“Ergenekon” (parte 1 e parte 2) de Fernando Gabriel (Diário Económico)
Istambul, simultaneamente cosmopolita e tradicionalista, é a melhor ilustração dos dilemas de identidade política da Turquia.
Das esplanadas dos moderníssimos cafés em Ortaköy, junto ao Bósforo, é possível apreciar em simultâneo a elegância neo-barroca da mesquita mandada erguer pelo sultão Abdülmecid e a enorme ponte que liga os continentes europeu e asiático, sempre sob a presença ubíqua da memória de Atatürk, não vá algum cidadão esquecer momentaneamente a felicidade que é ser turco. Mas o que significa “ser turco”?
Gosto da Turquia, mas só mesmo pelo turístico da coisa. Um país de assimetrias culturais e sociais, perdido na encruzilhada ocidentalizante de um Atatürk e de um conservadorismo que perpetua “barter marriages” (não sei tradução em Português) num constante lembrar passadista de que a laicidade ainda não tem valor de letra de lei. O que é ser turco? O reflexo humano de um país geograficamente confuso.