A intervenção dos bancos centrais sobre os juros, mantendo-os artificialmente baixos, tem um efeito perverso: dinheiro barato. Com um duplo impacto. Por um lado, penaliza-se quem queira aforrar, e beneficia-se quem se endivida.
O dinheiro artificialmente barato estimula a especulação, provocando bolhas, mais visíveis nos mercados regulamentados, mas também favorecendo a inelasticidade dos preços no imobiliário. Em Portugal, por exemplo, não houve correcções significativas nos preços do imobiliário, que permanece inflaccionado em alguns segmentos, de uma forma que parcialmente se justifica no facto de não haver uma adequada correcção do preço do dinheiro.
Obviamente, quando houver problemas no futuro, vamos ouvir que a culpa é dos “gananciosos” e do “mau funcionamento do mercado”, e da “falência do neoliberalismo”…
“A intervenção dos bancos centrais sobre os juros, mantendo-os artificialmente baixos”
Qual seria então o valor correcto, não artificial? E porquê?
Luis,
Já ouviu falar em livre flutuação das taxas de juro?
“Já ouviu falar em livre flutuação das taxas de juro?”
Já ouviu falar do euro?
“Qual seria então o valor correcto, não artificial? E porquê?”
Isto é uma pergunta sem resposta obviamente. Imaginemos hoje que o Governo decretava que o preço de 1Kg de pão era 1 Euro. Parece-me que podemos todos concordar que é um preço artificial.
A seguir o Luís pode vir perguntar: “Qual seria então o valor correcto, não artificial? E porquê?”
Ao que ninguém lhe saberá responder. Teremos que remover o preço artificial introduzido pelo Estado e deixar o mercado decidir.
“Teremos que remover o preço artificial introduzido pelo Estado e deixar o mercado decidir.”
Como? Saíndo do euro??
O que é que tem uma coisa a ver com outra? Os EUA não têm euros e também existe manipulação da taxa de juro.
Basta que o BCE não interfira no mercado para que haja uma taxa de juro de mercado, claro que um banco central que não interfira nas taxas de juro não tem nenhuma razão de existir no sistema bancário “moderno” mas isso é outra história.
Não convém é misturar uma coisa com a outra. O USD existe tem quase 300 anos e o banco central nas terras do Tio Sam tem menos de 100.
“Os EUA não têm euros”
…
“um banco central que não interfira nas taxas de juro não tem nenhuma razão de existir”
Pois. Portanto não percebo nada desta conversa.
Voltando atrás: se ninguém sabe qual seria a taxa de juro fixada pelo mercado, como é uqe o RAF sabe que está artificialmente baixa? Não estará antes alta?
“Voltando atrás: se ninguém sabe qual seria a taxa de juro fixada pelo mercado, como é uqe o RAF sabe que está artificialmente baixa? Não estará antes alta?”
Porque ao contrário do exemplo de que eu dei do pão o BCE não estipula a taxa de juro por decreto mas sim afectando a procura/oferta do “produto dinheiro”.
O que é a taxa de juro?
A taxa de juro é o preço da commoditie “tempo”. Eu quero gastar 1000 euros agora que não tenho, terei que encontrar alguém disposto a emprestar-me durante (por exemplo) um ano e depois devolver. Quanto custa este ano? 3, 4 ou 5 por cento… aquilo que acordar com a terceira parte.
O que afecta a taxa de juro?
A quantidade de dinheiro disponível do lado da oferta, a vontade de investir e/ou consumir do lado da procura. Quanto mais aforradores houverem dispostos a emprestar dinheiro mais baixa tenderá a ser a taxa de juro. Quantas mais pessoas quiserem pedir emprestado maior será a taxa de juro.
Porque é que a taxa de juro seria mais alta do que é agora se fosse determinada pelo mercado?
Porque o BCE só afecta a curva da procura/oferta por um lado: o de criar mais dinheiro. Como mencionado acima mais dinheiro disponível equivale a uma menor taxa de juro.
Se compararmos com o exemplo do pão seria como se em vez do Estado decretar que 1Kg=1EUR o Estado começaria a “imprimir” pães em quantidade suficiente para que o pão não superasse o valor desejado. Obviamente isso requer recursos (e.g. farinha) o que torna a situação muito complicada. Criar dinheiro hoje faz-se acrescentando zeros numa qualquer plataforma informática.
Nota: Eu estou a simplificar muito o processo para tentar passar a informação de uma forma clara. Existiam antes do banco central vários sistemas de reserva fraccional, em ambos os lados do atlântico, que fazem com que as taxas de juro baixem artificialmente.
Portanto, qualquer que seja o valor estabelecido pelo BCE, esse valor será sempre “artificialmente baixo”. Porque o BCE imprime dinheiro. Já entendi.
“se ninguém sabe qual seria a taxa de juro fixada pelo mercado, como é uqe o RAF sabe que está artificialmente baixa? Não estará antes alta?”
Claro, que estupidez Luis, é óbvio que está alta; obrigado por me alertar para isso; aliás, seguindo o raciocínio do Luis, os bancos centrais deviam pagar para me emprestarem dinheiro, tipo, uma remuneração negativa de 0,25%. Também não me importo que me emprestem dinheiro de graça, tipo remuneração 0. É que estamos lá quase…
“Portanto, qualquer que seja o valor estabelecido pelo BCE, esse valor será sempre “artificialmente baixo”. Porque o BCE imprime dinheiro. Já entendi.”
Não parece que entendeu.
RAF, diga lá então uma ocasião em que os juros do BCE não tenham estado “artificialmente baixos”.
“Não parece que entendeu”
A inflacção é 2% ao ano praí => todos os anos o BCE imprime dinheiro => excesso de oferta monetária => juros artificialmente baixos sempre.
Não é isto?
Extendo-lhe também a oportunidade para referir a última vez em que os juros estiveram “artificialmente elevados”.
“A inflacção é 2% ao ano praí => todos os anos o BCE imprime dinheiro => excesso de oferta monetária => juros artificialmente baixos sempre.”
A inflação que se refere é na realidade a subida dos índices de preços ao consumidor. A velocidade a que o BCE infla a massa monetária é ligeiramente diferente (e mais elevada). Mas na realidade o fluxo é muito mais simples: Maior oferta de dinheiro -> Menores taxas de juro.
“Extendo-lhe também a oportunidade para referir a última vez em que os juros estiveram “artificialmente elevados”.”
O exemplo mais fácil de dar será o fim dos anos 70 e inicio dos 80 nos EUA em que a FED efectuou as operações inversar para remover dinheiro do mercado. Aproveito a oportunidade para dizer que os juros andarem em montanha russa de 18% para abaixo de 1% no espaço de uma geração é algo nunca antes testemunhado por qualquer economia desenvolvida. Fruto do nosso “maravilhoso” sistema monetário “moderno”. Não é irónico que os bancos centrais tenham sido implementados pelo poder politico sempre com a desculpa de dar estabilidade à economia?
Eu acho.
“Voltando atrás: se ninguém sabe qual seria a taxa de juro fixada pelo mercado, como é uqe o RAF sabe que está artificialmente baixa? Não estará antes alta?”
Luis Lavoura:
Ninguém sabe o que pode ser um preço natural num mercado não natural.
Mas na moeda sabemos algumas coisas:
A taxa de juro tende a ser artificialmente baixa na medida em que o investimento que procura crédito, consegue esse crédito (na medida em que o stock total de crédito aumenta) não porque tenta e consegue convencer aforradores a conceder crédito mas porque o sistema bancário cria a moeda.
QED
O ciclo costuma dar-se assim: depois de cada última recessão, onde a economia passou por uma fase restruturação com liquidação de activos, de o crédito bancário ter contraído, etc…após essa fase inicia-se um novo ciclo de expansão com taxa de juro artificialmente baixa com crescimento de crédito e moeda que suporta um investimento que não teve de competir por uma dada poupança prévia.
Se não teve de competir pela poupança, não exerceu assim pressão na taxa de juro oferecida para convencer aforradores. E racionalmente, todo o tipo de investidores tira partido dessa facilidade, que ela própria faz aumentar os preços e rentabilidade de bens de capital, imobiliário, acções… até que se forma uma bolha que rebenta… os balanços de bancos deterioram-se, os depositantes correm aos depósitos à ordem, a procura por moeda aumenta, os bancos centrais injectam moeda, os governos aplicam o keynesianismo, dificultam o ajustamento e prolongam o processo de ajustamento.
Mas algures no futuro, os ajustamentos estão já mais ou menos efectuados e inicia-se um novo ciclo.