Ainda não dando por encerrado, por mais uns minutos, o assunto Inês de Medeiros, e agora que terminou – favorecendo a senhora deputada e desfavorecendo os contribuintes – queria escrever aqui umas linhas sobre o nível de sub-húmus da nossa democracia, algo que se pode avaliar em episódios como este.
Começando pelas incríveis palavras de Jaime Gama, artilhado de pareceres jurídicos (que, sinceramente, me interessam bastante menos do que a (in)justiça da decisão), sobre a não-produção de jurisprudência. Ora ou a decisão para as viagens de Inês de Medeiros está de acordo com a legalidade e, logo, deverá ser seguida em todos os casos de todos os deputados em circunstâncias semlhantes; ou a decisão relativa a Inês de Medeiros é arbitrária e nada tem a ver com a legalidade e Jaime Gama já está a avisar que favoreceu Medeiros mas, se lhe apetecer ou o eventual futuro deputado não for do PS, noutro caso decidirá de forma diferente. Como se aceita com passividade o reconhecimento pela segunda figura do país que está a favorecer alguém arbitrariamente? Como não se exige que o senhor renuncie de imediato à presidência da AR?
A questão da morada também me faz cócigas. Inês de Medeiros declarou – e o PS deixou que declarasse – como morada da sua residência uma morada lisboeta, sendo que é sabido que reside em Paris. A candidatura de Medeiros à AR começou, portanto, com uma mentira. Estas manigâncias e a forma como toda a gente as considera normais, desde logo, incomodam-me. No entanto incomoda-me ainda mais que se aceite pagar viagens a uma deputada que mentiu sobre a sua residência para efeitos de candidatura. Que Jaime Gama decida pelo pagamento das viagens (mesmo sem avisos de que é uma decisão só para Inês de Medeiros), depois do que se escreveu sobre esta possibilidade, revela como os nossos eleitos nos consideram imbecis (e com razão, reconheça-se, porque votamos neles).
E esta discrepância de moradas leva-me aos escândalos do ano passado na Grã-Bretanha com as despesas dos deputados, que evidencia uma maior discrepância com o grau de exigência para com quem elegemos e decide umas coisas sobre o dinheiro que o Estado nos faz o favor de subtrair. Em terras de sua magestade, não me recordo de nenhum MP que dissesse que residia onde não residia, mas houve casos – e foram noticiados e tiveram consequências – em que, para receberem mais dinheiro, se declarava ao Parlamento como residência principal a do círculo eleitoral e ao fisco a residência londrina. Os britânicos enraiveceram-se e não aceitaram o que se passava; nós comentamos placidamente ‘é sempre a mesma coisa’. Mas não vale a pena comparar uma democracia com uma contrafacção de má qualidade.
O povo que aceita com naturalidade estes truques e manigâncias, merece mil vezes a canga.
Absolutamente de acordo. Fazem deste país uma pocilga e tratam-nos como uns imbecis, o que só acontece porque o permitimos. Mais ainda, e como disse a Maria João, não só o aceitamos passivamente como ainda votamos nestes individuos (sondagens recentes dão nova vitória ao PS) mostrando até que ponto chegou a boçalidade parola do português comum
“Inês de Medeiros declarou – e o PS deixou que declarasse – como morada da sua residência uma morada lisboeta, sendo que é sabido que reside em Paris. A candidatura de Medeiros à AR começou, portanto, com uma mentira” – Isto sim é mentira…
E incomoda o facto de não pararem de argumentar sobre um assunto que pouco interessa, tendo isto por base.
‘E incomoda o facto de não pararem de argumentar sobre um assunto que pouco interessa, tendo isto por base’. DC, cada um incomoda-se com o que entende. E enquanto o meu dinheiro continuar a sustentar o estado, eu incomodo-me se este for mal gasto. Também me incomodo com a falta de seriedade e respeito pelos eleitores que têm os eleitos. Se o DC se incomoda com o que eu escrevo, não me leia; afinal não é o dinheiro do DC (supondo que é uma pessoa) que me sustenta.
‘Isto sim é mentira…’ Não, não é. IM, vivendo em Paris, declarou uma morada de residência lisboeta para efeitos de candidatura.
Sou uma pessoa e estou bem muito obrigado.
“Envio em anexo os documentos que provam que nunca recorri a qualquer tipo de “estratagema” (…)Como se pode verificar na “Declaração de Aceitação de Candidatura a Deputada à Assembleia da República” e “Ficha de Dados Pessoais das Legislativas 2009″ declarei Paris como residência e não Lisboa”. Inês Medeiros (30/03/2010)
MJM, apesar de já não ter em grande conta a deputada, acha que ela seria capaz de referir e enviar aqueles documentos se lá não constasse, efectivamente, Paris? Por que razão insiste em deturpar este facto? Todas as restantes considerações estão feridas à partida…
E se realmente está tão preocupada com o que fazem com “o seu dinheiro”, por que razão nunca a vi insurgir-se, por exemplo contra os biliões de “ajudas” ao sector financeiro:
http://ladroesdebicicletas.blogspot.com/2010/03/onde-ir-buscar-recursos-para.html
DC, baseio-me nas inúmeras notícias que afirmam ter sido declarada uma morada de Sta. Catarina, em Lisboa. Inventaram de todo?
As inumeras noticias são citações uns dos outros, e mentiras sim senhora.
Espreite http://www.scribd.com/doc/29244301/DigC0006
E os documentos entregues por Ines de Medeiros e pelo PS em nenhum consta Lisboa, é fantástico que se citem documentos que ninguém viu e os existentes sejam sonegados apenas porque invalidam uma mentira demasiado boa para desperdiçar.
É uma chatisse a verdade não corresponder à invencão, mas que se lixe, publique-se a mentira que é bem mais sumarenta
Bom post!