A corrupção e os défices públicos são cancros que minam as sociedades. Portugal padece deste mal há muito, há tanto tempo que foi corroendo, corroeu de forma definitiva, a nossa auto-estima. Mas analisemos outro país, noutro tempo. Recuemos ao reinado de Carlos V, na nossa vizinha Espanha. Aquele Imperador era o grande da Europa. Tinha a Flandres, os Países Baixos, reinava em Espanha, em Nápoles, na Sicília e era o senhor do Sacro Império Romano. Tinha tudo, demasiados encargos, muitas despesas e precisava de muito dinheiro. Endividou-se, melhor, endividou a Espanha, principalmente Castela cujas cortes não tinham a força das do Reino de Aragão, e deixou uma pesada herança ao seu filho Filipe.
Carlos tinha a noção dos perigos que corria. Precisava de cada vez mais dinheiro para fazer frente à despesa sempre maior que as piores expectativas. Contraiu empréstimos junto dos banqueiros alemães e genoveses, de tal forma que o ouro e a prata que vinham da América serviam para pagar juros, primeiro, e as despesas, depois. Ficou preso à dívida estrangeira, cada vez mais rigorosa porque cada vez havia menos dinheiro, o que liquidou a possibilidade de qualquer reforma das finanças públicas que tanto desejava. Apesar de poderoso, talvez por ser tão poderoso, viveu ao sabor das tormentas, dos percalços e dos buracos orçamentais que iam surgindo. Tornou-se mais vantajoso viver da dívida que investir capital na indústria ou na agricultura.
Para centralizar o poder na sua pessoa, desconfiou da alta nobreza e apostou em homens de origens, embora nobres, sempre humildes. Burocratas como Francisco de los Cobos, prontos a servi-lo, que não tinham ideias, não pensavam pela sua cabeça, alheios às correntes de pensamento que então corriam pela Europa, mas que enriqueceram à conta dos favores que prestaram, das cunhas que deram e das penas e multas que perdoaram. A corrupção alastrou, os mais ricos e poderosos ficaram isentos do pagamento de impostos. A desigualdade social e territorial agravou-se. Castela financiou a Espanha, o sul castelhano pagou bem mais que o norte, pois no corrupio de sacar dinheiro, deixou de se olhar a meios.
Avancemos agora para o século XXI e aterremos em Portugal. Deparamos com o estado endividado e a precisar de receitas. Um governo que não consegue descer a despesa pública, pois há muita gente que beneficia com o défice. Uma parte da sociedade está protegida, tem o futuro garantido, ao contrário da outra que sente a insegurança no trabalho e que até, por vezes, quanto mais trabalha, mais paga.
Com o processo ‘Face Oculta’, discutimos o significado de uma alínea do número de um artigo de um código de processo penal. Andamos à nora, a tapar buracos, a puxar uma manta de retalhos que não cobre a totalidade da cama, deixando sempre um bocado de fora. O país está perdido e perdido não vislumbra soluções. Não aceita que a corrupção se reduz com o fim da tentação, com a privatização das empresas públicas, o fim da intromissão do poder político na gestão das empresas privadas. Para que os que têm mérito vinguem, os laços políticos percam importância e larguemos as amarras que nos prendem ao passado estatista que nos limita. Para que tal aconteça muitos terão de perder demasiado.
A Espanha de Carlos V foi definhando até se tornar irrelevante. Nós já definhamos há muito, mas o poço que estamos a cavar espanta-nos com a profundidade que tem.
Nós estamos na bancarrota mas os espanhóis não estão melhores que nós.
Aliás é bem possível o estouro da Espanha no próximo ano se os Bancos não aceitarem mais dívida para pagar a de curto prazo deste ano…
Quanto à solução para o País, só com uma nova Constituição
A realidade pantanosa
zelosamente defendida,
por gentalha luminosa
com a cabeça perdida.
É tal a competência
dos almeidas zelosos,
revelando a latência
de favores dolosos.
No meio da patuscada
e de negócios sucateiros
ficou gente chamuscada
por vícios batoteiros.
Nós já definhamos há muito, mas o poço que estamos a cavar espanta-nos com a profundidade que tem. – AAA
O problema é que a receita “quanto pior, melhor” não funciona: já vimos quanto mais a economia definhar, maior é a probabilidade de continuação das políticas socialistas. Em termos de análise política, o PS ganhou as eleições porque o eleitorado, embora reconhecendo a crise, teve medo de que Ferreira Leite lhe retirasse os benefícios sociais. Donde, estou como o Medina Carreira: concordo com o diagnóstico, mas não tenho nenhuma esperança.
A economia ainda está longe de bater no fundo. Isso só acontecerá quando os 20% ou mais de empregos que estão dependentes do endividamento acabarem e ou quando o Estado começar a pagar em promessas(tipo Califórnia) porque não tem dinheiro. Quando quem emprestar dinheiro disser “alto e pára o baile” aí é que começam os problemas, até lá caminhamos alegremente. Aliás com os juros baixos e inflação a zero ou negativa(isto acreditando nos números) e muitos empréstimos pedidos neste ano nunca estivemos tão bem dopados. Mais tarde virão os problemas de “saúde” e a morte prematura.