A crise financeira, quando chegou em 2007 foi para todos. Fruto de também todos partilharmos, em menor ou maior escala, o modelo de crescimento de “fuga para a frente”, ou consumirmos o que não temos recorrendo para isso à impressora de notas seja do BCE, da FED ou de qualquer outro banco central dito “moderno”. A diferente de escala de gravidade que afectou os vários países depende, na maior parte, de vários factores:
1) A quantidade de crédito criado, tanto directamente pelo Estado como pelas instituições bancárias patrocinadas por este.
2) A forma como o crédito criado foi alocado (se para consumir ou para investir)
3) As relações comerciais que se tinham com os países mencionados em 1) visto que as exportações para esses países sofrem mesmo que o país de origem tivesse uma expansão de crédito “conservadora”.
Dito isto, não espanta que os países mais afectados tenham sido os EUA e o Reino Unido. Mas também não é segredo nenhum que a Irlanda sofreu a bom sofrer no 2º semestre de 2008. Outros países como Portugal, Espanha e Grécia têm os seus problemas, muitos deles antigos e que a crise apenas veio dar maior visibilidade.
Há no entanto diferenças na forma de agir que devem ser observadas. A Irlanda, logo em 2008, quando se viu confrontada com um cenário muito negro decidiu agir. Em Portugal, Espanha e Grécia continua-se a brincar ao “faz de conta”, sem reacção, à espera que tudo se desmorone para que mais tarde a comissão europeia ou o FMI nos digam o que devemos fazer para sairmos da embrulhada monumental em que nos encontramos. Enquanto em Portugal o Orçamento de Estado serve para negociatas ridículas que em nada alteram a situação do país no essencial, na Irlanda foram tomadas medidas para reduzir a despesa pública e voltar a um crescimento saudável.
As pessoas olham para ambos os modelos e avaliam. Um sub-conjunto dessas pessoas, que não são pagas para aparecer na televisão e nos jornais a dizer baboseiras, mas que recebem conforme a sua opinião está certa ou errada, decidem “meter o dinheiro onde está a boca” e a forma de vermos realmente o que pensam essas pessoas é olharmos para os vários mercados de dívida.
A primeira vez que aqui coloquei este gráfico foi para alertar para a mudança de tendência na dívida grega. Quando apresentei o gráfico foi menosprezada a Irlanda (que continua numa situação delicada certamente, os problemas não se resolvem da noite para o dia) por um leitor enquanto outro equiparou o meu alerta a “ler o futuros nas entranhas dos pássaros”.
Passados dois meses o meu alerta sobre a Grécia mostrou-se bastante certeiro: o spread mais do que duplicou dos 162 pontos na altura para os mais de 340 de hoje. A Grécia paga hoje os juros mais altos pela sua dívida desde que foi fundado o euro em 1999. A dívida a 10 anos “paga” hoje 6,7%.
Mas a actualização deste gráfico, coincidindo com a publicação do nosso Orçamento de Estado para 2010, revela mais dois pontos que considero relevantes:
1) A Irlanda continua com uma tendência descendente. Apesar de pagar ainda muito pela sua dívida a situação é mais estável do que a de outros países e com tendência para o custo descer.
2) Portugal e Espanha ameaçam, tal como a Grécia em Novembro, inverter a tendência que vinha desde Março o que, a confirmar-se, se traduzirá num aumento substancial no custo da nova dívida.
E assim podemos ver a diferença entre duas maneiras de agir: Aqueles que agem para resolver os problemas ganham estabilidade financeira, aqueles que brincam aos governantes ganham dores de cabeça. A este ritmo não será de espantar que lá para o verão este gráfico já esteja invertido com Portugal e Espanha acima da Irlanda… certamente uma boa arma de arremesso para as próximas campanhas eleitorais para podermos todos a continuar a não fazer nada até ao dia que tenhamos de chamar o “papá FMI”.
Se nos despacharmos pode ser que o FMI ainda tenha dinheiro para nos dar nessa altura.
Hoje, intraday, foi o primeiro dia em que o CDS de portugal tradou acima do da Irlanda. Do seu ponto mais alto, o spread entre os dois nomes comprimiu mais de 272 pontos, 2.72%…
Neste momento o CDS de portugal trada a niveis interessantes, temos como pares o Paraguay, o Mexico, etc e tal, ou seja, os paises em via de desenvolvimento…
Nunca um governo governou tao mal, nunca se destruiu tanta riqueza.
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