Imagino que esta lacónica notícia acerca do falecimento de Jorge Sá Borges tenha despertado parco interesse para quem não viveu o periodo pós-revolucionário em Portugal. Sá Borges foi nesse periodo destacado dirigente do PPD. Primeiro aliado e depois feroz opositor de Sá Carneiro. Isto recordou-me os dois excelentes volumes intitulados “A Revolução e o Nascimento do PPD” de Marcelo Rebelo de Sousa. Não posso pois deixar de sorrir ao ler o que hoje se escreve acerca da imperiosa necessidade de a qualquer custo se alcançar a “unidade interna”. Igualmente hilariamente são os que mais à direita ou mais à esquerda criticam o pretenso “desvio liberal” do PSD que, supostamente, estaria a renegar uma pretensa “herança social-democrata”. A verdade é que Sá Carneiro nunca foi propriamente consensual ou conciliatório. As suas irredutíveis convicções provocaram graves cisões e valeram-lhe inúmeras acusações de “ditador” para baixo. E já nem falo o que dele dizia ou das campanhas difamatórias que lhe moveram Soares e o PS. Para além de ter uma visão clara do que pretendia, Sá Carneiro nunca pactou com os que pretendiam subalternizar o PSD a Eanes ou colá-lo ao PS para tentar garantir votos. Apostou na ruptura com o “status quo” e, para além de inúmeros dissabores, foi isso que lhe valeu a vitória da AD e a memória que dele perdura. Seria extremamente útil que alguns comentadores lessem a obra de Marcelo Rebelo de Sousa. Incluindo o autor.
Nota: Apesar do título, este post acaba por ser mais sobre Sá Carneiro do que sobre Jorge Sá Borges sobre o qual escassa informação biografica consegui encontrar. Seria de esperar que os jornais fizessem algo mais que copiar ipsis verbis o que escreveram as agências notíciosas. Apesar de há muito esquecido, Sá Borges foi um personagem importante numa importantissima fase do passado recente. Merecia (e mereciamos) algo mais. Uma rara (apesar de curta excepção) é este post de Medeiros Ferreira.
Muito Obrigada pelas suas palavras sobre o meu pai. O meu pai dedicou grande parte da sua vida à causa política em que acreditava, fazendo-o muitas vezes em detrimento da sua vida pessoal e familiar. Foi sobretudo um homem honesto consigo e com os seus ideais. Num dia como o de hoje, em que vou levar as suas cinzas para o cemitério, são palavras como as suas, como as do Dr. Medeiros Ferreira, e como as de mais alguns, que me são alento e me dão a certeza que tudo o que ele fez não foi em vão.
Obrigada mais uma vez,
Margarida Sá Borges
Lamento a morte do seu pai e não tem nada que agradecer.