outros como se o país já não tivesse os suficientes. Como se estas pérolas de “sensibilidade social” (algo que o PS sempre disse apreciar bastante, mas de que se esquece regularmente) não fossem suficientes, o Governo insiste (com protestos envergonhados do PSD) na necessidade de esbanjar dinheiro no TGV e restantes obras de “investimento público” (que, quando convém, são “de capital privado”. O “melhor” de dois mundos, portanto). O que mostra bem como não é só o TGV que precisa de ser suspenso, mas o próprio Governo (e a oposição) que deveria ser convenientemente dinamitado, antes que seja todo o país a rebentar.

6 pensamentos sobre “O Governo finge que existe

  1. António Barreto

    Parabéns. É esse um dos grandes bloqueios económicos do País que nos ajudou a trazer ao abismo. Os tristes desempregados – cuidado que pode tocar a todos nós – verão inexorávelmente reduzidas as prestações do FD, mas, no seu íntimo, confortar-se-ão com a “avançada” legislação laboral que temos. Mas há solução: obrigar as empresas a pagar aos trabalhadores uma indemnização de que possam viver tranquilamente o resto da vida!

    O Bloqueio político que se estabeleceu em Portugal, é o pai de todos os bloqueios.

  2. Pável Rodrigues

    No meu entender, o jotinha PC está convencido de que, mantendo uma atitude colaborante com PS, poderá reclamar para si o direito a governar quando este se afundar. Pensa ele e os seus ilustres apaniguados que então bastará declarar que eles não tiveram culpa nenhuma no sucedido. Que em nome do supremo interesse da Nação não colocaram qualquer entrave aos planos do primeiro Ministro, e que se as coisas correram mal foi porque eles, os socratinos, não foram competentes, etc etc.

    Entretanto, enquanto o pau vai e vem, o plano dos jotinhas vai fazendo o seu caminho e as sondagens começaram já a dar-lhes a maioria. Eles têm-se esforçado por ganhar a confiança da tropa de choque dos socialistas, prometendo um futuro risonho aos subsídio-dependentes e outros indigentes que garantiram a maioria a Sócrates nos últimos actos eleitorais.

    Mas o tiro vai-lhes sair pela culatra e mais uma vez quem pagará a factura seremos todos nós. Porque, ou se criavam desde já as condições que nos permitiriam enfrentar esta crise no âmbito da Europa/FMI, ou então, desperdiçada essa oportunidade, fora do Euro, as coisas irão ficar mesmo feias e as regras do jogo não mais serão as mesmas.
    E assim, o jotinha PC e o seu putativo Miministro das Finanças, o tio Nogueira Leite, poderão esperar sentados que o poder não lhes caiará do céu.

  3. Duarte Fariaa

    Será que não há uma alma que se aperceba que há momentos para tudo, e neste momento os nossos gastos têm de ser moderados?
    Haver, deve haver muitas…
    Resta saber quais são os bolsos que ficam vazios…

    Não me admirava ver o Estado a negociar os limites de crédito com a Cofidis ou do género…

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