Eleições do PSD – o epílogo (se ainda venho a tempo)

Não há como negar: o PSD caiu aos pés de Passos Coelho ao som de trombetas. E se o aparelhismo e o caciquismo foram fundamentais para a vitória, a dimensão da votação em PPC foi além dos votos sindicados. Poderá talvez falar-se de dois PSD sociologicamente diferentes que se expressaram ora em votações em Paulo Rangel ou em Pedro Passos Coelho (Rangel ganhou a cidade do Porto e as secções das zonas nobres de Lisboa), mas não se pode, com honestidade, afirmar que só ‘os do aparelho’ e os que dependem dos cargos comandados pelo aparelho votaram em PPC (ainda que esses tenham em votado em PPC). Tanto mais que, a crer nas sondagens realizadas (que não acertaram nos números mas acertaram nas posições relativas dos candidatos), se PPC se candidatasse ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa, este último ganharia.

Também não há como negar: o passismo é uma coisa funesta.

O líder é inconsistente – mesmo o discurso lógico que apela ao Ricardo é desmentido por antecipação: PPC defendeu que o PSD devia votar contra o OE de 2010, mas votou favoravelmente a viabilização do orçamento pelo PSD em Conselho Nacional – e é capaz de deslealdade e de cinismo – e se, mesmo discordando, posso admitir que PPC agisse em consciência sendo desleal para com a direcção do PSD antes de eleições, por considerar que o que esta defendia era tão errado que preferia que o PSD perdesse as eleições com tal programa (sendo que o tempo veio dar razão a MFL em tudo, mas enfim…), já me custa mais digerir o cinismo das palavras que PPC dirigiu no último congresso a MFL ou a trôpega tentativa de reconciliação com Jardim.

Por outro lado, os passistas eminentes são personagens de arrepiar. Desde o aparelhista-mor Marco António Costa até ao grupo que na internet se dedicou a insultar e até ameaçar quem ousasse criticar Pedro Passos Coelho – do qual se linkaram exemplos, sendo, contudo, mal disseminado em abundância pelo twitter e até em blogues partilhados com gente respeitável – têm-se replicado os piores comportamentos do socratismo e faz adivinhar (caso o poder seja alcançado) uma nova geração de abrantes. Não bastando,  Nogueira Leite fez saber que já tem estratégia para lidar com os comentadores problemáticos, dando-se assim continuidade à falta de respeito socrática pela liberdade de expressão e opinião alheia quando esta nos é desfavorável e antevendo-se uma reedição de Pedro Silva Pereira ou de Augusto Santos Silva em versão de maioria absoluta.

Por fim, o passismo começa a dar ideia de uma coisa em que o líder dá uma imagem de unidade, sensatez, moderação e os seus apoiantes realizam o trabalho sujo que o líder não pode ser visto fazendo. Um exemplo, já de depois das directas? Enquanto PPC fala de unidade, o ‘terrível Ângelo Correia’ já veio dar voz a avisos ao Presidente da República e a Fernando Seara e outros dedicam-se, prestando-se a figuras ridículas, à produção de bílis sempre que associada ao nome de Pacheco Pereira.

Se, quanto à capacidade de cinismo e de deslealdade, ela existe e nada se pode fazer, já quanto à inconsistência PPC pode melhorar; veremos como se vai comportar quando as decisões do PSD face ao PS e ao governo forem as suas. Também pode PPC escolher se vai tentar que as pessoas esqueçam que o passismo é/foi uma realidade funesta ou se vai assumir que temos novo tiranete socrático. O congresso electivo vem aí e veremos quem será a equipa de PPC; se se remeterão aos seus lugares Marcos Antónios e afins (afinal há dois anos foi com um sorriso amarelo que se receberam estes apoios e até houve alívio com o sisma nas listas do congresso, e desta vez a vitória foi maior do que os aparelhistas) ou se se sente PPC obrigado a pagar os apoios; se se escolhem os abrantes wannabe ou se estes ficam confinados à blogosfera, ao fecebook e ao twitter.

2 pensamentos sobre “Eleições do PSD – o epílogo (se ainda venho a tempo)

  1. JS

    Em vez de “Passismo” não seria melhor “Coelhismo” ?
    Vamos julgar o coelho, perdão, pudim pelo gosto (amargo ou doce) que a seu tempo venha a ter.
    Adivinhavam qual seria o sabor “Socrates” antes do espetáculo da sua administração? Sra. D. MJM: esperemos pelo menos pelo fim do 1º acto PPC.
    Um bocadinho de benefício da dúvida? Pior que o incumbente será difícil.

  2. Lusitânea

    Não sendo do PSD não tinha aqui comentado embora tenha sérias reservas relativamente ao Coelhismo mercê do seu passado.Infelizmente meste país quem mais parte mais ganha, até um dia… mas como o Miguel Abrantes embandeirou em arco aqui fica a minha solidariedade

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